Nabyh, apóstolo do bem
Diário da Manhã
Publicado em 31 de maio de 2017 às 03:28 | Atualizado há 8 anosO grande pensador alemão Bertolt Brecht, de cuja obra sou admirador, é autor de uma frase que cai como uma luva para ilustrar a trajetória do médico radiologista Nabyh Salum. “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”, escreveu Brecht.
O renomado radiologista, de saudosa memória, foi um dos fundadores da Sociedade Goiana e Radiologia e do Sindicato dos Médicos do Estado de Goiás (Simego) e da Associação Médica de Goiás (AMG) e diretor-geral do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Não foi apenas um grande profissional e um intrépido ativista da classe médica goiana, foi também um ser humano sensível à luta das camadas mais humildes da população e um fiel cumpridor dos princípios da ética médica, ilustrados no Juramento de Hipócrates, o pai da Medicina.
Doutor Nabyh Salum é um exemplo a ser seguido pelas futuras gerações de médicos que estão por vir. Como bem diz o professor Drauzio Varella, o exercício da medicina envolve a arte de ouvir as pessoas, de observá-las, de examiná-las, interpretar-lhes as palavras e de discutir com elas as opções mais adequadas. O doutor Nabyh Salum não era apenas o médico da família, mas o conselheiro, o amigo.
Hipócrates acreditava que a arte da medicina está em observar. Dizia que a fama de um médico depende mais de sua capacidade de fazer prognósticos do que de fazer diagnósticos. Queria ensinar que ao paciente interessa mais saber o que lhe acontecerá nos dias seguintes do que o nome de sua doença. Explicar claramente a natureza da enfermidade e como agir para enfrentá-la alivia a angústia de estar doente e aumenta a probabilidade de adesão ao tratamento. Nabyh Salum era desse jeito.
Apaixonado pela vida, o pioneiro foi um dos idealizadores e o responsável pela construção da primeira sede da Associação Médica de Goiás. Tinha o mesmo gênio empreendedor de Juscelino Kubitschek. Em 1975, como superintendente da extinta Organização de Saúde do Estado de Goiás (Osego), que na época tinha status de Secretaria de Saúde de Goiás, conseguiu asfaltar toda a Colônia Santa Marta.
Em 1972 idealizou a criação de uma cooperativa para os médicos de Goiânia. Em 1973 realizou pesquisa para saber dos colegas se eles teriam interesse em participar de tal cooperativa: 80% aprovaram a ideia. E em 21 de fevereiro de 1978, 49 médicos criaram a Unimed Goiânia. Chegou a tentar a implantação de uma lei que obrigasse todos a pagarem 1% de seus ganhos para o menor abandonado. Foi diretor do Hospital das Clínicas da UFG em 1984. Na época, criou a Associação dos Amigos do Hospital das Clínicas.
Sua genialidade fez com ele se projetasse para além dos muros da saúde e realçasse seu espírito iluminista e construtivista. Ressalte-se que era um indivíduo decente e profundamente humano, não na teoria, mas na prática. Era um apóstolo do bem e da ideia de que o mundo podia ser melhor, desde que as pessoas colocassem a mão da massa e se doasse mais para o semelhante.
Em resumo: Nabyh Salum era um patrimônio goiano e um grande vulto humanista no Brasil. E escreveu, com suor, dignidade, amor e profissionalismo, as mais belas páginas da medicina em Goiás. Se hoje sentimos a sua falta, a saudade nos faz lembrar de um homem demasiadamente humano, que viveu intensamente, até os últimos dias de sua vida. Fez o bem e não escolheu a quem.
(Marconi Perillo, governador de Goiás)