Somos herdeiros do cunhadismo
Redação DM
Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 02:15 | Atualizado há 7 anosO jornalismo, em geral, só se interessa por escândalos e calamidades extremas. Misérias cotidianas parecem-lhe coisas amenas. Não movem suas antenas.
Para reunir nossos pedaços devemos recuperar a lembrança de quando fomos inteiros.
O cunhadismo, afiliado e afilhado gerador e mantenedor do nepotismo, é o guarda-chuva que abriu-se na então paradisíaca Terra de Santa Cruz, logo após aportarem no paraíso os intrépidos gajos portugueses
O cunhadismo constituiu a entropia inicial – a força inercial da entropia e do jeitinho, presente na vida brasileira, desde seus primeiros dias.
Sombra atávica do protecionismo macunaímico, sob a qual prosperam como praga os males da preguiça e do mau-caratismo.
“Mais ou menos isso, amor interessa aos donos do poder nós dois infelizes e conformados
– interessa tanto como nós dois bem felizes e conformados nós dois bem e inconformados
– isso não interessa, amor!” *
* José Angelo Gaiarsa
Parangolés da gramatiquice
O pior acontece, quando os maus, os pérfidos e perversos, os invejosos e os mal-intencionados são os que sempre estão a prometer “dar o melhor de si”.
Ruim é não economizam em dar o que de pior neles existe.
Pela boca dela” o dentista tarado daria uma boiada em cacofonias – outros bois acrescentaria, para dar-se ao direito de, com a mão no boticão, pespegar-lhe um beijo de língua.
Em colisões de fonemas e dissonâncias consonantais acabou conhecido como o chato gramatical a ser evitado até por rodas de bêbados entendidos no assunto.
A hiatos intervalados com anacolutos, cacófatos, solecismos e apotegmas da sintaxe, somam-se outros sons estrambóticos, de parangolés idiomáticos – todos desagradáveis aos olhos e ouvidos.
Pelos usos e costumes do gerundismo, quando alguém diz que “vai estar passando” a ligação ao encarregado, é sinal de que está nos enrolando, com elegância e educação compulsórias.
Por temer-se o confronto com resultados não desejados, certos encontros de contas são colocados no infinitivo do improvável.
Muitos, hipertensos optativos, assim se tornaram por colocar demasiada tensão em tudo o que pensam, falam ou fazem.
Nesta vida uma categoria de gente que não faz outra coisa senão pedir permissão para continuar a ser permissiva.
(Brasigóis Felício é escritor e jornalista. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras)