Opinião

Jesus ensina o perdão das ofensas

Diário da Manhã

Publicado em 14 de maio de 2017 às 02:11 | Atualizado há 8 anos

  1. “Se teu irmão pecar (contra ti), vai corrigi-lo a sós. Se ele se arrepender, perdoa-lhe. E se ele te ouvir, terás ganho teu irmão. Mas se não ouvir, toma contigo ainda uma ou duas pessoas, para que pela palavra de duas ou três testemunhas, se resolva toda a questão. Se, porém, não lhes der ouvido, dize à comunidade. Se nem mesmo à comunidade der ouvido, considera-o como gentio e publicano.

Em verdade vos digo: tudo o que ligardes na terra será ligado no céu e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.

Eu vos digo ainda: se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem sobre qualquer coisa que pedirem, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

Então, aproximando-se Pedro, disse-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar ao meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?”

Respondeu-lhe Jesus: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. E se ele pecar contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar a ti, dizendo: ‘Estou arrependido!’ Tu lhe perdoarás”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 18, vv. 15 a 22 – Lucas, cap. 17, vv. 3 e 4).

 

Jesus enaltece o arrependimento, colocando-o como condição básica para se adquirir o perdão. No entanto,  o perdão do ofendido não isenta o agressor de seus débitos morais perante a Lei Moral de Justiça. O perdão liberta o ofendido das agruras do sofrimento e da revolta, mas não liberta o transgressor da Lei.

O divino Mestre também reforça a lição de Levítico (19:17-18) no sentido de corrigir o agressor ou o pecador:

“Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.”

No ato de advertir ou de esclarecer, o Mestre ainda avança para a cultura jurídica quando sugere testemunhas para resolver a contenda.

Se ninguém e nem a comunidade acreditar nas palavras do educador, Jesus aconselha que o deixe na condição de gentio e publicano, ou seja, na condição de um povo distante da fé em Deus. Essa postura nos lembra de outra narrada em Mateus (10:14-15):

“Se alguém não vos receber, nem der ouvidos às vossas palavras, assim que sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a poeira dos vossos pés. Com toda a certeza vos afirmo que haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, no dia do juízo, do que para aquelas pessoas”.

Ainda o divino Rabi explica que, no tocante às afinidades, a realidade no plano espiritual corresponde à realidade moral da vida terrena. Os laços de simpatia ou de antipatia permanecem além-túmulo. As afinidades espirituais estão vinculadas aos níveis intelecto-morais de cada ser. Por isso, haveremos de ter cuidado com os nossos vínculos afetivos para que não nos envolvamos em compromissos que não queremos ou não podemos sustentar.

O Mestre ainda revela que sempre estará presente entre aqueles que se afinizarem com ele. Além disso, Jesus reforça o poder da oração e do trabalho em grupo, ainda que estejam apenas dois ou três indivíduos reunidos, será suficiente para haurir as bênçãos de Deus. A lei da sintonia ou da ressonância intelecto-moral atua nos mundos infinitos do Universo corpóreo e do Universo extracorpóreo.

A lição a respeito do perdão oferecida por Jesus é impar dentro da História do conhecimento Humano. Nenhum gênio, santo, sábio ou filósofo souberam dar à virtude do perdão conforme o entendimento preconizado por Jesus. Ninguém defendeu a ideia de amar os inimigos (Mateus, 5:44).

Diante da prática do perdão, alguns podem indagar: ‘Por que perdoar é tão difícil para a vontade humana?’ Não raras vezes, deseja-se perdoar sem qualquer êxito.

Primeiramente, é necessário definir o perdão. Perdoar não significa: desculpar, dar nova oportunidade, deixar de reagir diante da ofensa recebida, esquecer a ofensa porquanto ninguém esquece uma ofensa gravada na memória. Perdoar é superar as mágoas diante da ofensa recebida, é compreender o verdadeiro sentido da perseguição ou dos danos materiais e morais sofridos. Perdoar é saber ir além da ofensa, é conhecer o verdadeiro sentido da agressão autorizada pela Lei Moral de Justiça. É ainda compreender os aspectos racionais e emocionais das causas da ofensa recebida.

Aquele que nos persegue, atrapalha os nossos planos ou dificulta a nossa jornada representa placa de sinalização da Lei divina que nos informa a necessidade de reciclagem ou de rever o melhor caminho a seguir. O adversário é alguém que pode nos ajudar a rever planos ou projetos almejados, ainda que seja por meio da reconciliação ou de uma dor sentida.

Nenhuma agressão deve ser aceita passivamente, mas pacificamente, sem desejos de vingança. Uma ou várias atitudes devem ser tomadas diante da dor causada por uma ofensa, mas sem revanchismos. Não se deve olhar para trás e sim seguir em frente, contornando obstáculos para alcançar o objetivo almejado.

