Opinião

Produto interno da felicidade

Redação DM

Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 23:41 | Atualizado há 7 anos

É mui­to nor­mal e na­tu­ral que as pes­so­as bus­quem to­das as for­mas e fon­tes de ale­gria, pra­zer e fe­li­ci­da­de. Em­bo­ra es­ses três es­ta­dos do cor­po, do es­pí­ri­to e da men­te não se­jam exa­ta­men­te igua­is, eles sem­pre têm pon­tos de in­ter­se­ção e são in­ter­cam­bi­á­veis. Bom é que se te­nha em men­te que ca­da um des­ses es­ta­dos de sa­tis­fa­ção é mui­to sub­je­ti­vo em sua in­ten­si­da­de, na­tu­re­za, du­ra­ção e cau­sas. Des­sa for­ma e com es­se con­cei­to tem-se co­mo cer­to que ca­da um tem os seus mo­de­los, ob­je­tos, com­por­ta­men­to e há­bi­tos que lhe pro­du­zi­rão ale­gria, fe­li­ci­da­de e pra­zer.

Uma pes­soa ale­gre, mo­men­ta­ne­a­men­te es­tá fe­liz. A fe­li­ci­da­de tam­bém não é um es­ta­do pe­re­ne. O pra­zer se mos­tra mui­to mais fu­gaz. Nes­sa re­la­xa­da di­gres­são se pre­ten­de mos­trar al­gu­mas cu­ri­o­si­da­des so­bre os três es­ta­dos de sa­tis­fa­ção.

Um in­di­ví­duo ale­gre de­mais po­de não ser mui­to bom. A ale­gria do cha­ma­do bo­bo ale­gre po­de tra­zer-lhe al­gum em­ba­ra­ço e o que é mes­mo de es­pan­tar, aler­gia. O ex­ces­so de ri­so e gar­ga­lha­das, em al­gu­mas pes­so­as pre­dis­pos­tas (ge­ne­ti­ca­men­te fa­lan­do) po­de tam­bém de­sen­ca­de­ar uma re­a­ção alér­gi­ca. Ale­gria e aler­gia. No­ta­ram a par­ti­cu­la­ri­da­de? Uma pa­la­vra é o ana­gra­ma da ou­tra. Mas, re­la­xem os gar­ga­lha­do­res, es­sa re­a­ção alér­gi­ca não ma­ta, pas­sa com an­ti­a­lér­gi­co via oral e cor­ti­coi­de tó­pi­co. E os gar­ga­lha­do­res ou de fá­cil ri­so po­dem sor­rir, à von­ta­de.

Quan­to ao pra­zer, tem si­do ele uma tô­ni­ca nos­sa. A so­ci­e­da­de tem se tor­na­do afei­ta ao con­su­mis­mo, em ter nes­sa fu­gaz sa­tis­fa­ção dos ins­tin­tos e do cor­po uma úni­ca fon­te de fe­li­ci­da­de. Não é e vol­ta­re­mos ao te­ma.

A fe­li­ci­da­de se de­fi­ne co­mo um es­ta­do de sa­tis­fa­ção de mai­or du­ra­ção. Não po­de ser per­ma­nen­te por­que se as­sim o fos­se a pes­soa que frui de tal con­di­ção ben­fa­ze­ja se aco­mo­da­ria (zo­na de con­for­to) e lo­go se en­te­di­a­ria e não sen­ti­ria mais fe­liz. Al­gu­mas cu­ri­o­si­da­des so­bre a fe­li­ci­da­de va­lem ser co­men­ta­das. E é o que se faz aqui.

No Bu­tão, pa­ís da Ásia Me­ri­dio­nal, foi ins­ti­tu­í­do, já há al­guns anos, o PIF, pro­du­to in­ter­no da fe­li­ci­da­de. O pa­ís em pri­mi­ti­vas eras, con­tam os his­to­ri­a­dos do­més­ti­cos, foi gran­de pro­du­tor de bu­ta­no, um com­bus­tí­vel na­tu­ral, daí a ori­gem do no­me, bu­ta­no, Bu­tão. O PIF dos bu­ta­nes­es se­ria uma es­pé­cie de PIB, pro­du­to in­ter­no bru­to. Só que no ca­so de lá, o PIF.

