Lições retiradas de um grande projeto: o líder também aprende, o tempo todo
Diário da Manhã
Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 21:06 | Atualizado há 7 anos
São Paulo, 1 de fevereiro de 2018 – É interessante a visão que alguns profissionais ainda têm em relação ao líder. Para eles, os altos executivos já atingiram 100% de suas habilidades, do conhecimento e da capacidade técnica, intelectual e da vivência que necessitam para realizar o trabalho que lhes é designado. Como eles ocupam altos cargos, sendo responsáveis por gerir grandes equipes e projetos que envolvem milhões de dólares e de uma complexidade monstruosa, em alguns casos, são vistos como seres diferentes de outros profissionais.
Essa impressão é um pouco romanceada. Os líderes, é claro, não ocupam o cargo em que estão à toa. Sem dúvida, a experiência que possuem faz com que eles sejam diferenciados e consigam direcionar o trabalho ao objetivo, com foco, disciplina e dinamismo. A capacidade intelectual, obtida pelo estudo, e a técnica, conquistada pela vivência, também são fundamentais para colocá-los na posição de liderança, mas, posso afirmar que o líder é o profissional que aprende a cada projeto e tira lições de tudo o que vive – seja bom ou ruim – para aplicá-las em prol de seu desenvolvimento e do aprimoramento de sua equipe.
Exemplifico: o ano de 2017 foi muito desafiador, porque fui chamado a participar da concretização de um projeto multidisciplinar relacionado, resumidamente falando, a uma modalidade de financiamento envolvendo Brasil, Japão, Moçambique, Malawi, Inglaterra e África do Sul. Foram cinco anos de trabalho da equipe, até que fosse assinado um contrato de 2,7 bilhões de dólares. O projeto envolveu uma centena de profissionais, uma dezena de bancos e exigências financeiras de todos esses países envolvidos, além da logística de transportar 11 milhões de toneladas de carvão a distâncias intercontinentais. Como líder do último ano de um projeto de tal envergadura, me vi em um ambiente novo, com desafios distantes da minha realidade profissional, e inserido num contexto que já estava instalado. Foi necessário ganhar a confiança daquela equipe e fazer com que ela percebesse que eu era a pessoa certa para comandá-la. A complexidade de liderar essa equipe já formada e de construir com ela um relacionamento foi grande e me vi completamente dependente da comunicação e do pragmatismo para alcançar os objetivos. Eu precisava disponibilizar as ferramentas que a equipe necessitava para que ela entregasse mais e, em contrapartida, ela devolvia a ajuda que eu tanto necessitava para que o resultado chegasse no prazo e com a qualidade que todos esperavam.
Uma das maiores lições que aprendi com esse trabalho foi justamente a de pedir e aceitar ajuda. Sem determinar as prioridades, diante de tantas demandas, não conseguiríamos dar conta, então, foi necessário realmente delegar e determinar quem teria as competências necessárias para entregar o que era preciso. Como líder, fico extremamente satisfeito em mostrar a minha equipe que preciso de ajuda. Aprender a ser ajudado é uma forma de vantagem competitiva no mundo de hoje.
Outro aprendizado deste projeto é que, quando você faz mais do que acha que tem que fazer, o objetivo fica menos distante. Mesmo com tudo planejado, cada membro de sua equipe precisa ser motivado a fazer mais do que deve fazer, do que acredita que pode e sabe fazer. Não se trata de explorar, no sentido pejorativo da palavra, os profissionais, mas, sim, de desafiar a criatividade, o dinamismo, o potencial de cada um para que todos formem realmente uma equipe muito mais harmônica e engajada.
Nós realmente conseguimos alcançar esse objetivo. Tanto é que a empresa foi premiada, no final do projeto, pelo resultado alcançado. Muito mais motivados e unidos, os membros da equipe comemoraram o sucesso e iniciaram o ano prontos para novos desafios. Eu, como líder, aprendi também.
(Marcelo Tertuliano, administrador de empresas, com 22 anos de experiência na função financeira, dos quais 15 anos em posições de liderança. Atualmente está à frente da área financeira de uma grande mineradora em Moçambique. É um estudioso do comportamento empresarial mundial)