Cultura

Três vezes Allan Poe

Redação DM

Publicado em 26 de março de 2017 às 02:40 | Atualizado há 8 anos

Com as tramas policiais, o terror psicológico e o suspense saídos da cabeça de um dos maiores escritores que já passaram por esta terra: Edgar Allan Poe. Será assim, que a Cia Oops!… irá comemorar o Dia Internacional do Teatro, que é celebrado amanhã. E, a partir desta terça-feira (28) o grupo mostra à cidade pela primeira vez, todos os espetáculos da Trilogia Poe, as montagens: Olho, Gato Preto e a estreia de William Wilson.

A encenação dos espetáculos começam nesta terça-feira (28), com a encenação da premiada peça “Olho”, no Teatro Goiânia. Na quarta-feira (29), será a vez da montagem “Gato Preto” entrar em cena, às 20h no Teatro Yguá, do Centro Cultural Martim Cererê. Já, na quinta-feira (30) às 20h, no Teatro Sesc Centro, o público vai poder conferir pela primeira vez a montagem William Wilson, que é o último espetáculo desta série.

A companhia encerra a Trilogia Poe–Parte 3–que contou com apoio institucional do Fundo de Arte e Cultura de Goiás–em grande estilo. Dirigido por Sol Silveira, o espetáculo, que foi adaptado do conto homônimo de Allan Poe e tem no elenco os atores Francisco Nikollay e João Bosco Amaral,–que também assina a dramaturgia–contou com profissionais das mais variadas áreas artísticas. Além do do teatro, conta com toques da dança contemporânea das artes visuais e da fotografia.

Muito dessa linguagem contemporânea do espetáculo se deu por conta da coreógrafa Edelweiss Vieira, que foi preparadora física dos atores. Mas, este diálogo da dramaturgia com outras artes também se estende à trilha sonora de William Wilson, que é autoral e executada ao vivo durante a encenação, pelos músicos Lino Calaça e Leandro Teixeira. À montagem levam diversos elementos do rock, do blues, cool Jazz e do minimalismo.

 

Poe para exportação

Tantas misturas não ficarão apenas nos palcos de Goiânia. A peça William e Wilson passará ainda por Anápolis e Trindade. A partir de junho, as peças da “Trilogia Poe” terão ainda circulação nacional e passarão por Espírito Santo (Vila Velha e Guaçuí), São Paulo (Capital e Santo André) e Ceará (Fortaleza e Aracati).

E a versão da Ooops!.. para as obras do escritor inglês irão cruzar oceano. A partir de setembro passar por cidade de quatro países: Equador ( mbato e Latacunga), Colômbia (Cali e Medellín), Portugal (Oliveira de Azeméis) e Espanha (Lérida e Toledo).

Esta é mesmo uma boa fase para a companhia. O ator João Bosco Amaral diz até que, esta é a melhor fase do grupo, desde que surgiu, em 2010. Pois, nestes 17 anos de trajetória, a Ooops!.. tem desenvolvido diversas pesquisas, além do teatro contemporâneo, que se estendem para a linguagem clown e ao teatro de rua.

Estão ainda com oito espetáculos no repertório, e desde o início do ano temos realizado pelo menos uma apresentação por semana, de algum dos nossos espetáculos. “Isso vem do reflexo desta pesquisa que estamos desenvolvendo em nossas salas de ensaio durante todos esses anos, e agora, apesar da crise que assola o país, estamos colhendo bons frutos e esperamos que venham ainda mais trabalhos”, diz o ator João Bosco Amaral.

 

ENTREVISTA JOÃO PAULO BOSCO AMARAL

DMRevista: Quais foram os desafios de fazer uma adaptação tão intensa de Allan Poe?

João Bosco Amaral: Os desafios são variados, e envolvem um mergulho profundo na obra deste autor que é o criador do suspense na literatura, e influenciador de grandes nomes, como Baudelaire e Dostoiévski, por exemplo. Para isso, precisamos realizar um estudo, que contou com a presença de uma especialista na obra, além de obras cinematográficas e na própria linguagem do terror e do suspense dentro da encenação teatral, pois realizar obras desse gênero no teatro ainda é algo raro nos palcos brasileiros. Uma característica peculiar da obra de Poe é a arte de isolar os detalhes, de submetê-los a tensões opostas e de distanciá-los de seu uso habitual. Então, levar isso para a corporeidade dos atores, para a iluminação, cenografia e trilha sonora, por exemplo, é um desafio enorme que exige um estudo apurado. Além claro, do estudo psicológico das obras e dos personagens, seus conflitos internos e externos, sua erudição e loucura miscigenados e contrapostos à todo instante.

 

DMRevista: O que liga estes três espetáculos além de, claro, a presença do autor?

