Somos roubados na balança e nem percebemos
Diário da Manhã
Publicado em 16 de maio de 2017 às 02:39 | Atualizado há 8 anos
Roubo e furto são termos que sofrem diferenciação no Direito Penal. No furto não existe a violência ao contrário do roubo. Não me prendo à semântica gramatical e vou considerar ambas as palavras que definem o crime como sinônimas. Entendo que furto ou roubo de certa forma constitui violência em maior ou menor intensidade.
No esquema da Laja Jato, por exemplo, houve a prática de roubo dos bilhões que afetaram e continuando afetando a vida de mais de 200 milhões de brasileiros. Toda essa dinheirama pertenceria à União se não houvesse os gatunos do dinheiro público. Sua origem era oriunda dos pagamentos dos tributos ou similares e pagamento do petróleo e derivados na Petrobras. Muitos dos tributos pagos com sacrifício, extraídos dos bolsos de quem trabalhou, e varou a madrugada em diferentes atividades humanas.
Muitas vezes o trabalhador, o empresário, sobretudo o pequeno, a família com comida a mais na mesa, o lazer, a viagem que poderia ser feita e não foi, porque os impostos são irreversíveis. Se não paga em dia, a dívida vai virando uma bola de neve. A advocacia do município, do estado ou da União, movidos pela receita, chega e abocanha a dívida com correção monetária, gastos advocatícios, e por aí vai.
E o cara que o eleitor escolheu, que prometia mundos e fundos, dar um nó na corrupção, prender os corruptos, ou traduzindo em miúdos, os ladrões de plantão, mentiu descaradamente, e roubou. Não satisfeito ainda envolveu mulher, filhos, amigos nas obras superfaturadas, como estádios por esse Brasil afora. Empreiteiras como a Odebrecht patrocinavam a propina para as obras grandiosas, muitas inacabadas, e assim enchiam as contas dos ratos.
Desse jeito, não sobra dinheiro para as obras necessárias, requeridas para o desenvolvimento econômico e social dos brasileiros. A saúde hoje em dia representa uma vergonha nacional. Milhares de filas com milhares de pessoas, sobretudo de procedência humilde, ficam à espera de um atendimento médico nos postos de saúde. A segurança pública é outra questão séria porque faltou investimento na educação.
Se o governo não dá escolas, favorece indiretamente o crime, bandos de malandros, de bandidos, de assaltantes. As cadeias estão superlotadas, mas os bandidos, contrariados nos mínimos desejos, estabelecem ordens que resultam nos incêndios de ônibus, prejudicando justamente os mais pobres, que precisam do transporte coletivo. Há uma baita de incoerência, mas os caras não têm juízo.
Entrevistando o presidente da Toledo, Paulo Eric Haegler, na Agrishow, em Ribeirão Preto, São Paulo, onde a empresa montou um estande, sou alertado para mais um “roubo”: as fraudes nas balanças. Há um comércio clandestino de balanças que surrupiam no peso. E essas balanças, pelo menos oficialmente cem mil, procedentes da China.
Assinala o executivo que por ano entram no mercado brasileiro cerca de 100 mil balanças piratas, ou seja, sem aprovação do Inmetro, sendo que a maioria vem da China. Em uma época de economia recessiva, a venda se dá mais em função do preço do que da qualidade.
A Toledo do Brasil tem atuado mais fortemente junto aos órgãos regularizadores com o intuito de uma melhor atuação, visando inibir o comércio ilegal de balanças, pois todos são prejudicados: o consumidor (paga por algo que não recebe); o comerciante que pode ser multado e ter sua balança apreendida; o governo que não recebe as taxas anuais e deixa de receber R$ 50 milhões em arrecadação e, por último, as indústrias de balanças. Nesse efeito cascata, soma-se ainda no cenário econômico o reflexo de 14,2 milhões de desempregados no País. O diferencial da Toledo do Brasil é que a empresa vende segurança na pesagem, pelo menos é o que garante o executivo da empresa.
Às autoridades, mais essa tarefa, de coibir um comércio clandestino que só beneficia os infratores. Pelo que se vê, somos roubados, também, nos miligramas e não nos damos conta. Mas, já dizia minha avó que de “grão em grão a galinha enche o papo”.
(Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)