Homicídios nas escolas
Diário da Manhã
Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 01:10 | Atualizado há 4 meses
Goiás chega ao fim do ano com ocorrências trágicas que, para muitos, precisam ser esquecidas. Mas rememorar esses casos pode revelar semelhanças e fragilidades que o estado ainda enfrenta. Em outubro, um estudante de 14 anos atirou contra colegas de classe, deixando dois mortos e quatro feridos, no Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, na Região Leste de Goiânia. Em agosto, outro caso que chocou o País, um adolescente 13 anos esfaqueou sua vizinha e colega de escola, de 14 anos. Em novembro, outra jovem, de 16 anos, foi assassinada pelo seu ex-namorado dentro de um colégio estadual, em Alexânia, com 11 tiros no rosto.
Embora esses dois eventos tenham causado maior comoção, outros episódios deixaram marcas neste ano. Em novembro, por exemplo, um homem, que estava sendo refém, foi alvejado com um tiro no peito por homens do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), durante uma abordagem súbita ao sequestro. Outros dois casos parecidos, o marceneiro Wallacy Maciel de Farias, de 24 anos, e o adolescente Roberto Campos da Silva, de 16, também foram mortos em abordagens policiais. Nos dois casos, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Divino Alves, admitiu excesso por parte dos PMs.
ATIRADOR DA ESCOLA
Por volta das 11h30 de uma sexta-feira, dia 20 de outubro, um estudante de 14 anos sacou da mochila uma pistola .40 e atirou deliberadamente contra colegas de sala, no Colégio Goyases. O alvo inicial era João Pedro Calembo, de 13 anos, que foi alvejado com 8 tiros e morreu dentro da escola. Em seguida, segundo testemunhas, o garoto começou a atirar contra outros adolescentes, inclusive considerados amigos. O atirador é filho de um major e uma sargento da Polícia Militar do Estado de Goiás e utilizava a arma de sua mãe, que está licenciada.
O menino disse à polícia que decidiu fazer os disparos porque sofria bullying, sendo João Pedro Calembo o principal desafeto do atirador. Outros colegas alegaram que ele era chamado de “fedorento”. Os demais disparos mataram João Vitor Gomes, de 13 anos, e deixaram dois meninos e uma menina feridos, a última em estado grave. De acordo com testemunhas, o jovem chegou a apontar a arma para a própria cabeça, mas foi convencido pela coordenadora a não disparar.
No fim de novembro, a Justiça de Goiás condenou o adolescente à pena máxima de 3 anos de reclusão em um centro de internação, no interior do estado. O adolescente tem direito à duas horas de visita por semana e convive isolado dos demais internados por questão de segurança. O laudo psiquiátrico, que poderia livrar o garoto da pena, não apontou nenhuma anomalia ou patologia.
ADOLESCENTE ESFAQUEADA
Na tarde da quarta-feira, 23 de agosto, um adolescente de 13 anos foi apreendido suspeito de esfaquear e matar a vizinha Tamires Paula de Almeida, de 14 anos. O caso aconteceu no 5º andar de um prédio residencial no setor Jardim América. Ambos estudavam na mesma escola, onde o garoto confessou o crime ao coordenador. O caso aconteceu por volta das 13h00, quando eles se encontraram no elevador para ir à escola. Ele teria arrastado a jovem até a escadaria, onde atingiu a vítima com cerca de dez facadas, espalhadas pelos braços, pescoço e tórax.
De acordo com o capitão da Polícia Militar Leonildo Alves de Moraes Júnior, uma pessoa passou pelo corredor e se deparou com o corpo da adolescente. Sem saber de quem se tratava, pediu ajuda no apartamento da mãe da menina, que se deparou com o corpo da filha. Após o crime, o menino foi para a escola e confessou o ato ao coordenador. O caso ainda não foi concluído e, assim como o atirador da escola, o jovem pode ser condenado, no máximo, a três anos de internação.
11 TIROS NO ROSTO
Na manhã da segunda-feira, dia 6 de novembro, apenas 17 dias após o caso do atirador do Colégio Goyases, a estudante Raphaella Noviski Romano, de 16 anos, foi morta a tiros dentro de uma escola estadual em Alexânia, no Entorno do Distrito Federal. De acordo com a delegada Rafaela Azzi, responsável pelo caso, Misael Pereira Olair, de 19 anos, foi preso em flagrante logo após disparar 11 vezes no rosto da vítima. O homem é ex-aluno do Colégio Estadual 13 Maio, onde o crime aconteceu. Raphaela cursava o 9º ano do ensino fundamental.
