Opinião

Premonição: será que existe? Acho que sim

Redação DM

Publicado em 10 de junho de 2017 às 02:21 | Atualizado há 8 anos

Tenho lido – em revistas, jornais e livros – muita coisa sobre fenômenos da mente. Não que eu seja um aficcionado desse tipo de leitura, mas porque, na falta de algo para ler, até jornal velho serve para desenferrujar as vistas e despertar os pensamentos momentaneamente adormecidos.

E no meio dessas leituras – umas escritas por simples vaidade; outras, para ten-tar convencer o leitor; outras, ainda, apenas para expor teorias que a cada momento vêm a furo -, chego a impressionar-me com certos fenômenos, que os entendidos convencionaram chamar de parapsicológicos.

Um desses fenômenos é a premonição, e a literatura é abundante em exem-plos, que talvez nem o desmistificador padre Oscar Quevedo (“A Face Oculta da Mente”) saiba explicar.

Contam-se casos de pessoas que previram sua morte, que anteciparam fatos, que adivinharam coisas. É corrente em minha cidade que o finado Afonso Carvalho, quando menino, vira, certa noite, sua madrinha adentrar o quarto em que ele dormia. ele se espantou, porque a madrinha morava em outra fazenda. Mais estupefato ficou ao observar que o quarto ficou subitamente tomado por uma luz, como que uma auréola, emanada do corpo da velha. Seu remédio foi gritar desesperado, sendo acudido pelos da casa que, para o fazerem dormir, tiveram que colocá-lo entre dois numa só cama, que o menino estava mergulhado num assombro medonho e sem precedentes. Amanhecendo o dia, ao abrirem a porta da rua, estava ali um positivo com a notícia de que a madrinha de Afonso Carvalho falecera aquela noite, mais ou menos na mesma hora da estranha visão.

A exemplo desse caso, revistas especializadas como a “Planeta”, e programas de rádio como o “Incrível! Fantástico! Extraordinário!” que o Almirante apresentava, são pródigas no fornecimento de exemplos cotidianos, embora, na realidade, eu jamais tenha tido convicção da veracidade de tais fatos, creditando-os mais à fantasia.

Quando eu assistia nas alterosas, em 79, meus ex-sogros, Elpídio e Joaninha, chegaram a Brasília e se internaram às pressas: ele, 74 anos, com suspeita de algum distúrbio cerebral decorrente de um coágulo, segundo o médico; ela, também já curtida nos anos, para tentar salvar as vistas da catarata, que a fizera operar-se anteriormente duas vezes. O exame do velho era arriscado, pois impli-cava em uma série de outros, que exigiam até anestesia; ela, por seu turno, não podia tomar anestesia geral devido a problemas circulatórios.

No dia do internamente de ambos (em hospitais diferentes), minha ex-mulher quase não dormiu, pois soubera que a mãe teria que tomar anestesia geral, e o pai fora até prevenido pelo médico sobre os riscos que correria com os tais exames.

Madrugadão, coisa de uma da manhã, o telefone acorda todo mundo, pois está-vamos naquele dorme-não-dorme de sono entrecortado de preocupação. Do quarto ao telefone, foi um pulo, e ela, engolindo em seco, demorou a conseguir falar.

Do outro lado, seu irmão, Antônio Luiz, em Brasília, parecia apavorado, quase sem poder dizer “alô”, deixando a irmã angustiadíssima, pois era justo que imaginasse o pior. Conseguindo, afinal, desengasgar-se, ele disse que acabara de ter um pesadelo em que o meu caçula, Alessandro, na época com 4 anos, havia desaparecido ou morrido. E, após dizer que os velhos iam bem, ainda recomendou:

– Cuidado com o Sandro! Não vão deixá-lo sair!

Ficamos relaxados, e após conferir o menino dormindo a chupar o dedo, fomos dormir também.

No dia seguinte, ao voltar meio-dia para o almoço encontrei a casa sozinha. Procurei nos vizinhos, e nada de encontrar os dois. Muito depois, ouvi gritos angustiosos da calçada do prédio:

– Sandro sumiu, meu Deus do céu!

Desci às pressas, e percorremos o bairro num raio de quase um quilômetro. Ela começou a impressionar-se com o sonho do irmão e a chorar impaciente. Duas horas depois, o moleque foi encontrado no meio de umas construções, em companhia de um vizinho maiorzinho e já escolado em fugas.

A rebarba do sonho foi uma severa reprimenda.

Mas o que o menino passou a sofrer em termos de vigilância dali em vante bo-tava qualquer guarda-costas no chinelo.

 

(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa (AGI), escritor, jurista, historiador e advogado, [email protected])


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