E não pen­sem os ago­ra in­for­ma­dos que o pa­ís te­nha um al­to PIB ma­te­ri­al. Lon­ge dis­to. A fe­li­ci­da­de ali (PIF) de­cor­re de ra­zões e va­lo­res ex­tre­ma­men­te abs­tra­tos e ima­te­ri­ais. Uma das ca­rac­te­rís­ti­cas dos bu­ta­nes­es é a ale­gria des­me­di­da. Ób­vio que vol­ta e meia che­gam nos pron­tos so­cor­ros cri­ses de aler­gia pe­lo ex­ces­so de ale­gria. Tal di­ag­nós­ti­co ocor­re em pes­so­as ge­ne­ti­ca­men­te pre­dis­pos­tas. Elas são tão fe­li­zes e ale­gres que se­quer o “SUS” bu­ta­nês tem es­ta­tís­ti­ca so­bre a in­ci­dên­cia da do­en­ça. Tra­ta-se de ques­tão de so­me­nos im­por­tân­cia. A po­pu­la­ção in­tei­ra tem uma pro­fun­da li­ga­ção com a na­tu­re­za; va­lo­ri­za-se mui­to es­se res­pei­to e es­sa ali­an­ça com o eco­lo­gia, a vi­da na­tu­ral. Co­mo se vê na re­la­ção com a flo­ra, fau­na e ma­nan­cia­is na­tu­ra­is. A ques­tão da sus­ten­ta­bi­li­da­de é le­va­da mui­to a sé­rio. Não fi­ca só nos dis­cur­sos e par­la­tó­rios . To­dos, li­te­ral­men­te, se en­ga­jam na man­ten­ça do PIF. O me­lhor é que es­se pif, é per­ma­nen­te, não tem ta­xas dis­so da­qui­lo , etc.

Ago­ra fa­lan­do da fe­li­ci­da­de aqui no Bra­sil. Ape­sar de tu­do o bra­si­lei­ro é for­te e fe­liz. Mo­ti­vos pa­ra in­fe­li­ci­da­de não fal­tam, bas­ta ter em con­ta as gra­ves, as gra­vís­si­mas ques­tões ati­nen­tes a cor­rup­ção. Um pa­ís on­de há clas­ses de pes­so­as vol­ta­das à prá­ti­ca da cor­rup­ção tem to­das as ra­zoes pa­ra a in­fe­li­ci­da­de. Por­que de rol­dão e per­meio vêm ou­tras cri­ses co­mo a mo­ral, a éti­ca. Até a es­té­ti­ca, que aca­ba por per­der a sua éti­ca.

Não faz tan­to tem­po que dois par­la­men­ta­res pro­pu­se­ram a PEC (pro­pos­ta de emen­da cons­ti­tu­ci­o­nal) da fe­li­ci­da­de; o te­or do pro­je­to era tor­nar a fe­li­ci­da­de um di­rei­to de to­dos. Se­ria uma cláu­su­la pé­trea, imar­ces­cí­vel e imu­tá­vel. As­sim a de­cla­ra­ram os in­só­li­tos e in­so­len­tes po­lí­ti­cos.

Ago­ra pen­se­mos em unís­so­nos so­bre es­sa PEC . Nós, os bra­si­lei­ros, me­re­ce­mos, não? Quan­ta efi­cá­cia, não? Tão pro­du­ti­va quan­to ofi­ci­a­li­zar mul­ta de trân­si­to pa­ra ci­clis­tas e pe­des­tres. Os tem­pos mu­dam mui­ta coi­sa, os ape­los e os cos­tu­mes.

Exis­tem em nos­sa so­ci­e­da­de um gran­de ape­lo, pro­pa­gan­das e mer­chan­di­sing vol­ta­dos pa­ra as ques­tões da se­xu­a­li­da­de. Tem si­do mui­to re­cor­ren­te e en­con­tra­do nos pro­gra­mas de TV, in­ter­net e re­des so­ci­ais. Uma pre­fe­rên­cia por tu­do que se re­fe­re a ero­tis­mo. Há que se dis­tin­guir se­xu­a­li­da­de de se­xis­mo e ero­tis­mo. Se­xu­a­li­da­de se tra­ta com pro­fis­si­o­nais ca­pa­ci­ta­dos na área. En­vol­ve co­nhe­ci­men­tos de bi­o­lo­gia e ci­en­tí­fi­cos e não pu­ra e dis­se­mi­na­da en­ga­na­ção dos me­nos avi­sa­dos .

Exis­te até um já ba­da­la­do pro­gra­ma da Re­de Glo­bo in­ti­tu­la­do Amor e Se­xo. Mas não é só es­te. Vá­rios ou­tras emis­so­ras abor­dam o te­ma. Na ver­da­de são di­á­lo­gos e tra­ta­ti­vas de ero­tis­mo, se­xis­mo e por­no­gra­fia, com uma cos­mé­ti­ca e en­fo­que co­mo se não o fos­se. Mas, no fun­do é a mes­ma coi­sa. Fi­ca aqui a per­gun­ta: se­rá que es­sas pes­so­as só têm es­ses ex­pe­di­en­tes co­mo te­mas de ale­gria, pra­zer e fe­li­ci­da­de? A mim me( per­doe-me a re­dun­dân­cia) res­soa co­mo mui­ta fal­ta de cri­a­ti­vi­da­de e bus­ca de coi­sas mais sa­u­dá­veis pa­ra ele­var a au­diên­cia. Mas, as emis­so­ras têm seus mo­ti­vos. Elas ven­dem o que os con­su­mi­do­res gos­tam. Os pa­tro­ci­na­do­res fa­zem par­te do car­tel e do jo­go. Su­jo ou não , os fins jus­ti­fi­cam os mei­os. Que tris­te . Fe­ve­rei­ro/2018.

 

(Jo­ão Jo­a­quim – mé­di­co – ar­ti­cu­lis­ta DM fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com – What­sApp (62)98224-8810)

 

 


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