O perfil do preso brasileiro
Diário da Manhã
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 22:45 | Atualizado há 7 anosEis aí um assunto que pouca gente se preocupa com ele. Os presos brasileiros, na sua maioria, são pretos, pobres, nordestinos e semi-analfabetos. No sistema prisional de Goiás, por exemplo, são mais de 19.000 presos, inclusive com alguns em situação irregular, necessitando que sejam revistos os seus processos pelo Poder Judiciário. O sistema prisional brasileiro, como é do conhecimento público, está falido, longe de atender as necessidades da população carcerária. Os presos não tem nenhuma chance de recuperação. Para recuperá-los, é indispensável que estudem, trabalhem e tenham instruções de cidadania, sem prejuízo do cumprimento integral das penas que lhes foram impostas. Não podemos esquecer que esses indivíduos cometeram crimes e devem ser punidos por isso. Não podemos ignorar que a maioria dos criminosos, antes de serem algozes da sociedade, foram vítimas dessa mesma sociedade, quando lhes negaram o direito de terem uma vida normal como qualquer cidadão. Por essas e outras, é que o estado tem o dever de conhecer melhor a população carcerária e quantos indivíduos ainda respondem processos e inquéritos policiais. O estado precisa conhecer as causas que levaram e levam essas pessoas para o mundo do crime.
O sistema penitenciário é precário, frágil, não recupera e todo mundo sabe. O que não sabemos ou não interessamos saber, é a origem da população carcerária e as causas que levaram os presos à cometerem crimes. Não há nenhuma dúvida que os criminosos devem ser tratados como algozes da sociedade. Entretanto, merecem um tratamento humanizado, mesmo sabendo que eles não agiram dessa forma com as suas vítimas. Por outro lado, não podemos esquecer que a pena não pode passar do apenado.Talvez pelas deficiências do sistema judicial, as famílias dos presos também são punidas na medida em que são obrigadas a acompanhar os parentes às cidades onde deverão cumprir as penas. Diante das dificuldades das famílias, o estado bem que poderia criar condições de trabalho, na cadeia, para os presos ajudarem as família. Não é justo que os parentes dos presos sejam também punidos e nem mantidos pelo erário público.
As autoridades têm que se conscientizarem que o crime não tem fronteiras e nem escolhe classes sociais. Pouco adianta as pessoas ricas se recolherem aos condomínios fechados, contratarem seguranças particulares e andarem de carros blindados. As estatísticas têm mostrado que, mesmo com todo esse aparato de cuidados, essas pessoas não estão livres dos bandidos. Infelizmente somos todos potenciais vítimas das organizações criminosas. Acreditamos que a tentativa de separar ricos de pobres, muito explorada pelos políticos demagogos, apenas caracteriza a falta de isonomia nas oportunidades e a existência de forte exclusão social. O resultado é o estímulo à formação de uma sociedade alternativa, fora da lei, composta por pessoas revoltadas, pobres e excluídas do processo de desenvolvimento do País. É desse grupo que nasce a maioria dos que fazem parte da população carcerária do Brasil. Estas breves linhas sobre o sistema carcerário e sua população, nos leva à pensarmos que não podemos tratar da segurança pública e do sistema prisional sem conhecer a vida pregressa dos sentenciados e as causas que os levaram e levam à cometerem crime. Não é difícil levantar esse diagnóstico, basta apenas olhar para os lados, visitar as periferias, caminhar pelas ruas das grandes cidades e constatar como vivem milhares de irmãos brasileiros. Os mais de 19.000 presos que superlotam os presídios de Goiás, quase todos têm origem no grupo dos excluídos da sociedade. Assim, não há que falar em redução da violência e da criminalidade, sem atacar também as causas do problema. Portanto, mais importante do que construir espaços para colocar presos, é tentar combater as causas que levam esses brasileiros ingressarem no mundo do crime.
(Gercy Joaquim Camêlo, coronel da Reserva Remunerada da Polícia Militar de Goiás)