João Bosco Amaral: Creio que a pesquisa cênica desenvolvida pelo grupo é o primeiro elo de ligação entre os espetáculos da trilogia, pois as referências ao suspense, ao mistério e ao terror já apareceram em outras peças da Cia (A História Terrível e Inacabada de uma Noite etérea e sem Memórias ou Murmúrios de uma Madrugada sem Vida – 2006; Macário – 2009). Além disto, o desejo de explorar a mente e fisicalidade de personagens tão extremos e complexos é um sempre um desafio motivador para atores, diretor e dramaturgo.

 

DMRevista: Por que terminar a trilogia com “William Wilson”?

João Bosco Amaral: Escolhemos terminar com “William Wilson”, pois, além de ser um dos contos mais interessantes da obra poeana, em William Wilson, Edgar Allan Poe inaugura a ideia do “duplo” na literatura universal, e faz isso de uma maneira tão singular e própria, e tão dramática que nos faz de imediato imaginar a dramatização deste conto durante sua leitura. Nesta obra Poe vai ao limite da profundidade e complexidade na criação de personagens dúbios de sentido, que nos coloca em xeque à todo instante sobre nossa própria consciência e nossas ações, nos levando à um limiar entre sanidade e loucura. E esse limiar  é um caminho do qual, nós artistas da Oops!.. resolvemos explorar neste conto que influenciou diversas obras, como O Duplo de Dostoiévski, ou o Homem Duplicado de Saramago (ambas obras já com adaptações cinematográficas) e o filme Clube da Luta, por exemplo.

 

DMRevista: Amanhã é o Dia Internacional do Teatro e, aproveitando este gancho, quais as demandas que você reivindica para esta arte em Goiânia?

João Bosco Amaral: As demandas são principalmente para a continuidade das ações culturais em nosso Estado, e para a manutenção das atividades artísticas. Muitos espaços públicos estão fechados ou sucateados, o que dificulta a possibilidade dos grupos de permanecerem em cartaz. E também para uma maior democratização dos recursos públicos destinados à cultura e uma aproximação do público aos bens artísticos produzidos aqui. Penso que, ainda, a formação do público e a facilitação do acesso aos espectadores seja o maior desafio, pois no momento em que a comunidade perceber que a cultura e a educação são os principais instrumentos de mudança e transformação da nossa realidade, teremos com certeza uma realidade muito melhor para o Teatro, e consequentemente, um país melhor.

 

Confira a história dos espetáculos da Trilogia Poe:

OLHO

Adaptação do Conto “Coração Delator” de Edgar Allan Poe, “Olho” é um espetáculo que busca manter a essência narrativa do conto, mantendo toda a atmosfera “noir”, “policial” e “terror” que o romântico Allan Poe propõe na maior parte de suas obras. Para isto, Na trama, a personagem cumpre uma espécie de ritual, fazendo as mesmas coisas durante sete noites no mesmo horário: meia-noite. O comportamento leva a diversos questionamentos, como: por que a repetição? O que aconteceu depois?

GATO PRETO

Annabela é uma mulher de natureza extremamente sensível e delicada, esposa exemplar e especialmente afeiçoada aos animais. Contudo, torna-se uma pessoa irritável, sombria e apática, sem muita simpatia por animais ou pelo próprio marido, frente a um repentino horror desencadeado por sucessivos acontecimentos que a fazem crer que o seu gato, chamado Plutão, possui algo de sobrenatural, uma certa maldição do Gato Preto.

 

WILLIAM WILSON

“William Wilson” conta a história de um jovem de descendência nobre que encontra, logo no primeiro dia de escola, um colega com o mesmo nome que o seu. No princípio, William e seu homônimo são apenas colegas de escola, que se detestam levemente por serem tão parecidos, e a maneira protetora com que o homônimo o tratava causava asco e desprezo pelo seu sósia, fazendo-o fugir da escola. Porém após esta fuga, William entra em uma espiral de decadência moral e espiritual, envolvendo-se em orgias, traições e jogos de azar, enredando-se cada vez mais neste mundo sombrio.

 

Programação

GOIÂNIA

Amanhã: Olho – às 20h no

Teatro Goiânia

Entrada Franca

Quarta-feira (29) – Gato Preto – às 20h, no Martim Cererê

Entrada Franca

Quinta-feira (30) – William Wilson – às 20h, no Teatro SESC Centro

Ingressos: R$20 (inteira) e

R$10 (meia)

 

ANÁPOLIS

Sexta (31) – Olho, às 20h, no Auditório do SESC Anápolis

Entrada Franca

Sábado (01/04), às 20h, no Auditório do SESC Anápolis

Entrada Franca

Domingo (02/04) – William Wilson, às 20h no Auditório do SESC Anápolis

Entrada Franca

TRINDADE

Sábado (15/04) – Olho, às 20h no Teatro da AFIPE

Entrada Franca

Sábado (29/04) – Gato Preto, às 20h no Teatro da AFIPE

Entrada Franca

Sábado (06/05) – William Wilson, às 20h Teatro da AFIPE

Entrada Franca

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