Crimes da boa consciência
Redação DM
Publicado em 29 de janeiro de 2018 às 23:16 | Atualizado há 7 anos“Você não sabe o que é consciência, não vê que eu sou um pobre rapaz. às vezes passava fome ao meu lado e achava bonito não ter o que comer”. Pois é, pra que… assim o poeta da MPB compreendeu a consciência de Amélia, a mulher que achava bom o sofrer. A boa consciência deveria ter parâmetros similares, para todos – porém, é sabido que a qualidade da consciência corresponde, ou é consequência da qualidade do indivíduo. E todos acham-se portadores e proprietários da consciência mais consciente.
Consciência, cada um deve seguir a sua – assim nos ensinaram desde a infância até porque dificilmente alguém seguiria seguir a consciência alheia, podendo obedecer à sua própria.
Diferentes pessoas, diferentes consciências e o mesmo vale para as diferentes culturas, famílias, nações e países – e mesmo em uma mesma família são diferentes as consciências. Em nome da boa consciência crimes horríveis são cometidos – até genocídios e holocaustos. De um modo geral, como ensina Bert Hellinger, todo animal segue a consciência de seu grupo pois que só dentro dele se sente seguro.
Podemos deter a máquina de gerar pensamentos, porém não podemos parar de sentir. Tudo o que somos tem como base o que sentimos.Daí a verdade dos versos de Paulinho da Viola: “Sentimentos, isso eu tenho demais/ alegria que eu tinha nunca mais”. Ter sentimentos além da conta – isso pode ser positivo ou negativo, a depender da qualidade dos sentimentos que se tem.
A pessoa é o que sente e pensa, e muito do que lhe acontece decorre da qualidade dos nossos pensamentos.Tudo o que constitui objeto de nossa atenção É um campo energético irradiante, em constante vibração. E vai a moldar a tessitura de nossa existência. Cada pessoa se satisfaz com sua própria consciência, mesmo sendo horrível ou não havendo nenhuma – e vê como estranhas as consciências de todas as outras pessoas.
Quando fazem parte de outro grupo, são a consciência do inimigo daí a dificuldade de se buscar a paz entre os membros das famílias, entre os grupos e classes sociais, entre os países em disputa por território, e riquezas naturais que neles existam.
Cada um se acha no direito de apropriar-se daquilo que não tem, e mesmo tendo o bastante, pensa precisar de muito mais. Daí as guerras que não cessam e as disputas até por desertos onde só há areia, e nada mais. Sendo sabido que os esforços para o advento da paz são invalidados pela boa consciência dos lados em luta, o trabalho tem que ser feito devagar, a partir da alma de cada pessoa, grupo, sociedade ou país – na suposição de que ela existe o que em muitos casos é de se duvidar.
(Brasigóis Felício, escritor e jornalista.Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras)