A árvore da vida – XXVII
Redação DM
Publicado em 18 de junho de 2017 às 01:24 | Atualizado há 8 anos
Outros são a favor da projeção no interior de um círculo mágico adequadamente traçado, pintado em cores com todos os nomes divinos externamente e as figuras geométricas internamente. Nesse caso, entretanto, o círculo tem que ser consagrado e cerimonialmente submetido ao banimento por um ritual apropriado, um procedimento um tanto incômodo e árduo para uma prática tão frequente. Por esse motivo assevera-se que o ritual de banimento do pentagrama por si só é suficiente para assegurar a devida proteção, eliminando toda possibilidade de possessão demoníaca.
O retorno ao corpo após uma visão deve ser objeto de muito cuidado e a devida precaução deve ser tomada. Ao entrar na estrutura física deve-se deliberadamente respirar profundamente algumas vezes a fim de assegurar a estreita conjunção dos dois organismos, sugerindo-se, ademais, que se assume fisicamente uma forma divina e se vibre um nome. Usualmente basta a forma de Harpócrates, ou seja, postar-se em pé, ereto, o braço esquerdo à frente do corpo, o dedo indicador pousado nos lábios em sinal de silêncio, acompanhando-se essa postura da pronunciação audível do nome do deus. Não conseguir assegurar a união das duas essências do corpo de pensamento e o corpo físico pode redundar em desastrosas consequências.
A consulta do Livro dos mortos do Antigo Egito será de proveito bastante considerável para o leitor, pois aí o Tuat e o Amentet, as subdivisões da luz astral, foram objeto de rigorosa observação e classificação precisa. Na segunda parte do capítulo CXXV, o deus Osíris é visto sentado numa extremidade do salão de Maat, acompanhado das deusas da lei e da verdade, juntamente com os quarenta e dois assessores que o auxiliam. Cada um desses quarenta e dois deuses representa algum entre os nomos do Egito e ostenta um nome mágico simbólico. Nessa concepção percebe-se o imenso talento dos sacerdotes-teurgos egípcios que criaram correspondências entre os planos da luz astral e os nomos ou divisões distritais do país do alto e baixo Nilo. Mediante o cuidadoso estudo deste e subsequentes capítulos o teurgo juntará aos poucos muitas informações úteis acerca da luz astral e dos Guardiões e Mantenedores dos Pilones através dos quais ele terá que passar em sua auto iniciação.
Embora o Livro dos Mortos represente esses pilones como aqueles através dos quais o morto tem que passar a caminho do repouso no Amentet, são também aplicáveis aos portais pelos quais o Skryer na visão espiritual tem que entrar. Esses portais guardados com seus vigias semelhantes a deuses não devem ser consideradas ficções, pois como será descoberto no desenrolar das investigações, o mago se aproximará de alguns desses portais fechados e nenhuma quantidade de artifícios mágicos ou bajulação dos guardiões dos santuários e mansões selados lhe proporcionará o ingresso a estes. A recusa em entrar constitui um sinal certo de indignidade e indica acima de tudo toda a incapacidade de existir naquele condição rarefeita. Indica, adicionalmente, que o corpo de luz necessita ser purificado, tornado incandescente e resplandecente, iridescente e auto reluzente, um organismo solar que emite a luz radiante do espírito interior. É somente assim que o mago pode atingir estados mais ígneos e exaltados e obter permissão dos anjos-guardiões de espadas flamejantes aos pilones sagrados e aos portais interiores. Os meios para efetuar essa purificação são as execuções frequentes do ritual do pentagrama, formulando dessa forma mais clara e radiantemente o corpo de pensamento e a celebração diária de alguma forma da eucaristia que infunde no corpo de luz a substância purificadora da essência espiritual.
