“Isso daqui não tá de enfeite”
Diário da Manhã
Publicado em 27 de junho de 2017 às 22:35 | Atualizado há 4 meses
Das amarras do machismo um dos aspectos é o prazer feminino. O famigerado clitóris ainda é um ilustre desconhecido para muitos. A temática do prazer da mulher tem sido pauta de discussão e chegou até nas músicas pop da atualidade, como no caso da letra de Lalá, da cantora Karol Conká. “Chega a ser hilário. Mal sabe a diferença de um clitóris para um ovário. Dedilham ao contrário. Egoístas criando um orgasmo imaginário.”
Pra dar uma forcinha no enigma do clitóris, a pesquisadora de sociomedicina Odile Fillod desenvolveu uma completíssima versão 3D do órgão feminino. A ideia é que estes modelos sejam expostos de forma didática para os jovens. A peça foi desenvolvida a partir da constatação, a respeito das aulas de educação sexual que ainda seguem uma orientação machista, do Haut Conseil à l’Egalité entre les femmes et les hommes (HCE), ou Alto Conselho para a Igualdade Entre Homens e Mulheres, do governo francês. O modelo é isento de royalties, e livre para download on-line, de modo que qualquer pessoa com um acesso à impressora 3D, tendo em mente professores e educadores sexuais, podem fazer a sua própria cópia.
O HCE, em sua página, apresenta qual a necessidade de se construir uma educação sexual e de gênero desde jovem para alcançar uma maior igualdade no futuro: “A escola é um centro de socialização intelectual, social e emocional. Os alunos passam cerca de 30 horas por semana durante os 18 anos que dura a escolaridade. Ela também é a imagem da sociedade: atravessada por desigualdades relacionadas à origem social e sexo. Para alterar permanentemente atitudes e desconstruir os estereótipos de gênero, a igualdade na educação deve começar a partir de uma idade jovem.”
É muito fácil observar nos livros didáticos de ciências, principalmente do ensino médio, a ausência de abordagem a respeito do clítoris, o único órgão do corpo humano inteiramente dedicado ao prazer. Além do modelo 3D, o clitóris será mostrado na íntegra em uma edição de 2017 de um livro, uma das edições Magnard. Isso é fruto da luta de professores contra os estereótipos na educação. “Nenhum manual anteriormente continha o padrão correto do órgão, ele era apresentado de uma forma deturpada, muitas vezes sob a forma de um pequeno ponto, ou simplesmente esquecido”, relatou o grupo de professores que luta pela igualdade em livros SVT (sciences de la vie et de la terre), ou livro de ciências da vida e da terra.
Quem é o clitóris?
O clitóris é para a mulher o que o pênis é para o homem, e não a vagina, e serve exclusivamente ao prazer feminino. Ele possui muito mais inervações que o canal vaginal e, por isso, estimulá-lo durante o ato sexual ou masturbação é fundamental para que uma mulher chegue ao orgasmo.
O órgão fica um pouco acima da abertura do canal vaginal e aumenta de tamanho à medida que a mulher fica mais excitada, ou seja, mulheres também têm ereção. O clitóris é bem grande, tendo de 9 a 11 centímetros, embora seja como um iceberg, apenas uma pequena parte seja visível na parte externa da vagina. A parte interna, alcançada pela parede superior do canal vaginal, pode ser estimulada durante a penetração.
A sexóloga Laura Muller, conhecida por participar de um quadro que fala sobre sexo no programa Altas Horas, da Rede Globo, desmistifica algumas observações em sua página a respeito do clitóris. Uma das questões abordadas por ela é: tamanho é documento? E a resposta é: “Não. Isso é um mito. Assim como é uma crença equivocada acreditar que o tamanho do pênis interfere no prazer do casal. Mais importante que a anatomia desses órgãos é a maneira de tocá-los. E mais importante ainda é o estado emocional de cada pessoa na hora do sexo: ansiedade e preocupação são dois fatores que influem muito – e de forma negativa – no prazer.”
Laura Muller também fala sobre a necessidade da complexidade de estímulos para que o contato com o clitóris seja realmente prazeroso durante o ato sexual. “É preciso estar excitada para que o toque da língua no clitóris seja prazeroso. Senão, surte o efeito contrário: incômodo, cócegas e até dor. Se você não estiver estimulada, o sexo não será prazeroso. Nesse caso, o melhor é se aquecer um pouco mais com beijos na boca, nos seios, na virilha e só depois chegar ao clitóris. Aí ele estará pronto para lhe dar prazer”, explica a sexóloga.