Crazy Social
Diário da Manhã
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 01:27 | Atualizado há 7 anos
Uma anedota de mais de 4 anos de existência voltou a bombar na internet. Trata-se de uma crítica ao comportamento humano nas redes sociais.
Em resumo, o chiste explica que se alguém fizer na realidade o que faz nas redes sociais, será considerado louco, perturbado etc (tendo 3 seguidores: 2 policiais e 1 psiquiatra). Quem sai por aí, pelas ruas, dizendo a pedestres desconhecidos o que comeu, mostrando fotos tiradas com o celular, dizendo ainda em alto falante como se sente, o que fez na noite anterior e os planos para o futuro… Quem sabe a foto do carro, na academia, o que faz no cotidiano, inclusive entregando de bandeja para pessoas de má índole o roteiro esquematizado do seu diário, onde viaja, onde frequenta etc.
Inclusive alguém entregar fotos da família, do animal de estimação, fotos pessoais e das pessoas próximas a essa pessoa. Em seguida bisbilhotar o que os outros estão fazendo, dizendo a elas coisas fofas, ou até mesmo expressando a radicalidade das opiniões sem muita tolerância, na guerra das opiniões da internet, mas desta vez, na vida real.
Não dá pra sair por aí cutucando os outros, solicitando a desconhecidos para serem nossos amigos, compartilhando fotos da intimidade do lar, do trabalho e da rotina. Expressando com curtidas, joinhas, caras bravas e risadas a tudo o que aparece.
Há vários anos, quando o orkut era moda e nem existia facebook, instagram e adjacências, andei escrevendo por aí algumas críticas sobre essa conduta excessiva de expor a vida própria aos olhos do mundo, a necessidade vazia e exibicionista de massagear o próprio ego e a indústria viciosa e mesquinha por trás do festival de curtidas, compartilhamentos e seguidores.
Talvez por isso fui convidado a participar de programas na TV e fazer palestras sobre esse perigo iminente da exposição excessiva. Isso tem sido comprovado na prática. Inúmeros crimes (furtos, roubos, homicídios, sequestros etc) já foram cometidos tendo como motivação (ou apoio como busca de informações rotineiras) as redes sociais.
Seria a necessidade de alguém ser visto ou lembrado como um recurso infrutífero contra a mortalidade humana? Haveria nas curtidas e nos seguidores alguma propagação intencional de alcançar a fama a todo custo?
Existe há algum tempo um mercado que vende, por exemplo, um instagram (que se tornou bastante comercial) já repleto de seguidores, além de aplicativos para ganhar seguidores e curtidas.
Hoje, por mais absurdo que isso pareça, existe a figura do digital influencer, falando assim mesmo (em língua inglesa) para parecer mais chique (ou mais ***). A pessoa adquire certa fama, ditando moda e sendo observada, ganhando patrocínios e fazendo propagandas…
O que aconteceu com a modernidade? Os verdadeiros herois, famosos ou anônimos, passam despercebidos numa multidão que viraliza o vazio de ideias, o riso fácil, o gracejo insosso, até mesmo as pegadinhas pornográficas de nudes, gemidões e assemelhados.
Qualquer assunto mais complexo ou texto mais longo, a preguiça, a incapacidade ou a indisposição acaba por aniquilar qualquer profundidade. Os jovens de hoje são movidos aos googles. Não guardam informações e nem se capacitam para raciocínios mais fortes, salvo as óbvias exceções que existem em todas as generalizações.
Os costumes fazem moda com músicas de batidões ruins, pouca melodia, letra pobre com conteúdo vulgar ou chulo. Isso é o popular de hoje! Ídolos comumente são vistos como figuras devassas, capazes de rebolar muito mas pensar pouco, de driblar e chutar mas agir socialmente de modo horrível. Aliás, horrível já é essa opinião sem direito, na contra-maré do modismo pomposo. Cito um exemplo de um cantor transexual (que tem todo o direito de o ser!), mas péssima voz e é novo ídolo da moçada. Alguém ousa compará-lo numa entrevista de conteúdo, com, por exemplo, Ney Matogrosso? Na verdade, acho mesmo que estou inadequado para os novos tempos, impróprio para o consumo, e ácido demais para um mundo muito doce! Até a próxima!
(Leonardo Teixeira, escritor[email protected])