Cotidiano

Focus revela baixas expectativas

Diário da Manhã

Publicado em 21 de março de 2017 às 02:20 | Atualizado há 8 anos

Todas as segundas-feiras o Banco Central publica o seu “Boletim Focus”, com dados tabulados no final da sexta-feira anterior. É um instrumento criado pela autoridade monetária para medir o “grau de confiança” dos agentes do mercado. Durante a semana, funcionários do Banco Central telefonam para os principais executivos de 400 grandes empresas estabelecidas no Brasil para perguntar o que acham disso e daquilo.

O Focus é baseado na Teoria das Expectativas racionais. Na verdade, é apenas uma hipótese. Os agentes econômicos utilizam toda a informação disponível sobre o atual comportamento e as previsões para o futuro da economia. Com base na experiência e nessas informações, eles preveem de forma racional as atitudes e políticas futuras do governo, reagindo no presente em consonância com as expectativas formadas e anulando em algum grau a efetividade dessas políticas. Se acreditam que, por exemplo, a inflação vai subir, eles já antecipam aumentos de preços visando se proteger. Aí, acabam forçando o aumento da inflação.

No início dos anos 60, o americano John Muth publicou artigo lançando, no mundo acadêmico, a hipótese das expectativas racionais, que teria, a partir daí, grande impacto na investigação dos fenômenos macroeconômicos. O uso da hipótese na macroeconomia ganhou grande popularidade a partir dos trabalhos de Robert Luca. A hipótese alicerçou na escola neoclássica de Sargent, Wallace, Barro, Kydland e Prescott. Não tardou também para que a incorporação das expectativas racionais ultrapassasse os muros da academia e chegasse à formulação da política econômica.

No processo de derrubada da presidente Dilma, o “mercado” atuou a favor do golpe com base em “expectativas racionais”. Supondo que o governo fosse fazer coisas que o mercado não queria que ele fizesse, movimentaram-se no sentido de derrubá-lo. A todo instante e a propósito de nada o presidente Temer dizia que, pós-impeachment, o Brasil iria recuperar a “confiança dos “investidores”.

Mas o que o último Focus revela? O boletim divulgado pelo BC pode ser interpretado da maneira que se quiser, mas, comparando-se os dados atuais com os de outras consultas, o que se percebe é que a “confiança do investidor” ainda não voltou por completo. As expectativas estão, de fato, ancoradas, mas num chão de moderado pessimismo.

Câmbio e Inflação 

Dois indicadores, cruciais para a tomada de decisões por parte dos grandes investidores, o IPCA, que mede a inflação, e o Câmbio, que mede o valor do real vis-a-vis o Dolar, continuam praticamente estáveis no relatório Focus. Na último relatório, o de ontem, a expectativa é de que a inflação fecha o ano em 4,56%. Um pouco mais do que o verificado a uma semana, 4,54%, porém um pouco abaixo do que estava a 4 semanas atrás: 4,62%. Para o ano que vem, as expectativas continuam as mesmas de 4 semanas atrás: O próximo ano deverá fechar com inflação de 4,50%. Já o câmbio, que marcava 3, 30 há um mês atrás, teve ligeira queda de um centavo na prospecção de ontem. Mas a expecta via é de que a moeda americana permaneça estabilizada a 4,50 no próximo ano.

No tocante ao dólar, a discrepância entre hipótese de que os agentes econômicos utilizam toda a informação disponível sobre o atual comportamento e as previsões para o futuro da economia. Com base na experiência e nessas informações, os agentes antecipam de forma racional as atitudes e políticas futuras do governo, reagindo no presente em consonância com as expectativas formadas e anulando em algum grau a efetividade dessas políticas. as expectativas racionais e os fatos indicam que a teoria não pode ser levada muito a sério. A moeda americana oscilou muito pouco nas últimas semanas, nunca indo além de 3,20, ficando um pouco acima do patamar de 3,10. Ontem à tarde, a mesa de câmbio do Banco Central operava a moeda americana a 3,07 para compra e venda e a 3,08 para compra e venda pela Petax.

Selic e PIB 

É consenso entre empresários e economistas que, com a taxa de juros de referência – Selic – acima de dois dígitos, a economia não poderá retomar o crescimento. Juros altos e câmbio sobrevlaorisado são fortes inibidores do crescimento. A expectativa do mercado é que o Banco Central deverá cortar os juros gradualmente em virtude da desinflação. Com os índices inflacionários convergindo rapidamente para o centro da meta, a expectativa do mercado, segundo o Relatório Focus, é que a Selic feche o ano em 9% e chegue ao fim de 2018 a 8,50%.

Já a expectativa quanto ao Produto Interno Bruto é que fechemos o ano em 0,48%. Esta expectativa vem se mantendo já há bastante tempo. A Confederação Nacional da Industria – CNI, em seu órgão oficial, na edição mais recente – fevereiro de 2017 – estima um PIB de apenas 0,50% para este ano. A CNI apoia com entusiasmo as últimas medidas econômicas do governo, de corte microeconômico. São medidas para permitir às empresas a recuperação do equilíbrio financeiro e estimular o consumo. Mas, na visão da CNI, os efeitos dessas medidas não são automáticos e, se tudo correr bem, os frutos poderão ser colhidos já no ano que vem.

Para o ano que vem, a expectativa é de que o PIB fique em torno de 2,50% em relação a 2017. Grande parte desta expetativa está ancorada na crença de que haverá um forte incremento dos investimentos em 2018, sobretudo na área externa.

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