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Os 80 anos do Lyceu em Goiânia

Diário da Manhã

Publicado em 29 de novembro de 2017 às 00:30 | Atualizado há 4 meses

Olhar para o Centro de En­sino em Período Integral (C.E.P.I) – Lyceu de Goiâ­nia atualmente é ao mesmo tem­po encarar um passado de glória e um presente de resistência. Cria­do como referência educacional em 1748, formou grandes prota­gonistas da sociedade atual. Sua arquitetura art déco elegante já serviu como palco de importan­tes movimentos estudantis – tan­to na ditadura quanto atualmente na ocupação das escolas contra as Os. Por estes e mais alguns fatores o local chega aos 80 anos contabi­lizando muitas conquistas, desa­fios e choques de interesses.

Nesta data emblemática, por exemplo, o colégio tem sido vis­to com certa desconfiança aos in­teresses comerciais de um sho­pping localizado nas imediações da escola, que, com a intenção de “moralizar” o centro, através de um abaixo assinado – que recen­temente circulou nas redes so­ciais. A intenção é transformar o Lyceu em colégio militar, e tal do­cumento seria encaminhado para a Assembleia Legislativa de Goiás para auxiliar a instruir um proje­to de lei.

Por outro lado, o Lyceu de Goi­ânia guarda em seu interior um trabalho referência no Brasil sobre como abordar a arte e a cultura nas escolas através da concretiza­ção do Teatro Sonhus, que está há mais de 20 anos na área anexa ao colégio. Na proposta, os atores do Grupo Sonhus Teatro Ritual tam­bém são professores de teatro e oferecem a disciplina eletiva de te­atro. E ano que vem se tornará um curso técnico em Teatro.

O ex-aluno e agora professor de teatro no colégio, o ator e produ­tor cultural Nando Rocha, é um dos idealizadores do Grupo So­nhus, e completamente contra a transformação em colégio militar do Lyceu. Para ele, esta seria uma forma equivocada de lutar contra a criminalidade e faria com que a escola perdesse uma miscigena­ção histórica de 80 anos.

“Sem qualquer pesquisa fun­damentada, acreditam que a mili­tarização poderá solucionar o pro­blema da criminalidade, que nada tem a ver com a escola. E o que é pior, sequer consideram a ques­tão educacional e pedagógica, não pensam nos alunos e na formação de seres humanos, no processo educativo, na formação do conhe­cimento e da cidadania, pensam apenas nos lucros de suas vendas”, argumenta Nando Rocha.

DIA CHEIO

Para reforçar, o Teatro So­nhus, juntamente com o colé­gio, programou uma comemo­ração de aniversário que mostra para a sociedade que a nova ge­ração do colégio pode ser tam­bém muito promissora, se ti­ver incentivo. Com as atividades que acontecem hoje, a partir das 8h e seguem até por volta das 16h30, alunos e ex-alunos esta­rão unidos para mostrar uma história que continua viva.

Assim, durante todo o dia estão previstas exposições, troféus rece­bidos pela tradicional Banda Mar­cial, fotos, objetos antigos da his­tória do colégio. Edenize Ribeiro e Pedro Dantas, ex-alunos que tor­naram-se artistas plásticos, tam­bém prepararam uma exposição para o dia de hoje na escola.

E no rol dos nomes ilustres que já estudaram no Lyceu está Amaury Menezes, um decano na história da arte goiana e es­pecialista em pincelar a alma dos moradores da cidade em seu quadros, que também par­ticipará dos 80 anos do colégio. Ele irá ministrar uma palestra sobre sua trajetória pictórica e compartilhará alguns dos pro­cessos de sua arte.

Também já confirmaram pre­sença no evento ex-alunos de des­taque, exemplo da cantora Gra­ce Carvalho, do produtor Carlos Brandão, do cineasta Angelo Lima e do escritor Luiz Aquino.

PEÇA LABIRÍNTICA

Com a participação do es­pecial do Coro Ciranda da Arte, “Lyceu 8.0” é um espetáculo de teatro labiríntico, que convida o público a percorrer vários am­bientes e blocos do prédio da es­cola. A ideia não é só contar fa­tos emblemáticos do colégio, como também abordar as rela­ções de ensino e de aprendiza­gem entre quem ensina e quem aprende. “Os textos e ações en­cenadas tentam referenciar esse tempo ao qual todos se dedicam a aprender, o tempo de estudan­

 

O Lyceu ontem e hoje

Ele formou grandes nomes da literatura, a exemplo de Bernar­do Elis e os irmãos Mendonça Te­les (José e Gilberto). Passaram por suas salas protagonistas da admi­nistração atual, como o prefeito Iris Rezende, secretária de Estado da Educação, Cultura e Esporte (Sedu­ce), Raquel Teixeira, e o ministro da Fazenda do Brasil, Henrique Mei­relles. Sim, a lista de nomes ilustres que estudaram – Lyceu de Goiânia, é imensa e não acaba aqui.

