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O rei do show

Diário da Manhã

Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 23:40 | Atualizado há 4 meses

O Rei do Show conta a histó­ria real de Phineas Taylor Barnum, ou P. T. Barnum, que ganhou ao longo de sua vida di­versos apelidos. Desde os mais res­peitáveis como o “pai do pop” e “o avô da publicidade” até os mais de­sonrosos como “o pai da falcatrua”. Mas Barnum não ligava e aceitava qualquer tipo de publicidade, des­de que falassem sobre ele. Nasceu garoto pobre e conseguiu revolu­cionar o show business ao criar o conceito que conhecemos hoje de circo – com tenda e apresentações dos diversos tipos. Em seu tempo, viajou para vários lugares com as chamadas “aberrações” – pessoas com deformidades ou padrões fí­sicos “distintos” do que a sociedade pregava como perfeito. Pessoas ex­cluídas e relegadas ao esquecimento, que nas mãos de Barnum, ganharam fama, casa e um lugar para chamar de família. Barnum foi o rei do show business, sim, mas, principalmente, foi o pai dos renegados.

É interessante que O Rei do Show conte sua trajetória de vida sob o aspecto de um musical. Um musical atemporal pois utiliza o pop como modelo para as can­ções – algo perfeito para falar de um homem que foi o responsá­vel pela reformulação da indústria do entretenimento. As músicas de Justin Paul e Benj Pasek – a mesma dupla responsável pelas inesque­cíveis canções do maravilhoso La La Land – captam a genuína emo­ção de sua vida, como também as nuances dos percalços vividos por Barnum e parte de seus “esquisi­tões”. Todas as músicas desenvol­vem a trama e auxiliam no ritmo e no desenvolvimento da narrativa. Ajudam, inclusive, a se criar uma edição que favorece a condução da história de maneira fluente, sem enrolações ou gorduras por parte do roteiro.

Barnum já ganhou uma biogra­fia para o cinema pelas mãos de Ce­cil B. De Mille, no clássico de 1952 chamado O Grande Espetáculo da Terra. Ali têm-se uma profundida­de maior na vida de Barnum, e se O Rei do Show narra o superficial, apenas, ele o faz com o brilhantis­mo das belíssimas e empolgantes canções – todas são ótimas – e apro­veita a beleza do mundo artístico de Barnum para criar um visual apaixo­nante, com coreografias extasiantes que extraí o melhor de seu elenco. É impossível não se divertir, empolgar e mexer o esqueleto com o espetá­culo que é O Rei do Show.

Proveniente do departamento de efeitos visuais, O Rei do Show marca a estreia de Michael Gra­cey como diretor. Gracey ainda precisa de certo apuro dramá­tico para construir algumas ce­nas, que só ganham força por causa das músicas, porém, fil­ma com dinamismo e ritmo fre­nético as coreografias e cria um musical cujos momentos musi­cais são genuinamente tocantes e empolgantes de acompanhar.

O roteiro de Jenny Bicks e Bill Condon – este último um diretor excepcional de obras como Sr. Sher­lock Holmes e o sucesso A Bela e a Fera deste ano – busca na emoção já existente na trajetória de supe­ração o fio condutor da narrativa e das mensagens do filme. Aceitar quem você é, amar quem está sem­pre ao seu lado e nunca se deixar cegar pelo sucesso são parte das li­ções, e todas transmitidas com sim­plicidade, mas que ganham mui­ta emoção ao trabalhar em favor das músicas.

O elenco é excelente. Hugh Jackman, claro, é o centro e o maior favorecido pelo roteiro. Encarna P. T Barnum com o entusiasmo de sem­pre, e é nítido em sua performance o prazer de se fazer musicais. Sua química com Michelle Williams é um deleite. Zac Efron e Zendaya não ganham muita profundidade, mas não comprometem e agregam carisma e vitalidade ao projeto. O mesmo para a trupe dos “esquisi­tos”, que é encabeçada pela mu­lher barbuda interpretada de ma­neira memorável por Keala Seattle – a musa do filme responsável por cantar o hit This Is Me.

O Rei do Show é o filme apaixo­nante deste ano. A trama de supe­ração e nunca ter vergonha de ser quem você é mostra-se fundamen­tal para o tempo em que vivemos. Uma obra que já ganhou lugar ca­tivo em meu coração, com músicas memoráveis e que vão ser hinos de muitos que lutam pelo lugar ao sol. Um filme lindo. Exuberante. Com­pletamente irresistível.

(MatthewVilela, jornalis­ta, comentarista de cinema do Diário da Manhã e do blog “Blog do Matthew”)

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