Opinião

As charretes nas madrugadas de Jataí e outras histórias

Diário da Manhã

Publicado em 25 de maio de 2017 às 01:32 | Atualizado há 8 anos

No dia 3 de outubro de 1960, pelo imbatível PSD de Jataí e pela segunda vez, Cyllenêo França se elegeu prefeito. Sebastião Carneiro, apelidado Sebastião Peteca, pelo mesmo partido, ganhou para vice-prefeito. Dia 31 de  janeiro de 1961 tomaram posse e cumpriram, até o  fim(31.1.1966), seus respectivos mandatos. Ao passar o malhete para César de Almeida, seu sucessor eleito dia 3 de outubro de 1965, Cyllenêo se encontrava, por ter contrariado a velha oligarquia local, muito degastado, mas fizera boa administração. Dentre suas importantes obras o mercado municipal e a estação rodoviária, inauguradas juntas em festiva noite. As duas construções ocuparam a quadra composta pela avenida Brasil, ruas Francisco Joaquim Vilela, José Manuel Vilela e José Pereira Rezende. Foi nessa época ou na segunda metade da evidenciada década que se instalou, no referido terminal rodoviário, o serviço de transporte de pessoas em charretes.  Ao desembarcar do ônibus, o passageiro tinha, caso precisasse de condução, automóvel(taxi) ou esse veículo puxado por equino.

Depois que quase toda a cidade se recolhia para o merecido e imprescindível noturno repouso, as charretes se punham a carregar prostitutas e seus clientes pra lá e pra cá. Muitas vezes, dormindo na casa dos meus pais, na Brasil, 1029, onde é uma loja de relíquias e lanche, acordei, em adiantadas horas, com os toques das ferraduras das éguas – judiadas éguas – no paralelepípedo. Era charrete que subia a rua ou descia. Ouvia-se parte das conversas entre cocheiros, putas e os seus putos. A Zona( refiro-me à zona boêmia) ficava lá embaixo, no Baixadão, em torno do largo da cadeia e da própria cadeia. Era esta um sobrado de grande valor histórico, aliás,historicamente, o mais importante de Jataí, mas Cyllenêo e os vereadores tiveram a infeliz ideia de demoli-la para fazer, no terreno agora vazio, o campo de futebol do Botafogo. Botafogo acabou e o largo é a praça Professor Maromba.

Claro, não apenas as “mulheres de vida livre”( adjetivo  ridículo esse) andavam de charretes, também o faziam pessoas de menor poder de aquisição.  Durou pouco, na minha amada terra natal, esse tipo de transporte. Então as charretes tiraram a capota e voltaram a carregar coisas. O povo admitia como charrete a carroça com pneus e ou com capota. A carroça não tinha pneumáticos, nem capota e suas rodas eram de madeira e grandes. O trânsito urbano não se tumultuava com os automóveis de passeios ou cargas, cavalos montados por entregadores de leite ou por moradores na zona rural;  bicicletas, motocicletas(eram poucas) e muitas lambretas e vespas. Aquela foi a década das lambretas e vespas. O ponto das carroças era no centro nervoso da “Cidade Abelha”, na confluência da Rui Barbosa com a Goiás, junto à praça Tenente Diomar Menezes e em frente ao Cine Teatro Imperador, situado nessa mesma esquina, lado debaixo. No alinhamento de cima a Casa Rezende, dos Irmãos Rezende, que lhes proporcionava fretes. Salvo  engano meu, em 1966 faleceu o fundador desse estabelecimento, o ex-vereador, ex-intendente(ou ex-prefeito nomeado, estou na dúvida) José Pereira Rezende( Zequinha Paniago), cunhado e adversário político do Cyllenêo França.  Zequinha fora empregador do meu pai, Joaquim Borges de Oliveira, dono da Loja Tupy( fantasia alterada para Comercial Baratém), na esquina da Benjamim Constant com Rui Barbosa, segunda quadra acima da referida praça Tenente Diomar Menezes( topônimo em memória do personagem  jataiense nascido em 1923 que lutara, pilotando avião, na Segunda Guerra(terminou em 1945), e  faleceu em desastre aéreo, no Rio de Janeiro, no ano de 1946.

 

(Filadelfo Borges de Lima, curso superior incompleto(Letras), auditor fiscal aposentado do Estado de Goiás, 72 anos, autor de vários livros, sócio-fundador da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”, maçom 33, natural de Jataí, em Rio Verde reside desde 1973)


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