A s visões que serão então obtidas serão de uma elevadíssima ordem. Pode ser que depois de algum tempo transcorrido o teurgo fique espantado por descobrir que seu papel de observador imparcial de uma visão cessou e que, de algum modo, a visão está ocorrendo em torno de seu próprio ser, e que ele está mergulhado numa tremenda experiência espiritual que jamais será apagada da memória consciente por todos os seus dias na Terra. Iniciações no sentido real e não na implicação de uma cerimônia formal de sala de loja devem ser aí estimuladas, o teurgo participando como um candidato aos mistérios sagrados. Relativamente a essas iniciações, é ocioso dizer, o pedido não é feito sob nenhuma forma escrita. Elas simplesmente ocorrem. E quando ocorrem não há dúvida ou incerteza quanto ao que está ocorrendo. Como tipo de experiência realmente comovente que a espécie mais elevada de visão astral pode assumir, cito a seguinte:
“Havia um saguão mais vasto do que qualquer catedral, com pilares que pareciam ter sido construídos de opala viva e trêmula ou de algumas substâncias estelares que brilhavam com todas as cores, as cores do anoitecer e da aurora. Um ar dourado incandescia nesse local e no alto entre os pilares existiam tronos que desvaneciam gradualmente, rubor a rubor, na extremidade do vasto saguão. Neles se sentavam os reis divinos. Eram encimados pelo fogo. Eu vi a cimeira do dragão sobre um deles e havia um outro emplumado de fogos brilhantes que se arrojavam como plumas de chama. Mantinham-se sentados brilhando como estrelas, mudos como estátuas, mais colossais do que imagens egípcias de seus deuses, e no extremo do saguão existia um trono mais elevado onde se sentava alguém maior do que os demais. Uma luz semelhante ao sol fulgurava com incandescência atrás dele. Abaixo, sobre o chão do saguão, jazia uma figura escura como se estivesse em transe, e dois dos reis divinos executavam movimentos com as mãos ao redor da figura, sobre sua cabeça e corpo. Percebi no ponto em que suas mãos oscilavam como chispas de fogo semelhantes aos lampejos de joias irrompiam. Daquele corpo escuro emergiu uma figura tão alta, tão gloriosa, tão brilhante quanto aquelas sentadas nos tronos. À medida que despertou para o saguão tornou-se ciente de sua parentela divina, erguendo as mãos numa saudação. Retornara de sua peregrinação através das trevas, mas era agora um iniciado, um mestre do grêmio celestial. Enquanto ele as observava, as altas figuras douradas levantaram-se de seus tronos também, com as mãos erguidas em saudação, e passaram por mim, e desvaneceram rapidamente na grande glória atrás do trono.”
Ademais, a Árvore da Vida da Cabala deve constituir-se como objeto de muita pesquisa e experimentação nesse plano. O skryer deve praticar a ascensão de uma Sephira para a outra, analisando a natureza da esfera cuidadosamente, subindo por todos os ramos dessa Árvore que brota dos céus resplandecentes acima descendo em glória para a terra multicolorida abaixo. Todos os caminhos que irradiam das dez Sephiroth e que as unem devem ser cuidadosamente explorados e registrados no diário científico. É desse modo que o autoconhecimento é conquistado porquanto a Árvore é um mapa simbólico não só da constituição interior do próprio homem como também da estrutura e forças de todo o universo em cada uma de suas fases numerosas.
“O universo…”, escreveu Crowley, “…é uma projeção de nós mesmos, uma imagem tão irreal quanto aquela de nossos rostos num espelho, e no entanto, como este rosto, a necessária forma de expressão dele, não para ser alterada exceto à medida que alteramos a nós mesmos… Sob essa luz, portanto, tudo que fazemos é descobrir a nós mesmos por meio de uma seqüência de hieróglifos e as mudanças que aparentemente operamos são num sentido objetivo ilusões… Capacitam-nos a nos ver e, consequentemente, a nos ajudar a iniciarmos a nós mesmos mostrando-nos o que estamos fazendo.”
Estudando esse mapa simbólico no astral mediante os recursos do corpo de luz, o mago acabará familiarizado com todos os aspectos de sua própria consciência e do próprio universo. As visões que ele percebe, evocadas pelo uso dos sigilli, são outras tantas revelações de sua própria consciência em suas diferentes partes com as quais ele nunca esteve antes familiarizado. Para descerrar as várias camadas da mente e da alma, juntamente com seus conteúdos de forma dinâmica, a luz astral e sua investigação no corpo solar ígneo constitui o meio par excellence, que supera qualquer outro. Assim é o autoconhecimento granjeado. Assim é também a autoconsciência, no verdadeiro sentido, atingida servindo como um prelúdio às harmonias sinfônicas da união celestial.
(George Oliveira, jornalista e escritor)