Livro inédito de Ariano Suassuna
Redação DM
Publicado em 27 de junho de 2017 às 05:09 | Atualizado há 6 meses
A cultura brasileira é também o seu povo. É natural encontrar na história alguns nomes que carregam no sangue essas raízes e reproduzem na arte uma espécie de identidade. O escritor goiano regionalista Hugo de Carvalho Ramos imprimiu a essência das primeiras civilizações instaladas no sertão de Goiás. Adoniran Barbosa documentou a história da cidade de São Paulo nas suas músicas. E Ariano Suassuna levou ao palco e para os livros a real cultura do Nordeste brasileiro. Por isso, o resgate e reedição dos livros de Ariano não só satisfazem seus leitores como também promovem uma saudação à identidade nacional.
O escritor e dramaturgo faleceu no ano de 2014 e se estivesse vivo completaria 90 anos em 2017. Para marcar essa data, a editora Nova Fronteira iniciou novos lançamentos da obra do nordestino. O primeiro foi o importante Romance d”A Pedra do reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta, de 1971. Ariano dizia que esta era sua obra predileta, pois nela conseguiu falar da maneira mais completa que lhe foi possível sobre si mesmo. O próximo livro, a ser publicado mês que vem, é O santo e a porca, de 1957, e, em novembro, a editora lança o inédito Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores.
A publicação é uma visita dentro da obra de Suassuna e também uma autocrítica ao seu trabalho. O personagem principal, Antero Savreda, ministra aulas espetaculosas sobre teatro, assim como o escritor. Frustrado, o protagonista sente inveja do sucesso literário dos irmãos Auro Saphino, romancista, Adriel Soares, dramaturgo, e Altinho Soares, que é poeta. A semelhança entre personagens e o autor não fica apenas nas iniciais dos nomes: cada um representa uma faceta artística de Ariano.
Universo de Ariano
Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, no dia 16 de junho. Era filho do ex-governador do Estado e de Rita de Cássia Villar. Passou os primeiros anos na fazenda Acauham, no sertão da Paraíba, mas se mudou para Taperoá em 1933, depois que o pai foi morto na revolução de 1930 por motivos políticos. Taperoá é o cenário de uma de suas peças mais famosas, O Auto da Compadecida, que foi adaptada em filme e série de TV.
Os personagens principais, João Grilo e Chicó, também aparecem no livro Romance d’A pedra do meio e o Príncipe do sangue do vai-e-volta, demonstrando uma ideia de conexão entre cada trabalho. A máxima da obra de Suassuna é a conexão entre seus trabalhos, porém cada livro é relevante pela sua particularidade. O escritor tinha a pretensão de elaborar um mundo particular e único através de um embaralhar de autoreferências que ele chamava de “ilumiara”.
Movimento Armorial
No ano de 1970, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna era integrante da Academia Brasileira de Letras. Com o respaldo da instituição, desenvolveu um trabalho de resgate da cultura nordestina chamado Movimento Armorial. Também era um desejo de Ariano mostrar a natureza erudita da cultura popular brasileira. O projeto foi lançado no dia 18 de outubro daquele ano em um ritual consagrado na Igreja de São Pedro dos Clérigos com mostra de artes plástica e apresentação da Orquestra Armorial da Câmara com o maestro regente Cussy de Almeida.
O empenho dos integrantes do grupo era trazer ao público brasileiro expressões e gostos da cultura popular e fazer frente ao massivo domínio dos imperativos culturais estadunidenses no País. Os artistas trabalhavam nas diversas áreas da arte como cinema, música, arquitetura e outros. Participaram do movimento Antonio Nóbrega, Antonio José Madureira, Capiba, Jarbas Maciel, Guerra Peixe e outros.
Confira lista de publicações de Ariano Suassuna:
Uma Mulher Vestida de Sol, 1947
Cantam as Harpas de Sião (ou o Despertar da Princesa), 1948
Os Homens de Barro, 1949
Auto de João da Cruz, 1950 (Prêmio Martins Pena)
Torturas de um Coração, 1951
O Arco Desolado, 1952
O Castigo da Soberana, 1953
O Rico Avarento, 1954
Ode, 1955 (poesia)
O Auto da Compadecida, 1955
O Casamento Suspeito, 1956
Fernando e Isaura, 1956
O Santo e a Porca, 1958
O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, 1958
A Pena e a Lei, 1959
A Farsa da Boa Preguiça, 1960
A Caseira e a Catarina, 1962
O Pasto Incendiado, 1970 (poesia)
Romance d’a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta, 1971 (partes da trilogia)
Iniciação à Estética, 1975
A Onça Castanha e a Ilha Brasil, 1976 (Tese de Livre Docência)
História d’o Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana, 1976 (parte da trilogia)
Sonetos Com Mote Alheio, 1980 (poesia)
Poemas, 1990 (Antologia)
Almanaque Armorial, 2008