A sua história também não. Fun­dado em 1748, quando Goiás ain­da era uma província, na cidade de Goiás (Vila Boa), foi transferido para a atual capital do Estado em 1937. Nesta época, mudou de nome, e de Colégio de Pedro II, passou a se cha­mar Lyceu, em referência à esco­la criada na Grécia Antiga por Aris­tóteles. Desde então se firmou não apenas como um centro de ensino, como político e cultural.

Sobre os diferentes aspectos que rondam a história do colégio conversamos com alguns ex-alu­nos, como o produtor cultural Car­los Brandão e Nando Rocha, e o artista plástico Gutto Lemes, que deram depoimentos que ajudam a entender o valor do Lyceu de Goiâ­nia após 80 anos de história.

Carlos Brandão – Produtor cul­tural: “Lyceu tem a alma libertá­ria.”

Estudei no Lyceu em 1969 e 1970. Mas como ele era centro das ma­nifestações políticas estudantis da época contra a ditadura militar, eu o frequentava desde 66 e 67. Conhe­cia todo mundo e ía muito nas ativi­dades do Grêmio Estudantil. O que mais marcou que era um colégio muito libertário. Tinha os “maurici­nhos” da época que levavam lanche e faziam um piquenique comunitá­rio. Na década de 70, o colégio esta­va inserido em toda aquela criativi­dade e luta da época. O Lyceu foi até cercado pelo Exército e nós ficamos fechados lá durante dois dias. Era muito atuante. Hoje tem gente mui­to interessante, que tem o mesmo espírito da década de 70, trabalhei no colégio como professor de produção cultural e vi que só por ser o Lyceu, cria pessoas libertárias.

Nando Rocha – Um dos idealizadores do Teatro So­nhus – “primeiro palco de ar­tistas”.

O Grupo Sonhus Teatro Ritual foi criado no ano de 1996, quando eu, Pablo An­gelino, Ruber Paulo, Maira Brisa, Miguel Jabur e outros colegas ainda éramos alunos do Ensino Médio no Lyceu. Na época, o Grupo agitava as atividades cultu­rais da escola apresentando espetá­culos e levando para a escola outras atrações musicais ou de artes visu­ais e outras atrações artísticas. An­tes do Espaço Sonhus o Lyceu tinha apenas um auditório não equipa­do, que no ano de 2013, quando o Grupo Sonhus Teatro Ritual pro­pôs a criação do Espaço Sonhus, es­tava sendo usado como depósito de livros e cadeiras estragadas. O Ly­ceu teve como alunos muitos artis­tas atuantes na cidade ou vivendo agora em outros Estados brasilei­ros ou no exterior. Esses artistas ti­veram na escola seu primeiro espa­ço para expressarem sua arte, seus pensamentos.

Gutto Lemes – Artista plástico e guia turístico – “Falta preservação”.

A importância do Lyceu é muito grande. Os únicos prédios de ensi­no de Goiânia tombados nacional­mente são o Lyceu e o IFG. O Lyceu tem a arquitetura mista, seu telhado conserva o modelo ainda colonial e os muros e fachada de entrada pre­servam o estilo art déco. Mas nele são feitas apenas reformas parciais e algumas maquiagens! Foram fei­tas pinturas que não correspondem à paleta de cores estabelecidas pelo Iphan. É lamentável que um prédio histórico, tombado onde grandes personalidades de Goiânia já estu­daram, se encontre em total preca­riedade! Gostaria que as ilustres personalidades que ali estudaram ajudassem a fortalecer a história e revitalização daquele espaço. Esse é

 

Confira a programação completa do evento

 

PERÍODO MATUTINO

8h – Abertura – Hino Nacional

8h10 – Espetáculo Lyceu 8.0 com alunos do teatro do Lyceu, equipe Es­paço Sonhus e a participação especial do Coro Ciranda da Arte

9h30 – Café Comunitário

10h – Culto Ecumênico

10h25 – Composição da Mesa – Discurso

11h – Parabéns ao Lyceu de Goiânia – 80 anos

Exposição de objetos históricos do Lyceu de Goiânia (durante todo o dia)

PERÍODO VESPERTINO (ABERTO AO PÚBLICO GERAL)

13h30 – Palestra com o artista plástico Amaury Menezes

14h – Apresentação Cultural – Dança – dos alunos dos 2º e 3º anos em homenagem ao Lyceu

15h – Oficina com a Equipe da Legião de Escritores

15h15 – Apresentação Banda Marcial

15h30 – Exposições: Professor doutor Henrique Lima Assis, aluno Pedro Dantas; artista plástica e professora de Arte do Lyceu de Goiânia – Ede­nize Ribeiro, artística dos alunos do Lyceu de Goiânia

16h30 – Apresentação Musical – Banda The Darkness


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