Cultura

Poesia em poucas palavras

Redação DM

Publicado em 23 de março de 2017 às 02:51 | Atualizado há 8 anos

Yvan Avena nasceu em Marseille, na França, em 1930. Cidadão do mundo–porque sua grandiosidade não cabia pertencer a um só lugar–passou pela França, Argentina, Suécia, Guiné Bissau e Guatemala. Seu início de vida se deu entre Salon-de-Provence, em Maubourguet (Altos Pirineus) e Sant-Antoine em Marseille. Um artista multifacetado, Yvan Avena era artista plástico, poeta, crítico de artes, escritor e tradutor. Dez anos antes de sua morte, Yvan Avena e sua esposa Monique Avena, escolheram Goiás para viver. Era um apaixonado pela cultura, a música, a poesia, a culinária e a gente goiana. Foi também em Goiás que o casal francês conheceu Elizabeth Caldeira Brito, psicóloga, professora e escritora.

A longa amizade nasceu de maneira despretensiosa e, regada pelas boas risadas, rendeu grandes frutos, hoje colhidos carinhosamente por Elizabeth, um ano após a partida de seu “melhor amigo francês”, nas palavras da própria escritora. O projeto do livro teve o aval de Yvan Avena, porém sua conclusão só se deu após o falecimento do francês. Segundo relato de Elizabeth, em certo dia do ano de 2007, Yvan chegou ao local de trabalho da escritora, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, trazendo-lhe uma pasta repleta de “relíquias”, poemas cuidadosamente organizados, traduzidos por ele próprio para o francês e o espanhol. “Recebi-o como se recebe uma herança preciosa. Um legado que só se dá a quem se confia e se conhece. Disse-me, com seu sotaque característico, ‘Bety faça o que você quiser…’ Deixou-me nas mãos este legado…”

O livro contém poemas de vinte e dois escritores goianos, tais como Ada Curado, Aidenor Aires, Augusta Faro, Brasigóis Felicio, Coelho Vaz, Denise Godóy, Edmar Guimarães, Elizabeth Caldeira Brito, Gabriel Nascente, Gilberto Mendonça Teles, Heloisa Helena Campos Borges, Helvécio Goulart, Itamar Pires Ribeiro, José Fernandes, José Mendonça teles, Lêda Selma, Luiz de Aquino, Maria Luisa Ribeiro, Maria Helena Chein, Miguel Jorge, Regina Lúcia de Araújo e Sonia Ferreira.

 

Entrevista com Elizabeth Caldeira, sobre o livro Poesia em poucas palavras:

DM Revista: O que a motivou a organizar o livro “Poesia em poucas palavras”, em homenagem à Yvan Avena?

Elizabeth: Certa manhã, (em 2007) em meu local de trabalho, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, recebi uma ligação do amigo de longa data, Yvan Avena, dizendo-me de uma visita que faria a mim no IHGG, onde ele era Sócio Correspondente, assíduo e presente. Chegou-me com uma pasta. Nela vários poemas de autores goianos, com sínteses biográficas de cada um, traduzidos para o francês e o espanhol. Os pequenos poemas, na versão em francês, se apresentavam transcritos, por ele, e ricamente ilustrados, com sua forma singular de interpretar as poesias, cujos autores foram selecionados por ele, dentre o universo poético goiano. Os originais com o título: “Poesia em poucas palavras – em quelques mots – en pocas palabras” eram precedidos do prefácio do escritor José Mendonça Teles, também em versão trilingue.

Recebi aquela incumbência como quem recebe uma herança preciosa. Um legado que só se dá a quem se confia e se conhece. Disse-me Avena, com seu sotaque francês, característico de quem dominava, muito bem, o português: “Bety faça o que você quiser…”. Yvan deixou-me nas mãos um bem inestimável que será disponibilizado em breve ao grande público brasileiro, da América latina e da Europa.

DM Revista: A publicação de sua obra veio se concretizar apenas após a morte de Yvan Avena. Quais foram as dificuldades que, de certa forma, atrasaram esta publicação? Você pensou em desistir, ou adiar um pouco mais?

Elizabeth: O material recebido ficou guardado no IHGG, durante todos estes anos, à espera de uma oportunidade para que a publicação fosse feita com a chancela do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás a qual pertencíamos (ele como Sócio Correspondente e Eu como Sócio Titular). Infelizmente não foi possível por questões financeiras. Tomei, então, a iniciativa da publicação do livro, como proponente de projeto cultural como ‘pessoa física’.

O Projeto, para reivindicar o patrocínio da Lei Municipal de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura, teve início com o conhecimento, aquiescência e entusiasmo de Yvan. Ele soube de sua aprovação e compartilhou nossa satisfação. Infelizmente o processo de captação foi muito demorado (realizado no último dia, graças ao empenho da dinâmica produtora cultural, musicista Lidiane Carolina). A conclusão extrapolou, no tempo, sua existência física (ele faleceu há um ano). Graças à Lei pudemos agora realizar o intento de tornar público “Poesia em poucas palavras”, de autores goianos, selecionada, traduzida, ou seja, “repoetizada” e ilustrada por Yvan Avena.

DM Revista: Qual o contato, a relação entre você e Yvan Avena com os poetas goianos selecionados por ele, cujos poemas foram traduzidos para o francês e o espanhol, pelo próprio Avena?

Elizabeth: Chefe de Gabinete da Presidência do IHGG, há mais de 20 anos, escritora, acadêmica e organizadora da página semanal, “Oficina Poética” do Diário da Manhã, há mais de quatro anos (já estamos na 254ª edição), tenho contatos próximos com a maioria dos escritores de nossa capital. O IHGG organizou algumas antologias com a participação dos autores daqui. Eu fui a responsável pelas comunicações com os escritores em busca de poemas para compor as publicações. Os convites para que os escritores participem da Oficina poética, também estreita nossos relacionamentos. Sinto-me privilegiada por conhecer todos os que compõem o “Poesia em poucas palavras”. Yvan Avena admirava e comentava por eu conhecer todos os escritores.

 

DM Revista: Existem propostas ou intenções de levar “Poesia em poucas palavras” para o berço de Avena, a França?

Elizabeth: Sim. O livro não será encaminhado só à França… Yvan Avena confidenciou à Monique, que este seria seu último projeto realizado (estava muito doente e sabia que não teria muito tempo de vida). Afirmou a ela que “gastaria um pouco”, mas que enviaria, cerca de 160 exemplares, a 27 países e a toda sua lista de contatos. São editores, escritores, críticos literários e amigos que deixou nos países, por onde fez rastros culturais em sua longa jornada, profissional, artística e literária.

Monique Avena vai cumprir seu “último desejo”: enviar os cerca de 160 exemplares aos ícones da literatura e das artes, nos 27 países de seu rol de contatos.

Vale ressaltar que temos tido a oportunidade de representar nossa literatura em alguns países da América latina e Europa, tais como: Chile, Peru, Equador, Argentina, Portugal e Itália, onde pretendemos fazer chegar a lírica goiana, repoetizada e iluminada com a arte de Avena no “POESIA em poucas palavras – em quelques mots – en pocas palabras”.


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia