Cotidiano

Abuso sexual no consultório

Redação DM

Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 01:35 | Atualizado há 6 meses

Uma estudante de 22 anos foi a primeira das 23 mu­lheres que registraram, ofi­cialmente, denúncia contra o médi­co Joaquim de Sousa Lima Neto. O ginecologista, com mais de 34 anos de profissão, abusava sexualmente das suas pacientes e de uma fun­cionária no Hospital São Lucas. A instituição já desligou o médico há um mês e o denunciado está preso desde o dia 23 deste mês.

Joaquim já havia sido condena­do em 2015 pelos mesmos crimes, quando deveria pagar uma multa de R$ 5 mil e três anos de reclusão (convertidos em serviços comuni­tários), mas a defesa recorreu e ele pôde continuar a exercer o ofício, e prosseguir com os abusos no con­sultório. De acordo com a delegada Ana Elisa Gomes, os relatos das 23 vítimas que já procuraram a delega­cia são semelhantes e reforçam que a prática dos abusos era recorrente por porte do profissional.

“É importante deixar claro que elas não se conhecem, não tem li­gação uma com a outra, e elas con­tam histórias extremamente pare­cidas. O jeito dele agir dentro do consultório com elas, as coisas que ele fala para elas durante os exa­mes, os questionamentos imper­tinentes, as conversas de cunho sexual fora dos padrões do que se­ria uma consulta ginecológica. Os próprios atos libidinosos que ele pratica”, afirmou a delegada.

DENÚNCIAS

A primeira denúncia partiu de uma estudante de 22 anos, ao afir­mar ontem, dia 25, que ela e a irmã de 20 foram abusadas por Joaquim de Sousa. Ela afirmou que depois da consulta chegou em casa contando do comportamento do médico, e após a irmã revelar que também ti­nha passado pela mesma situação durante a primeira consulta gineco­lógica, o pai levou as duas à delega­cia para registrar a denúncia.

“Ele começou com muita con­versa estranha, ficou perguntando quais lugares que gostava de fazer sexo. Na hora do exame, quando me tocava, ele ficava perguntando com frequência se eu estava gostan­do”, afirmou a estudante. Ela afirma que depois da consulta chegou em casa contando do comportamento do médico, e após a irmã revelar que também tinha passado pela mesma situação durante a primeira consul­ta ginecológica, o pai levou as duas à delegacia para registrar a denúncia.

Uma ex-funcionária do Hospi­tal São Lucas, que fazia tratamento com Joaquim de Sousa Lima Neto, disse que também foi vítima do profissional. A mulher contou que em uma das consultas o médico tentou agarrá-la. “Eu falei para ela: ‘Eu acho que aconteceu algo dife­rente, o doutor falou umas coisas para mim, ele ficou falando umas ‘safadagens’. E foi quando ela me disse: ‘não, relaxa, ele faz isso com várias pessoas, é o jeito dele. Se eu fosse você guardava isso para você, porque você é só uma funcionária, o médico aqui é sempre superior, e é melhor você não contar isso para ninguém”, relata a mulher.

O acusado cedeu entrevista à TV Anhanguera e, de costas para as câmeras, ele afirmou que era ino­cente de todas as acusações. “Eu tenho uma secretária e todos os atendimentos são feitos median­te a presença dela. Eu vou conti­nuar agindo como sempre agi, da maneira correta. Eu sou uma pes­soa inocente. Eu estou com um ad­vogado e vou usá-lo com esse pro­pósito”, afirmou Joaquim.

Por meio de nota, o Hospital São Lucas informou que “não tinha co­nhecimento de qualquer inquérito policial ou penal” em desfavor do médico. No entanto, quando foram informados dos casos pela delega­da responsável, Ana Elisa Gomes, no último dia 27 de dezembro, “to­mou todas as providências legais para o afastamento do médico do corpo clínico do hospital”.

CREMEGO

Joaquim de Sousa Lima Neto também não tem registro no Conse­lho Regional de Medicina de Goiás (Cremego). Joaquim consta, no sis­tema de consulta do órgão, como um profissional em situação “regu­lar”, mas como “não registrado” no campo de especialidade. De acor­do com o presidente do conselho, Leonardo Reis, o fato pode implicar mais um agravante no processo ins­taurado contra o profissional no ór­gão. Ele destaca que todo paciente, antes de se consultar com um pro­fissional, pode consultar no site do Cremego se o médico tem ou não registro para atuação.

“Ele não tem registro. Ele é cre­denciado como médico, mas não tem nenhuma especialidade ca­dastrada. Isso é de domínio pú­blico, os pacientes podem buscar, apenas com o nome do profissio­nal no nosso site para checar se tra­ta-se ou não de um especialista. O fato dele não ser credenciado não significa que ele não possa atuar nesta área, ou não tenha forma­ção, isso será apurado pelo con­selho”, disse o presidente.

Leonardo disse que, na épo­ca da condenação do médico, foi aberta uma investigação para apu­rar a conduta dele, mas o proce­dimento não chegou a nenhuma conclusão. Desta vez, o presidente do Cremego, Leonardo Reis, rela­tou que ele pode ser punido. “Dian­te dos novos fatos, outra investi­gação será empreendida, faremos novas diligências, novo procedi­mento será instaurado, podendo gerar um processo ético profissio­nal e culminar, se restar compro­vado o ilícito, em uma penalidade que pode gerar, inclusive, cassação do registro profissional”, conclui.

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