Opinião

Educação uterina

Diário da Manhã

Publicado em 18 de junho de 2017 às 01:42 | Atualizado há 8 anos

Se educássemos toda criança como educamos um feto na vida intrauterina a humanidade teria mais virtudes do que vícios. Sei que tal provérbio pode impactar algumas mentes e sentimentos. Mas, é uma forma de dar vazão a algumas reflexões e pensamentos; e tanto melhor se tiver anuência e consonância nas considerações e críticas dos que  me leem, de pais e educadores.

Vamos analisar o ser humano desde a sua fecundação e ver o que se faz providencialmente nesse sentido. Um grave erro e vício já fazem muitos genitores nessa etapa da vida humana. Isto se dá justamente na ausência de  providência e preparo dos próprios genitores na concepção dos filhos.

Em outros termos: quantos e quantos filhos não são gerados sem uma previsão bem racional?  Enfim, sem um mínimo planejamento familiar. Se um filho não é emocional e racionalmente bem projetado têm-se aí vários riscos de um produto (leia-se pessoa, indivíduo) mal acabado em todas as suas características e dimensões. Grosso modo, tal resultado pode-se comparar a outro produto inventivo, que primeiro é idealizado, pensado , refletido, preparado, raciocinado( com uso da razão), concebido primeiro na esfera do afeto, da emoção e do amor.

Mas, deixemos tais equívocos e desvios à margem de análise e tomemos o processo conceptivo e formativo da pessoa humana (não é redundância, porque  há pessoa não humana).

Numa analogia de fácil entendimento podemos dividir a educação e formação do indivíduo (embora este seja indivisível) em duas “fôrmas” (como se fosse uma fôrma de bolo). A primeira fôrma indissociável da vida já é de todos conhecida. É  a fôrma uterina na qual se principia a concepção ou formação da criança. Daremos ênfase ao termo porque ele resume o ponto central dessa digressão, destas reflexões.

O verbete criança vem do latim, crear, creantia, criança. Processo de gerar, formar e educar, “lato sensu”, a pessoa humana.

Hoje, se sabe, que estamos num processo evolutivo muito acelerado graças aos avanços de informação, das Ciências e das tecnologias.

Sabe-se que um adolescente de 16 anos está quase completamente formado em todos os seus processos psíquicos e biológicos. Daí aquela recomendação: se se quer formação de um bom cidadão, forme-o enquanto ele for criança, porque uma vez crescido e adulto pouco ou nada se pode fazer para modificá-lo. É o princípio ou força determinante, do pau que cresce torto, torto ele morrerá.

Na primeira fôrma da vida então, o útero, o indivíduo vai se conformar ou se adaptar  a esse modelo que a vida lhe impõe através do ventre materno. E de seus contornos, limites e laços (ligamentos) o feto não pode se desprender. É a primeira condição “sine qua non” para a vida. Trata-se do primeiro regramento e fôrma na educação da pessoa humana.

E o que é mais construtivo, mais reconfortante: o feto se conforma; e vive  nessa fôrma (útero) no melhor bem estar, na maior segurança e felicidade. Tanto que a sua primeira experiência de sofrimento, de ameaça, e de dor é justamente quando é trazido à luz do mundo (luzes artificiais e fortes) e ao alarido das vozes humanas. Tem-se aí o primeiro choro no contato com o mundo exterior e com os outros humanos, além da mãe.

A segunda fôrma a que o indivíduo deveria ser submetido tem maior importância por ser ela a de maior duração, de finalização, de arremate, de acabamento; aquela  de se  tornar pronto o indivíduo. A segunda fôrma da vida da pessoa humana poder-se-ia ser resumida nesses três processos: 1- criação desde a fecundação e crescimento físico; 2- educação; e 3- formação.

Bem compreendidos referidos processos. Criar;  se cria um animal e uma criança. Educar;  (treinar), se faz com uma criança e um cachorrinho. Todavia, a formação do indivíduo, de um cidadão, necessita das duas primeiras etapas e um longo período de aprimoramento e ensino de todas as virtudes, de valores éticos e morais, de boas normas nas relações sociais, de todo um conjunto de regras de humanização do indivíduo.

Todo esse conjunto de atitudes e ensinamentos  deve ser feito quando criança, quando ela é mais “plástica”, mais modelável. Assim tornamos esse indivíduo  sensível o tudo que se lhe  é ensinado, educado e formado.

Todo esse trabalho  de transformação -criação, educação e formação – é o segundo útero, a segunda e definitiva fôrma que está faltando aos nossos genitores, aos pais e mães de nossa sociedade. E por que não até aos nossos educadores e psicólogos que vêm se mostrando muito permissivos e pouco uterinos nos limites e regras aos filhos e alunos dos tempos digitais e da internet.

E essas novas tendências e diretrizes  têm me deixado preocupado com o destino e com os rumos da humanidade . Onde iremos parar com os descaminhos que andam permeando nossa sociedade?  Nosso processo educacional , nossos valores éticos? Há tempo e oportunidade de repensar todas essas novas normas que se propagam e se dizem antenadas com o mundo moderno!  Há tempo de mudar.  Junho /2017.

 

(João Joaquim, médico,  articulista DM. facebookjoão joaquim de oliveira  www.drjoaojoaquim.blogspot.com – WhatsApp (62)98224-8810)


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