Política

Petista pode ter Requião como vice

Diário da Manhã

Publicado em 28 de janeiro de 2018 às 01:04 | Atualizado há 4 meses

Num artigo que publicou pouco antes do início da Ope­ração Lava Jato, Sérgio Moro, o juiz, assinalou que, no caso da “Operação Mãos Limpas”, foi im­portante a prática de vazar, de forma seletiva, informações si­gilosas à imprensa, para “desle­gitimando a defesa”.

Durante a Operação Lava Jato, Moro foi useiro e vezeiro nesta prática. Manipulando aberta­mente a grande imprensa – ou sendo por ela manipulado? – ele buscou por todos os meios “des­legitimar” a defesa dos réus. E foi mais além: cerceou a defesa, de Lula, por exemplo. E tantos abu­sos cometeu que,a despeito dos aplausos da direita reacionária, Moro perdeu prestígio junto a co­munidade jurídica e, no exterior, começou a ser visto como um fer­rabrás das cavernas.

Já a decisão do TRF-4, de manter a sentença condenatória e aumentar a pena imposta ao réu, não surpreendeu ninguém. Já se esperava. O que causou cer­to desalento foi a qualidade ruim dos argumentos dos desembar­gadores. Esperava-se algo me­lhor de quem, supõe-se, sejam sumidades do Direito.

O que, porém, surpreendeu, o a intensidade da mobilização em favor de Lula. Há, em largas faixas da população, o sentimento de que uma grande injustiça foi co­metida. Grande parte da popula­ção sente que Lula foi condenado sem provas. A percepção é de que estamos diante de uma odienta perseguição política. Uma ma­nobra desleal para alijá-lo de uma competição em que ele dificil­mente seria derrotado.

A decisão de um juiz federal de Brasília, proibindo Lula de au­sentar-se do país e mandando confiscar seu passaporte, reforça ainda mais o sentimento de mui­tos que veem no caso uma perse­guição mesquinha. Alguém que, jogando com lealdade, avisa o Ju­diciário que tem a intenção de viajar ao exterior, não parece al­guém que esteja fugindo. Lula es­teve em Porto Alegre, às vésperas do Julgamento. Quisesse fugir, iria para o Uruguai, como fez Jango.

O fato é que, usando a mes­ma tática preconizada por Moro, o PT e seus aliados con­seguiram deslegitimar a sen­tença de Moro. Ela se sustenta como ato forma de autoridade, mas não gerou convencimen­to. Só o antipetismo a defende, um tanto constrangidamente.

Para o PT, do ponto de vista político, tudo isso é sopa no mel. Se Lula já vinha crescendo nas pesquisas de opinião, de todos os institutos, parece que ago­ra poderá crescer ainda mais. E por mais bizarro que pare­ça sua teimosia em manter sua candidatura, sujeito a ser preso a qualquer momento, esta ati­tude tem uma lógica política e eleitoral muito inteligente.

Quanto mais tempo Lula per­manecer candidato, mais forte ele fica, e maior será o seu poder de transferir voto. Ele vai registrar a chapa. Sua inscrição será im­pugnada. O julgamento da im­pugnação dará lugar a grandes agitações de rua. Se a impugna­ção for julgada definitivamen­te procedente, o vice poderá ser inscrito em seu lugar. E ganha a eleição, tornando-se presidente da República.

Durante meses, ganhou for­ça a ideia de que Lula, impedido de se candidatar, recomendaria voto em Ciro Gomes. Mas os fa­tos demonstram que isto está lon­ge de acontecer. Ciro esteve afas­tado de Lula nos últimos temos. Andou fazendo críticas a ele. Es­teve fora dos movimentos de de­fesa do direito e Lula ser candida­to. Chegou a sugerir até que Lula deveria desistir de ser candidato.

Na outra ponta da corrente nacional desenvolvimentista, o senador Roberto Requião não só se jogou de corpo e alma nas lu­tas em favor de Lula como ajudou a organizar as manifestações de Porto Alegre. Nos meios políticos oposicionistas, já há quem veja Roberto Requião como um ex­celente candidato a vice de Lula.

Tem um probleminha: Re­quião está filiado ao MDB. Re­presenta a ala dissidente do par­tido. Mas isto pode ser resolvido. Pelas novas regras eleitorais, Re­quião pode mudar de partido a até seis meses antes da eleição. Dentro do espectro de siglas que hoje estão na aliança lulista, Re­quião poderia, tranquilamente, filiar-se a um deles.

Um desses partidos poderia ser o PSB, que agora está sob forte influência do senador Ca­piberibe. O PSB acabou aderin­do à campanha pró-lula. O se­nador esteve em Porto Alegre, ao lado de Lula, fazendo ata­ques à Lava Jato, exigindo a ab­solvição do ex-presidente.

Uma chapa Lula /Requião é uma possibilidade política. Pode até não acontecer, mas é uma hi­pótese a não ser descartada. E, caso aconteça, ela ficará forte na medida em que Lula for se man­tendo na cabeça da chapa. Por fim, a cassação de Lula, já nas pro­ximidades da eleição presiden­cial, criará as condições de uma vitória de Requião.

Requião eleito presidente muda o rumo das coisas. Indul­to a Lula, referendo revogatório das reformas meirellistas, orien­tação estatizante e nacionalista da economia. A menos que as forças de centro consigam urgentemen­te viabilizar uma alternativa sé­ria ao lulismo e ao bolsonarismo.


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