Um auxílio desmoralizante
Redação DM
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 21:39 | Atualizado há 8 anos
Quando o juiz Sérgio Moro ordenou o grampeamento dos telefones da presidência da República, os defensores do ex-presidente Lula podiam e deviam ter arguido suspeição do magistrado. Por que o grampeamento telefônico é medida ilegal. A defesa de Lula não fez a arguição e o juiz de tantas ligações como PSDB lavrou sentença condenatória contra o líder metalúrgico.
Além das suas afinidades políticas – recentemente reproduzi aqui neste espaço a fotografia em que ele e Aécio Neves aparecem juntos em pose de largos sorrisos – o magistrado paranaense revelou, com aquela arbitrariedade, o caráter de parcialidade da sua atuação na Lava Jato.
No começo deste mês uma revelação veio caracterizar outra faceta negativa desse juiz federal. Foi revelado pela imprensa que ele, embora senhor e possuidor de imóvel em Curitiba, faz parte da legião recebedora do chamado auxílio-moradia. Flagrado nessa ilegalidade, o juiz grampeador do telefone presidencial – fato que jamais aconteceria, verbi gratia, nos Estados Unidos – respondeu com a afirmação de que recebe auxílio-moradia por causa de não ter havido até agora reajuste do seu salário.
Inacreditável a justificativa. A magistratura no Brasil é muito bem remunerada, o que é justo. Grande parte dos magistrados brasileiros – Sérgio Moro entre eles – percebe o teto salarial do serviço público. Além disto, com relação a Moro, é de se evocar a renda familiar, pois sua esposa é alta funcionária do governo tucano do Paraná.
O auxílio-moradia é um dos símbolos nos dias atuais a degenerescência da política brasileira. Na última semana a Folha de São Paulo registrou: “ministros de Temer, todos ricos, recebem auxílio-moradia”. No texto da notícia o jornal paulista faz minucioso relato dessa absurdidade. Aliás, o ministério de Temer, já antes da posse dos seus integrantes, estarrecia o país com a evidência de que pelo menos sete deles figuram na relação de investigados da Lava Jato por prática de propinagem e outros delitos.
O golpismo veio, pois, a ter as suas vísceras expostas na órbita do Executivo. No plano do Legislativo – Câmara Federal e Senado – já de há muito se conheciam as mazelas de parlamentares. Já assinalei aqui que 286 dos 513 deputados federais têm contra eles ações penais em curso, sendo que 80 já estão condenados.
Voltando a Moro. Não há negar o caráter desmorolizante da percepção de auxílio-moradia – que ultrapassa a quatro mil reais de acréscimo salarial. Quanto a sua justificativa (inocorrência de reajuste salarial), é de se perguntar e os humildes servidores públicos, que não tem reajustes de vencimentos?
Para finalizar, esta pergunta: como estão e como ficarão as denúncias contra Romero Jucá (alvo de oito processos), Cássio Cunha Lima, Aécio Neves, Antônio Anastasia, Eduardo Cunha, Edison Lobão, Fernando Collor, José Sarney, Michel Temer, Renan Calheiros, Roseane Sarney, Valdir Raupp, Garibaldi Alves, Heráclito Fortes, Jader Barbalho e dezenas de outros?
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às sextas-feira. E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)