Maçonaria prega parlamentarismo no Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 25 de dezembro de 2017 às 23:07 | Atualizado há 4 meses
O secretário-geral da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB), Jordão Abreu da Silva Júnior, ratificou a decisão tomada por todas as Grandes Lojas Maçônicas do Brasil de que a solução política para o país é a adoção do regime parlamentarista de governo. “É um modo mais dinâmico de governo em relação ao presidencialismo. Acreditamos que se estivéssemos vivendo no parlamentarismo todos esses problemas que hoje passa o governo Temer e passou a presidente Dilma seriam resolvidos com muito maior facilidade”, explica.
De passagem por Goiânia, onde acompanhou a visita do presidente da Confederação Maçônica Interamericana (CMI), Oscar de Alfonso Ortega, Jordão observou o que está em discussão no País e não se esquivou de comentar questões fundamentais para a superação de dificuldades no Brasil atual. Ele é oficial da Aeronáutica aposentado que vive em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é paulista e aos 65 anos tem dedicação notável para a causa maçônica. Considerando-se “tradicional” ele opina com desenvoltura sobre assuntos nevrálgicos, critica a ideologia de gênero, o materialismo reinante e políticos que caíram em desgraça em processos de corrupção.
Em entrevista ao Diário da Manhã Jordão Abreu Júnior ressaltou acreditar no Brasil, mas pondera não ter esperança de que haverão grandes progressos para a superação dessas dificuldades atuais. Para as eleições de 2018 o líder da maçonaria diz não acreditar que aconteçam mudanças substanciais pela simples razão de que “a pedra fundamental do jogo não mudou”, que é o eleitor, aqueles que vão escolher os políticos. “Nós continuamos os mesmos, vulneráveis a promessas vãs, a compras de votos e não fizemos nada para mudar quem vai escolher o governante. Falou também sobre a participação de maçons na política e como também são vulneráveis à corrupção quando são absorvidos na política, discorreu sobre o papel da maçonaria na organização social do Brasil e como maçons devem intervir na política e na sociedade para melhorar o mundo que vivemos. Jordão Abreu da Silva Júnior é casado, pai de cinco filhos e avô de seis netos. Serviu 30 anos na Força Aérea Brasileira e cuida da chácara onde vive, além do hobby de ser marceneiro.
ENTREVISTA – JORDÃO ABREU DA SILVA
DM – Como o senhor vê os principais desafios dos maçons sobre atuar para melhorar a sociedade e o mundo?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Eu sou um maçom extremamente tradicional e vejo a maçonaria como uma única finalidade que é a mudança do homem. O homem mudado consegue mudar e melhorar o mundo. Ao longo da história a maçonaria esteve sempre perto do conflito, porque o homem aperfeiçoado por ela não admite a injustiça, a falcatrua e a corrupção. É normal que esses homens aperfeiçoados pela maçonaria convivam nessa zona de conflito. Mais do que nunca a maçonaria precisa reforçar os seus princípios para dar a esses homens o porto seguro onde eles possam dividir entre si essas responsabilidades, esses temores e não raro as nossas decepções. Então o papel da maçonaria em toda a sua vida é extremamente de conforto e segurança para quem nela congrega, porque ela sempre esteve próxima do conflito.
DM – Vivemos um Brasil de grandes conflitos ideológicos. Como trazer isso para a racionalidade?
Jordão Abreu da Silva Júnior – O que se passa hoje no Brasil e no mundo é resultado das novas correntes filosóficas, que no afã de mudar o mundo, desqualificam todo conhecimento intelectual construído pelas gerações anteriores. Alegam tais filósofos que falhamos e aquilo que a duras penas foi construído está tudo errado. Profetizam eles que a religião e a própria educação, não nos conduziram até então, a um porto seguro e despejam sobre a humanidade novas teorias que renegam não só esses valores, mas também a própria condição natural de homem e mulher, tal a ideologia do gênero. A filosofia grega defendendo a moral e a ética nos conduziu a nada, segundo os novos pensadores. Para os maçons este pensamento não prospera. Os valores pregados pela Maçonaria estão de forma firme e inabalável calcados na religiosidade, na moral e nos avanços intelectuais da humanidade. Os maçons não comungam com este pensamento moderno que tenta destruir tudo o que já foi construído e a Maçonaria continua a nos alimentar das mesmas esperanças e forças necessárias para este embate. Como antes, e hoje é, e sempre será, para ser maçom é necessário a crença em Deus e na espiritualidade.
DM – Reunidos em julho no Rio de Janeiro os maçons deliberaram sobre a adoção do parlamentarismo como saída para o Brasil. O senhor pode comentar isso?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Entendemos que o parlamentarismo é uma forma de governo mais dinâmica que o presidencialismo. Acreditamos que se estivéssemos vivendo no parlamentarismo todos esses problemas que hoje passa o governo Temer e passou o governo da presidente Dilma Rousseff não teriam prosperado, teriam sido repudiados logo que surgissem. O primeiro-ministro, que é o chefe do governo, seria trocado em traumas com rapidez e esses escândalos todos seriam evitados no governo. Uma vez afastado o governante responde por seus atos e o país retoma a sua agenda de crescimento e prosperidade ou de saneamento dos problemas. Não se perde muito tempo em resolver problemas políticos. Os problemas administrativos e gerenciais são solucionados de forma muito mais rápida. A troca de um governo é muito menos traumática sem acusações de golpe. Resumidamente é isso que favorece. É uma coisa normal, respeitada a democracia e o direito de defesa, a transição normal de um governo. A continuidade do governo em outras mãos, outro posicionamento à frente do parlamento com um primeiro-ministro de maior aceitação e com confiança de seus pares.
