Obesidade pode ser contagiosa
Diário da Manhã
Publicado em 3 de fevereiro de 2018 às 22:22 | Atualizado há 7 anos
Uma nova pesquisa americana afirma que estar num círculo social com um maior nível de obesidade pode colocar as pessoas em maior risco de serem obesas também. Tal descoberta pode colocar a condição em comum com doenças contagiosas. A conclusão vem de um estudo feito em bases militares espalhadas pelos EUA, que descobriu que a exposição a comunidades com maiores taxas de obesidade está associada a um aumento do índice de massa corporal (IMC) em pais e crianças.
Estudos têm tentado há alguns anos avaliar a relação entre o ganho de peso e sua influência micro e macrossocial, mas encontrar evidências que selem o problema é uma tarefa muito difícil. Por exemplo, é complicado separar fatores herdados de fatores “aprendidos” dentro de famílias. Além disso, a tendência é a de nos associar a indivíduos com ideias semelhantes às nossas.
Para contornar as principais dificuldades, Ashlesha Datar, da Universidade do Sul da Califórnia, e Nancy Nicosia, da RAND Corporation, decidiram realizar seu estudo em um tipo de comunidade bastante especial, que atribui famílias para viverem juntas: bases militares. Usando informações de um banco de dados militar americano, o M-TEENS, os pesquisadores analisaram 1.111 adolescentes e mais de 1.300 pais que foram designados para uma de 12 bases militares nos EUA.
As incidências de obesidade variavam nos municípios onde as bases estavam localizadas, de 21% em El Paso, no Colorado, a 38% em Vernon County, no estado da Louisiana. As medidas de IMC dos pais e filhos revelaram que cerca de um quarto dos adolescentes e três quartos dos adultos podiam ser categorizados como obesos ou com excesso de peso.
Uma vez que ajustes foram feitos para se levar em conta idade, renda e mesmo status dentro da corporação militar, os cientistas descobriram que os membros de uma família eram mais propensos a ter um IMC maior se tivessem sido designados para uma base em uma cidade com maior taxa de obesos. A exposição à cultura local pode não ser o único fator por trás dessa diferença, mas deve desempenhar um papel, já que essa relação foi mais forte em famílias que viviam na comunidade circundante à base. Os adolescentes que moravam próximos a uma base militar por mais de dois anos também eram mais propensos a ter um IMC maior.
Uma explicação poderia ser o meio ambiente. É possível que simplesmente viver na área, com talvez um maior acesso a fast food ou locais que desencorajam exercício físico, por exemplo, tenha um papel fundamental nos resultados. Mas os pesquisadores estão bastante confiantes de que isso não explica tudo. “Embora este estudo não possa excluir definitivamente o papel dos ambientes compartilhados, nossos achados sugerem que outros mecanismos podem estar envolvidos”, relata o artigo.
Pesquisas anteriores centraram-se principalmente nas relações entre amigos, vizinhos e familiares. Estudar redes geográficas é um avanço para se chegar a melhores conclusões. Os novos resultados fornecem evidências para a hipótese de que nossas redes sociais desempenham um papel importante na forma como desenvolvemos hábitos saudáveis ou não, o que significa que, se quisermos vencer a obesidade, provavelmente teremos que nos unir contra ela.