Parábola do juiz Iníquio
Diário da Manhã
Publicado em 4 de junho de 2017 às 01:21 | Atualizado há 8 anosNarrou-lhes então Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre e nunca esmorecer:
“Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens. Havia também nessa mesma cidade uma viúva, que vinha a ele constantemente, dizendo: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário!’ Por muito tempo ele se recusou.
Mas, enfim, pensou consigo mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus, nem respeite os homens, todavia, pelo incômodo que me causa essa viúva, vou fazer-lhe justiça, para que não venha por fim fazer-me alguma afronta’ ”.
E acrescentou o Senhor:
“Ouvi o que diz esse juiz iníquo. E Deus não fará justiça a seus eleitos que a ele clamam dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? Eu vos digo que lhes fará justiça dentro de pouco tempo. Mas quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?”
(Evangelho de Lucas, cap. 18, vv. 1 a 8).
Mais uma vez Jesus ressalta o valor da oração para se lograr êxito em busca da justiça e da felicidade. É a exemplificação do que o Mestre prometera no Sermão da Montanha:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”. (Mateus, 5:6).
O Mestre narra a respeito de um juiz que não se sensibilizava com as sucessivas rogativas de uma mulher viúva que reivindicava o direito de ver o seu processo julgado em desfavor de quem lhe praticava injustiça. Poderia ser um administrador público ou privado, porém, era um magistrado que não se importava com a justiça divina e nem considerava as reprimendas humanas. O juiz atuava em suas funções ao bel-prazer de seus interesses e de suas vontades. Nem mesmo as súplicas de uma viúva aflita e necessitada de proteção da justiça tocava-lhe o coração.
Por meio desta parábola o Mestre descreve dois personagens em posições extremas: um magistrado poderoso e egoísta e uma mulher viúva que padecia necessidades devido a uma injustiça.
Não se sabe a respeito do tipo de demanda judicial que a mulher estava envolvida. Provavelmente, alguma ação civil contemplava o processo por meio do qual a mulher poderia ser prejudicada materialmente. Quem seria seu opositor? Seria alguém que cobrava indevidamente alguma dívida ou um familiar que reclamava indevidamente uma parte na herança? Não se sabe.
Devido à conduta persistente da mulher devia se tratar de alguma demanda judicial que afetaria profundamente a sua existência.
As decisões injustas de um magistrado não afetam apenas a parte prejudicada, mas também uma coletividade, uma geração, uma cidade ou muitas cidades que dependem do seu bom senso e de sua lisura na difícil arte de julgar. Por meio desta parábola, o Mestre faz uma crítica aos que não se permitem sensibilizar diante das necessidades sociais. Segundo o Direito, toda sentença deve ter um cunho social porquanto o Direito é classificado como uma ciência social aplicada.
Numa petição judicial de qualquer teor, o magistrado observará os seguintes aspectos:
Se ele é o juiz competente para julgar a causa.
Se o requerente dispõe de condições legais para pleitear o direito e se está devidamente representado.
Se o tempo da ação está de acordo com os prazos legais exigidos.
Se o nome da ação é compatível com o pedido.
Se os fatos são narrados de forma clara e coerente.
Se os fundamentos legais são condizentes com as razões do pedido.
Se as fundamentações doutrinárias reforçam os textos legais apresentados.
Se as provas apresentadas são verdadeiras e incontestáveis.
Se os fundamentos sociais apresentados são compatíveis com o bem comum e a dignidade humana.
Se as solicitações são coerentes com a justiça.
Se ele é capaz de julgar a causa, representado o Estado e a sociedade da melhor forma possível.
Segundo a parábola, a mulher recorreu ao juiz para que ele fizesse justiça e não para ser parcial em seu julgamento.
Depois de muita insistência o magistrado apreciou o processo. Não se sabe se o julgamento foi justo ou injusto. Provavelmente, o magistrado julgou segundo os ditames da legalidade e as expectativas da mulher. Caso contrário, a mulher buscaria, em instância superior, um julgamento que pudesse reformar a sentença proferida em seu desfavor.
Jesus classifica esse magistrado como sendo injusto e tirânico, ou seja, iníquo, mas que não suportou as persistentes investidas de uma mulher que lhe suplicava justiça.
O divino Messias espraia esperança, reforçando o poder da oração. Se esse magistrado atendeu ao pedido da mulher devido à sua insistência e por não mais querer ser importunado quanto mais o Pai Criador, pleno de infinita bondade, diante das orações dos que “têm fome e sede de justiça”.
Jesus esclarece ainda que a Justiça preconizada por Deus por intermédio de Suas poderosíssimas Leis chega a seu tempo e proclama a natureza desse tempo: “Eu vos digo que lhe fará justiça dentro de pouco tempo”. O tempo ideal para que todo o processo educativo das Leis de Deus se suceda de maneira perfeita.
A prática da oração fará com que o Pai Amantíssimo nos ouça. No entanto, Ele conhece todas as nossas necessidades muito antes das nossas súplicas. Ao orarmos com persistência verificaremos se o que estamos a pedir é da Vontade do Pai e se estar no Seu devido tempo. Ele também falará conosco em nossos corações e pacificará as nossas aflições.
Ao final da parábola, o divino Amigo deixa uma pergunta para reflexão: “Mas quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?”, ou seja, até que todas as coisas se restabeleçam a Humanidade desistirá de suas orações?
A volta do Filho do Homem simboliza o momento em que a justiça bate à porta consciencial de cada um de nós para a cobrança de condutas justas em todas as ações. A mulher viúva não tinha ninguém para ajudá-la a cobrar um julgamento justo. Também as nossas consciências enfrentarão os oficiais da Justiça divina que nos intimarão à presença do Senhor da Vida que nos cobrará as administrações do tempo e dos talentos recebidos.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é um educador, escritor e jurista. Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)