Cotidiano

A inclusão como modelo educacional

Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2018 às 23:52 | Atualizado há 4 meses

Os casos de alunos com con­dições especiais na edu­cação se multiplicam e se destacam cada vez mais. No Co­légio Militar Major Oscar Alvelos, os casos são muitos. Como a alu­na Nicolly Rosseli Lopes, que tem síndrome de Down, e o aluno Cé­lio Henrique Queiroz Cardos, que é surdo. Nicolly tem desenvolvimen­to pleno e já está no segundo ano do Ensino Médio, e Célio Henrique ainda é o destaque de sua turma, sendo dele a responsabilidade de “apresentar a turma”. Essa atividade de tradição militar consiste em co­locar toda a turma perfilada, de pé, em posição de sentido e aplicar “or­dem unida”. Célio faz gestos tradu­zidos pela professora de libras que o auxilia e que com voz de coman­do enquadra a turma com expres­sões como “Firme e Descansar”.

O grupo especial foi acrescido de outros destaques que enchem os olhos por sua capacidade de em­bevecer corações com a força de vontade desses estudantes diferen­ciados. O exemplo de superação e força para viver plenamente des­ses alunos foi recebido pela dire­ção do MOA com disposição. “Mes­mo sem vagas disponíveis tivemos a sensibilidade para dar um jeito de colocar esses alunos em nossas sa­las para garantir sua formação com­pleta e da melhor maneira possível”, comenta o diretor, tenente-coronel Ubiratan Reges de Jesus Júnior.

“Nossa tarefa é diminuir as bar­reiras e pavimentar os caminhos para esses alunos que necessitam de um pouco mais de atenção. Só isso”, resume.

ATRIZ

Um desses casos é da adolescen­te Sara Sama Rosa dos Santos, de 15 anos. Ela nasceu com um problema de visão que a impediu de ver desde os primeiros dias. A retina nasceu colada e não se desenvolveu, con­ta a avó dela, Luciene Rosa da Sil­va. “A mãe de Sara teve um proble­ma durante a gravidez que fez com que a menina nascesse prematu­ra e seu desenvolvimento foi pre­judicado”, explica. Sara Sama nas­ceu com seis meses e pesava 800 gramas. Precisou ficar na incuba­dora até atingir peso e saúde com­patíveis e o fato de ter sobrevivido já prova que ela é vencedora.

Quem vê a frágil aparência da menina de sorriso fácil e encan­tador se surpreende quando ela dedilha um teclado e arranca no­tas musicais belas e harmoniosas. Ela estuda com afinco a musicali­dade e não se acanha de mostrar em público o que aprende. Tam­pouco se descuida das disciplinas regulares onde ela demonstra igual pendor para o aprendizado e para cuidar do futuro. Quando sua avó foi pedir encarecidamente ao di­retor Ubiratan uma vaga para a garota a observação foi redobra­da: precisava também de uma ou­tra vaga para a alma gêmea que acompanha Sara Sama desde que eram crianças. É a estudante Nico­le Mendes, que é a guia e os olhos de Sara Sama pelos corredores do colégio, sala e até o espaço cultural.

Nicole Mendes, 14 anos, sor­ri alegre ao ajudar a amiga/irmã nas atividades e está sempre ali do lado para protegê-la. Sara diz que a amiga é a irmã que ela não teve e as duas exprimem agradável e lumi­nosa aura quando estão juntas. As duas até atuaram juntas em uma peça de teatro e Sara fala com ino­cência pueril que sua vontade é ser atriz no futuro. Mesmo morando um pouco longe uma da outra, as duas se veem quase que diariamen­te fora das aulas e onde uma está, no colégio, a outra está junto. “Eu fico feliz em ser a guia da Sara” e a ami­ga devolve a gentileza dizendo que Nicole é “um anjo que Deus colo­cou” ao seu lado. Sara arrisca solos no piano e violão e canta no coral com voz afinadíssima.

Seu sorriso brilha de forma transcendente quando ela fala da cirurgia que deverá realizar com o médico Marcos Ávila, uma das maiores autoridades do mundo em oftalmologia. A intervenção com células-tronco já foi testada com sucesso em casos semelhan­tes ao de Sara Sama. A mãe e o pai moram nos Estados Unidos traba­lhando duramente para juntar di­nheiro a fim de financiar a cirur­gia. O sonho de Sara é ver a amiga Nicole, a avó e os pais. “Mesmo quando a gente tem algum pro­blema não podemos desistir ja­mais, como algumas pessoas fa­zem e perdem a oportunidade de serem felizes. O segredo é jamais desistir de lutar”, ensina.

 

SEM LIMITES

Richarles Gabriel Alves da Silva tem 15 anos e nasceu sem os dois braços, além de uma pequena di­ferença de comprimento nas per­nas. Todavia, isso não significa li­mite para o garoto, que aprendeu a tocar violino na igreja evangélica Congregação Cristã no Brasil e extrai acordes preciosos no instrumen­to. A disciplina de Richarles para aprender lhe rendeu uma classifi­cação de “Ouvido Absoluto”, coisa rara para musicistas e que significa que o rapaz pode identificar uma nota musical apenas em um solfejo.

Com o auxílio de um amigo para retirar as meias e enrolar a barra da calça, Richarles manda ver no violino colocado no chão e não se intimida em entoar mú­sicas diversas. Algumas ele tira de memória e outras precisa olhar a partitura. Mas, o simples fato de tocar o instrumento já é uma vitó­ria para o jovem. “Quero ser mú­sico quando crescer, por isso me esforço tanto para aprimorar o co­nhecimento da música”, revela.

A ausência de braços não é li­mitação para o aprendizado de Richarles, ele tem uma mesa adaptada e escreve com desen­voltura e letra bonita de se ver. Os professores elogiam a disci­plina do aluno e reconhecem que ali está um vitorioso por superar limites que para muitos seriam motivo para entregar os pontos.

A mãe de Richarles, Kellen Keide, mostra orgulhosa a tela que o filho pintou e revela que o jovem é um exemplo em outras atividades. “Ele é quem lava a louça após o almoço”, conta a sorridente mãe. A mensa­gem de vida de Richarles também é de que a superação faz parte da meta de cada indivíduo. “Sigam em frente, não desistam jamais, persiga seu sonho que você alcança”, fala.

AMOR

Comandante do MOA, tenen­te-coronel Ubiratan frisa que o ingrediente principal do sucesso em atividades inclusivas como as que o colégio que dirige é o amor. “Amar o próximo e dar o melhor para a humanidade é o que nos faz aplicar uma educação inclusi­va e humanista como a que bus­camos fazer aqui”, finaliza.


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