Perdoar setenta vezes sete significa não desistir até aprender a perdoar. Uma vez aprendeu a perdoar não mais haverá tentativas. Jesus recomenda setenta vezes sete tentativas, ou seja, infinitas vezes, até estabelecer a neuroplasticidade cerebral vinculada ao perdão.

Segundo a Enciclopédia digital Wikipédia, “neuroplasticidade ou plasticidade neuronal, refere-se à capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroplasticidade)

As faculdades mediúnicas dependem de uma predisposição orgânica, independentemente da condição moral do Espírito. No entanto, as faculdades intelecto-morais, embora necessitem de adequada predisposição orgânica para se manifestarem, dependem de intensa e permanente vontade do Espírito.

Verifica-se que a condição para perdoar não depende de uma predisposição orgânica, mas a vontade do Espírito possibilitará essa predisposição para que o ato se concretize por intermédio de um organismo sadio.

O cérebro deverá conter as ligações neurais necessárias para o perdão. O neocórtex, que é a parte mais evoluída e complexa do córtex, necessitará das sinapses vinculadas à vontade de perdoar, resultado de uma disposição persistente para superar todos os transtornos emocionais decorrentes da ofensa recebida. Esse processo começa no períspirito, onde são armazenadas, em sua memória integral, todas as experiências vivenciadas. Essas experiências são transmitidas ao cérebro, embora esse órgão não disponha de recursos para guardar todas as informações da memória integral. No entanto, o cérebro sentirá parcialmente os efeitos da memória integral e assimilará as experiências do presente, formando nova memória parcial.

Segundo a Wikipédia, “sinapse é o local de contato entre neurônios, onde ocorre a transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinapse).

A Wikipédia também informa que “o córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro dos vertebrados, sendo rico em neurônio e o local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. (…) O córtex desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como na memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento. É a sede do entendimento, da razão. Se não houvesse córtex não haveria linguagem, percepção, emoção, cognição e memória. No Homem, o desenvolvimento do córtex permitiu o desenvolvimento da cultura que, por sua vez, serviu de estímulo ao desenvolvimento cortical”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral).

Quanto ao neocórtex, a Wikipédia esclarece que “o neocórtex recebe este nome pois no processo evolutivo é a região do cérebro mais recentemente derivada. Essas áreas constituem a “capa” neural que recobre os lóbulos pré-frontais e, em especial, os lobos frontais dos mamíferos. É a porção anatomicamente mais complexa do córtex”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoc%C3%B3rtex)

Nesse contexto, verifica-se que uma das condições para se estabelecer o perdão é trabalhar com prazos. Quando não se trabalha com o tempo, o cérebro não entende que haja real desejo de perdoar. Para qualquer tipo de trabalho, seja no aspecto material, seja no campo moral,  deverá haver planejamento ou seja, a organização de ideias, e programação, isto é, a organização do tempo. As estratégias do “como” e do “quando” são vitais para qualquer empreendimento, especialmente quando se trata do mais complexo trabalho no campo moral que é o de perdoar.

Em sua epístola aos Romanos o apóstolo Paulo fala da luta interior, o que representa as dificuldades de implementar as virtudes e consolidá-las por meio das sinapses no neocórtex:

“Sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. Realmente não consigo entender o que faço; pois não pratico o que quero, mas faço o que detesto.(…) Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim. (…) Verifico pois esta lei: quando eu quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. Eu me comprazo na lei de Deus segundo o homem interior; mas percebo outra lei em meus membros, que peleja contra a lei da minha razão e que me acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros.” (Romanos, 7:14-23).

Nesse sentido, também há uma luta interior que envolve o perdão e que transita desde a primariedade moral do Espírito ao vazio do neocórtex quanto à prática dessa virtude sublime.

Os pecados são as limitações do Espírito que desrespeitam os direitos naturais. Na senda do perdão, á medida que o Espírito evolui, irradia para o períspirito e para os corpos que habitará em suas jornadas encarnatórias a sua predisposição para perdoar.

Do mesmo modo que um atleta necessita de preparar seu corpo para eventos esportivos, o Espírito também necessita de vontade e de um cérebro que lhe possibilite o perdão. É fundamental certa disciplina para materializar a vontade de perdoar por meio do períspirito e do cérebro.

Também um atleta espiritual que se dispõe a perdoar necessita de preparo, conforme disse o apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto, comunidade vinculada à cultura esportiva, onde havia um grande estádio para torneios olímpicos (1Coríntios, 9:24-27):

“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todo, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio. Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.”

É o que um atleta do Cristo deve fazer: treinar setenta vezes sete para conquistar o laurel da virtude almejada no torneio olímpico da Evolução espiritual. No caso do perdão, somente por meio do arrependimento e da misericórdia diante dos agressores, iniciaremos bem o processo de resgate das nossas dívidas morais perante da Lei de Deus.

 

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é autor do livro “A outra face do sexo” e membro da Academia Goianiense de Letras)


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