Mais palhaços, por favor
Diário da Manhã
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 23:31 | Atualizado há 4 meses
“O palhaço entra em cena, convida o público para jogar, ele transforma o público e sai transformado”. A frase da mestre canadense Sue Morrison foi citada pela palhaça Maria Angélica Gomes, em entrevista rápida ao DMRevista. Pois, é neste espírito que, juntamente com o grupo carioca Teatro de Anônimo, que ajudou a fundar, que ela chega a Goiânia: completamente aberta para fazer trocas com público, para a encenação do espetáculo “Roda Saia Gira Vida”, que acontecerá hoje, às 20 horas, no Centro Cultural UFG (CCUFG).
A montagem, que faz parte do repertório do Teatro de Anônimo há mais de 30 anos, será uma das atrações responsáveis por abrir a 5ª edição do Palhaçada. O festival começa hoje e segue até o próximo domingo (14), revezando sua programação entre o CCUFG, e a escola Dom Fernando, uma antiga parceira do festival.
Logo, no festival, o público, vai ter a oportunidade de presenciar um espetáculo que já foi muito assistido em todo Brasil e até no mundo. E que tem a vantagem de unir dois ingredientes universais: o palhaço e a comédia física. Pois, a peça não tem texto ou uma trama convencional, as falas se resumem a onomatopeias e são substituídas por jogos e coreografias cênicas. “A gente dialoga com o corpo e isso é universal. Funciona em todos lugares que a gente foi. A comunicação corporal tem essa possibilidade mais ampla, na relação”, acrescenta Maria Angélica.
Clássicos da música popular brasileira como Pixinguinha, Inezita Barroso, Sinhô e Villa Lobos embalam o ritmo da peça, que é toda inspirada em clássicos números circenses. Aparecem referências aos domadores de animais, atiradores de facas, malabaristas e trapezistas, por exemplo.
Estreado em 1986, “Roda Saia Gira Viva”, foi o primeiro espetáculo do Teatro de Anônimo. Com direção Julio Adrião e interpretação de João Carlos Artigos, Maria Angélica Gomes, Fábio Freitas, Regina Oliveira e Shirley Britto, os atores ainda estavam se formando enquanto artistas e montando o grupo na estreia. No entanto, a montagem nunca saiu do repertório da companhia.
Por outro lado, é fato que sofreu adaptações, pois como diz a Maria Angélica se trata de um espetáculo vivo, por ter sido criado pela companhia e, que sempre se adaptou aos novos conceitos e necessidades dos artistas. Uma das primeiras modificações da montagem ao longo dos anos foi no nível de dificuldade dos movimentos. Pois, apesar de brincar de fazer de forma desengonçada números como trapézio, no começo o grupo buscava o virtuosismo nos movimentos, o que de certa forma atrapalhava o contato com o público.
“Fomos aos poucos abrindo mão do virtuosismo e dando espaço à comicidade, a relação aberta com o público. Pois, uma coisa era incompatível com a outra, porque na hora de um salto mortal tinha que dar aquela concentrada e perder essa relação e, isso fez toda diferença no espetáculo”, explica a palhaça.
O contato com o público e a poesia do espetáculo, de acordo com a artista, foi ampliado pelo grupo, após se atentarem para o fato de que as relações humanas estão cada dia mais virtuais. E, a interação englobou outra característica ao espetáculo, para Angélica essencial, e tocada pela artista no começa da matéria: a troca com a plateia.
“A nossa comunicação é ali, embora a gente tenha uma partitura construída do espetáculo, a gente também quebra um pouco o roteiro para aquilo que está acontecendo no momento. Porque o jogo do palhaço é isso, você tem algo programado, mas também deixa acontecer de acordo com o espaço e com o público que você está relacionando. A gente acredita que o mundo precisa de mais afeto”, argumenta.
Aliás, a busca em realizar uma parceria cidadã com a sociedade civil, sempre foi uma meta da companhia criada em 1986 e, tem sido perseguida em seus outros sete espetáculos de repertório do Teatro de Anônimo. E a formação de novos artistas e troca de ideias é também uma preocupação, que pode ser notada no festival internacional de palhaços Anjos do Picadeiro, que criaram. Com edições realizadas em locais diferentes, o evento tem como foco a reciclagem, intercâmbio e qualificação profissional dos artistas circenses.
Este incentivo a arte dos palhaços, para Maria Angélica é de grande importância, já que este personagem, existente em quase todas as culturas, tem uma grande missão na sociedade.
