O que vale hoje: atitudes e compromissos com cidadania
Diário da Manhã
Publicado em 20 de janeiro de 2018 às 22:36 | Atualizado há 4 meses
O leque de partidos no Brasil dificulta a compreensão do eleitor a respeito do jogo político e das ideologias de cada um dos 35 partidos. Além disso, a grande quantidade de legendas no país aponta não para uma diversidade de ideias, mas para a existência de partidos fisiológicos, os quais se aproveitam das brechas da lei para ter ganhos financeiros. É o que explica o cientista político e professor na Universidade Federal de Goiás (UFG), Robert Bonifácio em entrevista ao Diário da Manhã.
Já aquele antigo paradigma entre direita e esquerda ficou ultrapassado, segundo o cientista político e professor na UFG, Lehninger Mota. Com origem na Guerra Fria, na disputa entre a União Soviética (socialismo) e os Estados Unidos (capitalismo), e depois refletido nas ditaduras militares da América Latina com forças de direita combatendo políticos de esquerda. Agora, a direita e a esquerda deram lugar para uma discussão política muito mais complexa.
“O debate hoje não é mais esquerda e direita, isso está ultrapassado. O parâmetro que temos que usar hoje é a atitude e o compromisso com as pautas que o partido defende. O capitalismo já é a regra. Agora, dentro disso, o que se pode fazer pelo trabalhador?”, explica Mota ao Diário da Manhã. Nesse momento há uma guinada para o centro e não se vê mais diferenças claras entre partidos. De acordo com ele, a saída do PT do poder representou o fechamento de um ciclo, deixando para trás as discussões simplificadas e defendidas pelo partido de cunho socialista.
Isso se explica nas promessas que o PT não cumpriu ao chegar ao poder. Terceirizações e privatizações, por exemplo, eram totalmente condenadas pela legenda, mas foram levadas adiante pelo governo devido às exigências do mercado. Mota e Bonifácio afirmam que o PT teve de moderar seu discurso e centralizar seu posicionamento aliando-se a partidos de direita (MDB), sem os quais não poderia governar. “Tenho vários amigos que militavam no PT e hoje se sentem traídos. Porque para permanecer no governo tem que negociar e aí se perde muita coisa. Muitos se sentiram traídos até pelo fato de não se combater a corrupção, o que ficou muito claro com as investigações de Lula”, ressalta Mota.
A evidência do PT e não de outros grandes partidos nesse cenário se explica pela tradição de militância do PT, que é rara em outras siglas como MDB e PSDB. A sensação de decepção é também sintoma do típico anseio na América Latina por um salvador da pátria. “O brasileiro não acredita nas instituições, que se transformam em um processo longo. Quer tudo da noite para o dia”, explica o professor Mota.
PESQUISA
Em meio a reclamação de que alguns partidos deixam as suas raízes, uma pesquisa de opinião feita pelo Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV – DPAPP) em agosto do ano passado mostra que 78% dos brasileiros não confiam nos partidos e apenas 22% os consideram importante para a política. Outra pesquisa encomendada pelo DEM em setembro do ano passado revelou que o PSDB e o MDB são rejeitados por cerca de 75% da população, enquanto o PT é por 62% e o DEM por 60%. Já quanto a aprovação, o PT é o que saiu na frente com 28%.
Os partidos verdadeiramente ideológicos, segundo Bonifácio, são aqueles que tem um claro posicionamento programático e defendem suas ideias a despeito do governo corrente. Entre eles, destacam-se PSOL (esquerda), DEM e Partido Novo (ambos de direita). Mota também ressalta que partidos fortemente ideológicos dificilmente chegam ao poder e, se chegam, tem dificuldade de governar.
Para Mota, o que realmente importa são as pautas, posições nas votações e as atitudes de governo: aumento mais ou menos relevante do salário mínimo, defesa ou não dos sindicatos, privatizações ou empresas estatais, maior ou menor participação do Estado no Mercado, apoio ou oposição à Reforma Trabalhista e da Previdência, entre outros. Quanto a essas questões, os partidos ainda se aliam consistentemente com as bandeiras de suas siglas, como mostra um levantamento de reportagem da BBC Brasil, no fim de 2017, em que traça um paralelo entre as votações dos parlamentares no Congresso Nacional e as linhas ideológicas de seus partidos, se foram progressistas, liberais ou conservadores.
Conforme o levantamento da BBC Brasil, baseado na análise dos resultados de dez votações relevantes realizadas no ano passado na Câmara dos Deputados, os números mostram que há certa coerência na atuação da maioria das legendas tanto em temas econômicos quanto em assuntos sociais em relação à ideologia partidária.
CLASSIFICAÇÃO DOS PARTIDOS
Na análise, a maioria dos partidos se comportou de forma liberal quanto à economia, e votou de maneira mais conservadora em temas relacionados a costumes como política penal e questões ambientais. A classificação dos partidos se deu conforme seus posicionamentos em tais votações, sendo divididos em mais conservadores ou mais progressistas e mais liberal ou estatista na economia.
Partidos como PDT e PSDB foram classificados como conservadores, no entanto, o primeiro seria uma esquerda conservadora e sendo mais estatista na economia e o segundo uma direita conservadora com características liberais em relação à economia. Já partidos considerados mais progressistas, pelo levantamento da BBC Brasil, são Rede e PSOL (ambos classificados como esquerda progressista), além de PPS, PV e PEN (agora Patriotas), mas estes com caráter mais liberal na economia e classificados de direita progressista.
Na classificação é possível perceber a aproximação de partidos socialistas como PT, PSB e PROS, com partidos considerados como sendo de direita como PSDB, PSC e Podemos. Desta forma, destaca-se que tais partidos estão mais ao centro em suas ações no Congresso Nacional e, de certa maneira, assemelham-se entre si.
Para classificar o posicionamento ideológico das legendas, o levantamento da BBC Brasil considerou as votações do novo Regime Fiscal (a PEC do Teto de Gastos), a votação da reforma trabalhista, a liberação de cursos de pós-graduação pagos em universidades públicas, além da votação que desobrigou a Petrobras de participar de todos os projetos de exploração do petróleo da camada pré-sal.
PERFIL IDEOLÓGICO DOS PARTIDOS
- Partidos de extrema-esquerda: PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL
- Partidos de esquerda: PT, PSB, PTB, PDT, PPS, PTdoB, Podemos, PPL, SD
- Partidos de centro-esquerda: MDB, PSDB, PRP, PV, PP, PHS, PSD, PEN, PROS, PMB
- Partidos de centro-direita: MDB, DEM, PTC, PSC, PMN, PRB, PR
- Partidos de direita: PRTB, PSDC, PSL, NOVO
- Partidos de extrema-direita: nenhum