Opinião

MP 774: prejuízos para o comércio exterior

Diário da Manhã

Publicado em 8 de julho de 2017 às 00:43 | Atualizado há 8 anos

Mais de um ano de­pois do fim do rei­na­do do lu­lo­pe­tis­mo, que se ca­rac­te­ri­zou por 13 anos de ma­cro­cor­rup­ção e as­sal­to aos co­fres pú­bli­cos, co­mo mos­tra re­cen­te sen­ten­ça do ju­iz fe­de­ral Ser­gio Mo­ro pa­ra um ex-mi­nis­tro-che­fe da Ca­sa Ci­vil, o atu­al go­ver­no-tam­pão ain­da es­tá em di­fi­cul­da­des pa­ra re­or­de­nar as di­re­tri­zes eco­nô­mi­cas do Pa­ís.

Um exem­plo é a me­di­da pro­vi­só­ria (MP) nº 774, de 30/3/2017, que es­ta­be­le­ce al­te­ra­ções na Lei nº 12.546, de 14/12/2011, que dis­põe so­bre a con­tri­bui­ção pre­vi­den­ci­á­ria so­bre a re­cei­ta bru­ta. As no­vas re­gras, que re­du­zi­ram o nú­me­ro de ati­vi­da­des que po­dem re­co­lher a con­tri­bui­ção pre­vi­den­ci­á­ria com ba­se na re­cei­ta, pas­sa­ram a ser apli­ca­das des­de o dia 1º de ju­lho de 2017, pa­ra re­co­lhi­men­to em agos­to.

De acor­do com a me­di­da pro­vi­só­ria, só em­pre­sas de tran­spor­te ro­do­vi­á­rio co­le­ti­vo de pas­sa­gei­ros, com iti­ne­rá­rio fi­xo, tran­spor­te fer­ro­vi­á­rio de pas­sa­gei­ros, tran­spor­te me­tro­fer­ro­vi­á­rio de pas­sa­gei­ros, do se­tor de cons­tru­ção ci­vil, de cons­tru­ção de obras de in­fra­es­tru­tu­ra e em­pre­sas jor­na­lís­ti­cas e de ra­di­o­di­fu­são so­no­ra e de sons e ima­gens po­de­rão con­ti­nu­ar a apu­rar a con­tri­bui­ção pre­vi­den­ci­á­ria com ba­se na re­cei­ta bru­ta. As de­mais em­pre­sas que não de­sen­vol­vem ati­vi­da­des “de­so­ne­ra­das” têm de re­co­lher a con­tri­bui­ção pre­vi­den­ci­á­ria pa­tro­nal com ba­se na fo­lha pa­ga­men­to.

Is­so sig­ni­fi­ca que as in­dús­tri­as, ao la­do das em­pre­sas de co­mér­cio va­re­jis­ta e as pres­ta­do­ras de ser­vi­ço, dei­xam de usu­fru­ir de de­so­ne­ra­ção da fo­lha de pa­ga­men­to. E que, por­tan­to, as ven­das de pro­du­tos in­dus­tri­a­li­za­dos pa­ra o ex­te­ri­or de­ve­rão ser pro­fun­da­men­te afe­ta­das. Se­gun­do da­dos da As­so­cia­ção Bra­si­lei­ra de Má­qui­nas e Equi­pa­men­tos (Abi­maq), com es­sa re­o­ne­ra­ção, ha­ve­rá um au­men­to mé­dio de 4% nos cus­tos so­bre a re­cei­ta lí­qui­da de ven­das pa­ra o ex­por­ta­dor.

Em ou­tras pa­la­vras: se a co­lo­ca­ção do pro­du­to bra­si­lei­ro no mer­ca­do ex­ter­no já es­ta­va di­fí­cil, não é di­fí­cil pre­ver que ha­ve­rá uma re­du­ção ain­da mai­or nes­sa par­ti­ci­pa­ção, pois, nes­te di­as de di­fi­cul­da­des, já não há mar­gem pa­ra a in­dús­tria ab­sor­ver es­sa ele­va­ção de cus­to. É de se lem­brar que, nes­te ano de 2017, o se­tor de bens de ca­pi­tal já vi­nha fa­tu­ran­do me­ta­de do que fa­tu­ra­va em 2013 e que, ao que tu­do in­di­ca, as pers­pec­ti­vas tor­nam-se mais som­bri­as.

De fa­to, se­gun­do cál­cu­los da Abi­maq, a me­di­da vai im­pli­car na re­du­ção das ex­por­ta­ções em cer­ca de 20%, o que equi­va­le a uma per­da de re­cei­ta por ano da or­dem de US$ 1,5 bi­lhão (cer­ca de R$ 5 bi­lhões). Ou se­ja, se a re­cu­pe­ra­ção eco­nô­mi­ca pas­sa por uma mai­or par­ti­ci­pa­ção do Pa­ís no co­mér­cio glo­bal, pa­re­ce cla­ro que a me­di­da é de uma in­sen­sa­tez fla­gran­te, pois, apa­ren­te­men­te, só es­tá le­van­do em con­ta a ne­ces­si­da­de de me­lho­rar o flu­xo de cai­xa do go­ver­no.

A MP nº 774 tam­bém re­vo­gou o dis­po­si­ti­vo le­gal (pa­rá­gra­fo 21 do ar­ti­go 8º da Lei nº 10.865, de 30/4/2004, que de­ter­mi­na que as alí­quo­tas da Co­fins-Im­por­ta­ção de que tra­ta o re­fe­ri­do ar­ti­go fi­cam acres­ci­das de um pon­to per­cen­tu­al na hi­pó­te­se de im­por­ta­ção dos bens clas­si­fi­ca­dos na Ta­be­la de In­ci­dên­cia do Im­pos­to so­bre Pro­du­tos In­dus­tri­a­li­za­dos (Ti­pi) e re­la­ci­o­na­dos no Ane­xo I da Lei nº 12.546/2011. Em­bo­ra es­te­ja em vi­gên­cia des­de o dia 1º de ju­lho, é im­por­tan­te, po­rém, aguar­dar a con­ver­são da MP nº 774 em Lei, a fim de cer­ti­fi­car que não hou­ve qual­quer mu­dan­ça em re­la­ção à re­da­ção ori­gi­nal­men­te pro­pos­ta.

 

(Mil­ton Lou­ren­ço, pre­si­den­te da Fi­or­de Lo­gís­ti­ca In­ter­na­ci­o­nal e di­re­tor do Sin­di­ca­to dos Co­mis­sá­rios de Des­pa­chos, Agen­tes de Car­gas e Lo­gís­ti­ca do Es­ta­do de São Pau­lo (Sin­di­co­mis) e da As­so­cia­ção Na­ci­o­nal dos Co­mis­sá­rios de Des­pa­chos, Agen­tes de Car­gas e Lo­gís­ti­ca (ACTC). E-mail: fi­or­de@fi­or­de.com.br. Si­te: www.fi­or­de.com.br)


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