DM – O senhor estima que o presidencialismo esgotou suas possibilidades de apresentar solução para o Brasil?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Sem dúvida. Principalmente pelo tamanho e extensão geográfica do Brasil. Se olharmos as 20 maiores potências do mundo só duas são presidencialistas: os Estados Unidos e o Brasil. Nós não temos condições de gerenciar e administrar um país com essa extensão nas mãos de um único homem. Eu tenho certeza absoluta que o presidencialismo só deu certo no Brasil pela pressão e pela nossa ignorância. Por mais boa fé e boa vontade que um homem tenha ele não tem condições de governar um país do tamanho do Brasil.
DM – Outra propositura foi a prioridade para eleger apenas políticos ficha-limpa. Isso é imprescindível?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Sim, com toda certeza. Mas, eu não tenho esperança que isso vá resolver alguma coisa. Vou dar um exemplo. Recentemente tivemos uma votação popular para a escolha de qual cantor irá entoar o hino nacional na Rússia na abertura da Copa do Mundo de futebol em 2018. A escolha popular recaiu sobre um cantor chamado Pablo Vittar. Ele não canta nada, absolutamente nada, mas ele encarna uma figura que está em evidência agora. Independente do que ele seja, até porque nós não temos esse preconceito, mas ele não canta nada, ele grita. E foi escolhido pelo povo. A partir daí não me assusta as más escolhas no futuro. Eu vejo com muita cautela essa eleição de 2018, porque a pedra fundamental do jogo não mudou e são aqueles que vão escolher esses políticos. Nós continuamos os mesmos, vulneráveis a promessas vãs, a compras de votos. Não fizemos nada para mudar quem vai escolher o governante. Eu não tenho esperança de grandes progressos. É lógico que parte da população está orientada de forma diferente, mas não é o suficiente para que a maioria escolha de forma correta. Vejo com bons olhos a atuação de promotores e juízes de primeira instância que estão passando o Brasil a limpo. Acho que nosso país não tem mais retorno, creio que vá seguir adiante sendo passado a limpo, ainda que a passos lentos. Nenhuma nação mudou da noite para o dia. Tudo isso é um processo lento e de maturação da consciência geral. Mas, a grande massa da população brasileira ainda padece de vícios grandes e esses vícios vão se apresentar agora na escolha dos nossos políticos. Por isso estou certo que a mudança nos políticos e mandatários eleitos em 2018 não será grande coisa. A renovação será pequena e os que deveriam ser excluídos da política vão encontrar meios para ludibriar o povo. E o povo acredita fácil e esquece fácil.
DM – Como o senhor vê a participação de maçons na política?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Vejo como de extrema necessidade a ação efetiva dos maçons na política, porque o homem transformado pela maçonaria tem a obrigação de ser um melhor filho, um melhor pai, uma pessoa mais politizada no sentido estrito da palavra, não de ficar discutindo política em botequim, mas de cobrar de quem exerce o poder uma atitude coerente, ética com o povo. Ninguém melhor do que um maçom para assumir esse papel na sociedade. Se ele não quiser se candidatar que ele seja um fiscal dos seus candidatos. A maçonaria tem na sua legislação uma forma de cobrar de todos os seus membros que ajam com ética. Então, temos os meios de cobrar de nossos irmãos o cumprimento de preceitos éticos. Ocorre que a maçonaria também não é um partido político e não vai contra a consciência da pessoa. Eu tenho ouvido muito e concordo que temos de criar meios para promover maçons na política e não aceitar políticos na maçonaria. O homem que uma vez tome conhecimento de nossos princípios, nossa doutrina e filosofia ele se habilita à carreira política. Mas, há progressos também muito pouco sentidos e de pouca relevância. Se pegarmos o Congresso hoje há cerca de 140 maçons distribuídos nas duas casas. Até o presidente Temer é mestre-maçom [do Grande Oriente do Brasil] e o avanço foi muito pouco porque o jogo de interesses é muito grande. A maçonaria não tem conseguido sustentar seus princípios nessa seara.
DM – A dificuldade está no método ou no objetivo?
Jordão Abreu da Silva Júnior Eu creio que está naquele patamar. Quando nossos obreiros chegam na esfera do poder parece que são meio que absorvidos, sufocados pelo sistema. Eles vêm bem até certo ponto e sucumbem. A solução para o Brasil é o parlamentarismo que é uma forma muito mais dinâmica de governo, que tem condições de apresentar soluções quando houver a ruptura de liderança com a Casa que lhe dá suporte, rapidamente termos um outro líder à frente do País e o parlamento ser responsável pelos anseios do Brasil. Isso permite também uma reoxigenação, uma renovação da política muito mais rapidamente e é isso que temos visto através da história e como uma forma de governo mais apropriada. O país todo precisa de uma maior reoxigenação. Estamos meio que parados no tempo.
DM – O senhor tem esperança no Brasil?
Jordão Abreu da Silva Júnior – Muita. A cada dia renovo essa esperança.
O que se passa hoje no Brasil e no mundo é resultado das novas correntes filosóficas, que, no afã de mudar o mundo, desqualificam todo conhecimento intelectual construído pelas gerações anteriores”