25 de janeiro – dia da cidade de São Paulo, do carteiro e da bossa nova
Redação DM
Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 21:56 | Atualizado há 7 anosA maior metrópole da América Latina completa 464 anos. Quantas pessoas em busca de trabalho e novos rumos na vida ela abrigou! Como é emocionante ver e ouvir gravações o médium Francisco Cândido Xavier lembrando do nascimento da cidade, na celebração da solene missa no Pátio do Colégio! Envolvido no espirito do mentor Emanuel—próprio fundador da urbe, na roupagem do ilustre Pe. Manoel da Nóbrega, em existência anterior—, deixa transparecer com autoridade de suas palavras a autenticidade do notável acontecimento de 25 de janeiro de 1554.
Quão grande encantamento nos traz a maviosa melodia da valsa “Rapaziada do Brás”; os arranjos musicais dos “Demônios da Garoa” interpretando composições de Adoniran Barbosa; o romantismo dos “Trovadores Urbanos ”lembrando as serestas inesquecíveis, e os grandes bailes animados pela big orquestra “Tabajara “de Severino Araújo, tudo a nos encher de saudade dos inolvidáveis anos dourados que não mais voltam, mais ainda podem ser recordados, na cidade mineira de Poços de Caldas, pela orquestra “Românticos de Poços” comandada pelo maestro Miguel de Brito.
E por falar em música, não se pode esquecer de mencionar o marcante estilo Bossa Nova, agora completando 60 anos de existência, a partir da gravação “Chega de Saudade”, em 1958, de autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Em homenagem ao nascimento deste genial músico (25 de janeiro de 1927), editou-se, por iniciativa do ilustre deputado Chico de Alencar, a Lei nº 11.926 de 17/04/2009, que consagra 25 de janeiro como dia nacional da Bossa Nova.
Tom, que teria hoje 91 janeiros, nos deixou, há 23 anos (08/12/94). Formou com João Gilberto e Roberto Menescal o trio criador deste belo estilo musical que suprime o bordão, ou seja, repele a corda sonora baixa, e, sincopando a duração da nota, produz um misto de tique-taque com teleco-teco nessa musiquinha harmoniosa e agradável, que encontra nos versos de Vinícius de Moraes a expressão da alegria a contagiar variados ritmos, especialmente o samba-canção, que, na bossa, sai da fossa.
Mesmo quando retratam o lado triste das coisas, as composições bossanovistas apontam o rumo da superação dos males. Pode-se ver isso na bela canção “apelo” (Toquinho e Vinícius), ao mostrar a necessidade do perdão, cujo significado etimológico não é esquecimento, desligamento, e sim, grande doação. Observem alguns de seus versos: “Ah! meu amor, não vás embora. Não, eu te peço não te ausentes, pois a dor que agora sentes só se esquece no perdão. Eu te suplico que não destrua tantas coisas que são tuas, por um mal que já paguei”
Muitos outros participaram desse movimento artístico, entre eles e elas, destacam-se: Ronaldo Bôscoli, Baden Powell, Jhonny Alf, Elizete Cardoso, Sylvinha Telles(cantora predileta de Tom Jobim), Wanda Sá, Márcia, Leny Andrade, Caetano Veloso(este trocou a bossa pelo tropicalismo), Sílvio César, Joyce, Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Luiz Carlos Vinhas, Dick Farney, Toquinho, Claudete Soares, Edu Lobo, Oscar Castro Neves, Chico Freitas, Tito Madi, Lúcio Alves, Carlos Lyra, Jair Rodrigues, Simonal, Miúcha, Agostinho dos Santos, Geraldo Vandré, Sérgio Mendes, Maysa, Maria Betânia, Maurício Einhorn, trio “Os Cariocas”, “Quarteto em Si”, Gal Costa, a grande musa Elis Regina e Nara Leão, que esteve exilada em Paris, porque além de repórter do combativo jornal “Última hora”, cantava muita música tida como contestadora do regime militar, sobretudo o samba “Opinião”.
Sobretudo depois que Frank Sinatra encantou o Tio Sam com a “Garota de Ipanema”, começou a falsa história de que a bossa seria mera derivação do jazz americano da costa oeste do Pacífico, quando, na verdade, este apenas passou a influenciá-la, mas ela não deixou de ser coisa originalmente nossa.
Antes de concluir este artigo, com apresentação de meu poema citando composições e personagens da Bossa Nova, deixo aqui minha homenagem ao carteiro que, ainda nos atuais dias da moderna comunicação, continua a prestar relevantes serviços à coletividade, no árduo trabalho de entrega de correspondências em todos os setores urbanos, enfrentando sol e chuva, em cima de bicicletas e, às vezes, até mesmo a pé.
Eis o meu poema intitulado a bossa é nossa, que tenta retratar essa coisa linda, que encanta o Brasil e todo o Mundo:
Quão sublime, noite adentro,
uma doce voz, sobretudo feminina,
ao som de sax, pistom com surdina
e suave repicar de violão,
fazendo a bossa nova
no toque-taque do atabaque
e no chocalhar da maraca!
embala-me a genial
criação de tom Jobim,
João Gilberto e Menescal,
os versos de Vinicius de Moraes
e a saudosa Elis Regina com Jair rodrigues
no arrastão de dois na bossa,
a rolar como as águas de março.
depois, vislumbro Gal cantando bonita
e, meio desafinado, lhe faço um apelo
para ser minha namorada
e que linda namorada poderia ser!
então, lhe daria a mão na estrada do sol,
declarando: eu sei que vou te amar.
ah! se todos fossem iguais a você,
porque só tinha que ser com você
mas preciso aprender a ser só,
para, em profunda meditação,
contemplar Miúcha no samba do avião,
pois ela é carioca e a morena vai sambar
e com ela só danço samba, o samba de verão,
enquanto Dick, em Copacabana, com este seu olhar,
por uma e outra onda (wave) sempre a surgir,
namora a princesinha do mar,
sem perder de vista Maysa conduzindo o barquinho
e Nara Leão, este bem, bem distante da pátria,
outra vez a cantar chega de saudade, no exílio em paris.
e o torrão brasileiro se expande lá fora
no vozeirão de Sinatra, encantando o tio Sam
com a garota de Ipanema, sem, no entanto, esclarecer
que a bossa – coisa nossa- é o próprio seio do Brasil,
um coração a saltitar no busto de suas lindas mulheres,
envolto em deslumbres mil
e jamais filha do americano jazz,
com o qual se afina, no enlevo que este traz
só para influenciar
e, no dizer de Carlos Lyra,
o nosso samba entortar.
(Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, é escritor e procurador de justiça aposentado do Ministério Público Goiano)