A apoteose do casamento
Diário da Manhã
Publicado em 1 de junho de 2017 às 01:40 | Atualizado há 8 anos
A união de um homem com uma mulher pode ter a sua apoteose, o seu esplendor. Ele ocorre depois de longa caminhada juntos. Não digo que a paixão, nessa hora, desaparece, ela persiste, mas sem o impulso próprio dos moços. Os percalços da vida os aproximam.
– Meu velho, não suba a escada! Recomenda a companheira ao seu companheiro que se dispõe a trocar uma lâmpada. Ele sai à rua, ela o alerta:
– Cuidado, meu velho!
Eles, reciprocamente, se auxiliam, se amam. Entendem-se; desentendem-se. Agem como duas crianças:brigam, fazem as pazes.
Sentados no sofá da sala, de mãos dadas conversam reminiscências. Não mais se ouve o alarido dos meninos que se casaram, constituíram suas famílias, mas continuam sendo “nossos meninos”. Também os netos não fazem algazarra naquele templo porque também cresceram.
– Meu velho, você se lembra daquela chuva forte que caiu na fazenda dos meus pais?
-Sim, minha velha. Foi água pra muita chuva numa chuva só.
A dependência dele é maior. Se Deus levá-la, quem cortará suas unhas?
Não se trata de machismo, trata-se de ternura.
Tenho Parkinson e Ilsa, minha amada, cuida de mim, inclusive calçando-me meias. Banhar-me-á, se preciso for, assim como minha cunhada Maria Eunice banhou seu esposo, meu irmão Lazito, que sofria essa enfermidade. Ele foi para o Céu no dia 7 de fevereiro deste ano.
Jesus nos fala do filho pródigo que, depois de atirar pela janela o dinheiro que levara ao deixar o lar paterno, a este, humilhado e derrotado, regressa. Sob o teto do amoroso velho se banqueteara, lá fora ingeriu restos que os súinos deixaram nas manjedouras.
Também existiram e existem maridos pródigos que abandonaram suas consortes e mergulharam em loucuras. Explorados, roubados, voltaram para o aconchego das esposas. Pode ser que não mais os recebam como maridos, mas como pais dos seus filhos e zelarão deles até quando a morte os separar.
Raro é caso de mulher pródiga.
(Filadelfo Borges de Lima, 72 anos, autor de vários livros, sócio-fundador da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”, auditor fiscal aposentado do Estado de Goiás. É maçom 33. Pertence ao Sindifisco e à Affego)