Segundo depoimento do acusado, ele conhecia a vítima há muitos anos e “sentia muito ódio da menina” por tentar namorar com ela e ser rejeitado. Ainda de acordo com Misael, ele comprou a arma e foi até a escola procurar pela garota, entrou na primeira sala de aula do corredor principal, mas não a encontrou. Em seguida, foi direto à sala onde a jovem se encontrava e realizou os disparos contra ela, que morreu no local. Ele utilizou uma máscara para invadir o colégio.
Misael tentou fugir da escola em um Ford Scort, com a ajuda do comerciante Davi José de Souza, de 49 anos, que alegou não saber que o jovem estava cometendo um crime e que foi obrigado a dirigir. O carro foi interceptado pela Polícia Militar e ambos foram presos. O caso ainda não foi concluído e o homem permanece preso em Alexânia. No dia 9 de novembro, a Polícia Civil pediu o exame psicológico do acusado. A delegada responsável pelo caso, Rafaela Azzi, disse que ele se mostrou arrependido, dando a entender que tem depressão e, por isso, solicitou o laudo ao Instituto de Criminalística de Goiânia para constituir com mais detalhes o perfil do acusado.
MORTES POR POLICIAIS
Além dos casos de homicídios nas escolas, 2017 foi um ano marcado por mortes envolvendo policiais militares. No sábado, dia 25 de novembro, um assaltante menor de idade e um homem, que conduzia um veículo e estava sendo feito refém foram mortos pela Polícia Militar em uma abordagem ao veículo. O auxiliar de produção, de 31 anos, Tiago Messias Ribeiro, foi obrigado a dirigir seu próprio carro, um VW Gol, enquanto transportava o adolescente, de 17 anos, em Senador Canedo. O veículo foi interceptado na Avenida Dom Emanuel por homens do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), que efetuaram 19 disparos contra o carro. Diversos tiros atingiram o sequestrador e um deles o peito do auxiliar de produção, que morreu no local.
Em seguida, os agentes retiraram o corpo de Gilmar do veículo e o colocaram no porta-malas de uma viatura da Polícia Militar, enquanto outro oficial do GPT efetuou disparos no para-brisa do carro, de dentro para fora. Imagens de uma câmera da Prefeitura de Senador Canedo e de um posto de combustíveis registraram a ação. Os autores dos 19 disparos foram o sargento Gilmar Alves dos Santos, de 39 anos, e o oficial Paulo Márcio Tavares. O capitão da Polícia Militar, Pedro Rodrigues dos Santos Junior, encaminhou um pedido de prisão preventiva dos militares envolvidos no caso à Justiça Militar Estadual.
Em setembro deste ano, Wallacy Maciel de Farias, de 24 anos, foi abordado por policiais militares, há cerca de 1km de sua casa, e alvejado com dois tiros. O jovem morreu no local e, em nota, a PM disse que houve troca de tiros e que os policiais agiram em legítima defesa. Os familiares se mobilizaram, pedindo esclarecimento e justiça sobre o caso. O comandante geral da Polícia Militar, coronel Divino Alves, confirmou que houve excesso por parte do policial que matou Wallacy, após a divulgação de um vídeo da abordagem.
Já em abril, outro caso de homicídio envolvendo PMs resultou na morte do estudante Roberto Campos da Silva, conhecido como Robertinho, de 16 anos. Na ocasião, três policiais à paisana desligaram o padrão de energia da casa do jovem e, quando ele e seu pai, Roberto Lourenço da Silva, abriram o portão, foram recebidos a tiros pelos PMs.
Segundo os militares envolvidos Paulo Antônio de Souza Junior, Rogério Rangel Araújo Silva e Cláudio Henrique da Silva, eles agiram em legítima defesa após o pai do jovem efetuar um disparo. Após investigação do caso, o Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou os soldados pelos crimes de tentativa de homicídio, homicídio triplamente qualificado, abuso de autoridade e fraude processual. Em agosto, a reconstituição do crime e a coleta dos depoimentos das últimas testemunhas foram realizados. O inquérito ainda não teve conclusão.