“Ser palhaço é o espelho da humanidade. Ele traz leveza e frescor aos nossos erros e ridículos, já que a vida nos cobra tanto. Mas vem também para trabalhar e mexer com as nossas emoções, pois, claro, também pode trazer tensão numa cena. Mas logo depois ele desconstrói isso e mostra que tudo é uma brincadeira. Então, acho que quando o público olha um palhaço se reconhece nele e ri de si mesmo. Trazemos leveza à uma realidade muitas vezes intolerante”, argumenta Maria Angélica.
MAIS ATRAÇÕES
É bom lembrar que o Palhaçada trará até domingo mais 10 atrações nacionais e internacionais. Na programação tem grupos de Goiás, Alagoas, Rio de Janeiro, Pará, Minas Gerais. Hoje, antes da apresentação do Teatro Anônimo, o primeiro espetáculo do evento acontece, às 15 horas, na Escola de Circo Dom Fernando com a Turma do Biribinha, que encena a montagem “Magia”.
O palhaço Biribinha, que já contabiliza seis décadas de carreira, é aliás, um dos destaques da programação desta edição. Ele e sua turma serão ainda os responsáveis pelo encerramento do festival, com o espetáculo “O Reencontro dos Palhaços na Rua é a Alegria do Sol com a Lua”.
A participação internacional deste ano fica por conta do espetáculo argentino “AlfonsinA”, do grupo Espuma Bruma, que usa a corda bamba e a literatura das brilhantes Alfonsina Storni, poetisa argentina e Virginia Woolf, escritora inglesa, para atirar-se ao delicado equilíbrio que é viver.
Nas atrações – muitas gratuitas e outras com preços acessíveis – o festival se mostrou preocupado ainda trazer opções que agradam “crianças” de todas as idades. “Uma característica desta edição é que todos os espetáculos possuem classificação livre. Assim, o festival é uma opção diferenciada e saudável de diversão para toda família”, disse um dos organizadores do Palhaçada, Murilo Garcez, que produz o evento ao lado de Denise Carrijo.
EDIÇÃO COMEMORATIVA
Outro ponto marcante desta edição do Palhaçada é que ele celebra 10 anos de existência, com muito o que comemorar. “Conseguimos trazer os maiores grupos de palhaçaria do Brasil para Goiânia, promovemos oficinas que ajudaram os artistas locais na pesquisa do palhaço e incentivaram a criação de novos espetáculos”, avalia Murilo Garcez.
Relembrando a trajetória do Palhaçada, o idealizador do festival ressalta que um grande momento do festival foi a participação da família Colombaione, diretamente da Itália. “Essa família remonta sete gerações circenses e são uma das maiores influências para os grupos, trupes e companhias brasileiras”, explica.
Programação
HOJE
15h – Escola de Circo Dom Fernando | Turma do Biribinha – Espetáculo: Magia (gratuito)
20h – Centro Cultural UFG | Teatro de Anônimo – Espetáculo: Roda Saia Gira Vida
AMANHÃ
9h- Circo Lahetô | Aula-Espetáculo com o palhaço Biribinha (gratuito)
15h – Escola de Circo Dom Fernando | Janaina Morse – Espetáculo: Brisa’s Beach (gratuito)
20h – Centro Cultural UFG | EspumaBruma- Espetáculo: Alfonsina
SÁBADO (13)
15h – Escola de Circo Dom Fernando | Família Santos Santiago – Espetáculo: O Domador de Animais (gratuito)
17h – Centro Cultural UFG | Turma do Birinha – Espetáculo: O Circo do Palhaço Mixuruca
20h- Centro Cultural UFG | Las Cabaças – Espetáculo: O Dia da Caça
DOMINGO (14)
11h – Feira do Cerrado | Saracura do Brejo – Espetáculo: Bambolêro
15h – Escola de Circo Dom Fernando | Las Cabaças – Espetáculo: Semi Breve (gratuito)
17h – Centro Cultural UFG | As Marias da Graça – Espetáculo: Tem Areia no Maiô
20h – Centro Cultural UFG | Turma do Biribinha – Espetáculo: O Reencontro dos Palhaços na Rua é a Alegria do Sol com a Lua
O quê: Festival Palhaçada 2018
Quando: 11 a 14 de janeiro
Quanto: R$ 20 inteira R$ 10 meia – Crianças até 12 anos pagam meia e adultos acompanhantes também
Onde: Centro Cultural da UFG e Escola de Circo Dom Fernando