Política

Os motivos da ruptura de Mauro Borges com Jango

Diário da Manhã

Publicado em 11 de março de 2017 às 02:11 | Atualizado há 4 meses

  • Eurico Barbosa diz que João Goulart queria lançar Múcio Teixeira ao Palácio das Esmeraldas peloPTB, em 1965
  • Nomeação de Alfredo Nasser, sob parlamentarismo, sem participação do Palácio do Planalto, desagradou filho de Pedro Ludovico
  • Ex-deputado estadual em 1964, ele conta que Sobral Pinto obteve Habeas Corpus contra a deposição de governador
  • Oposicionista do MDB relata que acabou cassado em março de 1969 e teve os direitos políticos cassados por 10 anos

 

João Goulart queria lançar, nas eleições ao Palácio das Esmeraldas, em Goiás, no ano de 1965, um nome do PTB, em ‘carreira solo’, que seria Múcio Teixeira, diretor da Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil. O que desagradou Mauro Borges Teixeira. Além da ausência de compensações financeiras, de financiamentos e programas da União para o Estado. É que o inquilino da Casa Verde teria, ao lado de Leonel Brizola, carbonário governador do Rio Grande do Sul, liderado a Cadeia da Legalidade para garantir a posse do vice, com a renúncia da etílica vassoura Jânio da Silva Quadros. Esses seriam os motivos da ruptura de Mauro Borges com Jango. É o que afirma a testemunha ocular da História Eurico Barbosa, hoje com 84 anos.

Nascido em Morrinhos, em 3 de março de 1933, filho de Aristides Ferreira Barbosa e de Eliza Maria de Oliveira, tradicional casal que produziu nove filhos, Eurico Barbosa elegeu-se, em 1958, vereador em sua cidade. O mais votado da oposição. O homem era da UDN, a União Democrática Nacional. Em 7 de outubro de 1962, ele abocanhou milhares de votos e chegou à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. Pragmático, adotou uma postura de independência em relação ao Governo do Estado. Com uma oposição construtiva, nada histérica, contra o filho de Pedro Fundamental Ludovico Teixeira. Tenente-coronel com curso de Estado Maior, no Rio de Janeiro, Mauro Borges poderia ser classificado como um nacional-estatista, diz.

Depois de ter abençoado a Cadeia da Legalidade, para garantir a posse de João Goulart, ele não viu com bons olhos, apesar de não ter sido indicação do Palácio do Planalto, a nomeação de Alfredo Nasser, do PSP, de Adhemar de Barros, seu adversário político em Goiás, para o Ministério da Justiça. Mauro Borges apoiou, em 6 de janeiro de 1963, a volta do presidencialismo, informa. Em seu mandato foram criados o Cerne, a Iquego, a Osego, a Metago, a Saneago, o Idago, além do Combinado Agrourbano de Arraias, fundado nas experiências socializantes dos kibutz, em Israel, explica Eurico Barbosa, então deputado estadual, um advogado graduado na Faculdade Federal de Direito, em Goiás, em 1957.

– Ele tentou implantar ainda uma Distribuidora de Petróleo em Goiás. Uma administração inovadora.

1º de abril de 1964. Palácio Alfredo Nasser, Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. O deputado estadual Eurico Barbosa denuncia o golpe de Estado civil e militar que depôs João Goulart e anuncia o seu rompimento com a UDN. Conservadora e golpista, a legenda possuía, no Estado, líderes como Hélio Seixo de Brito, José Fleury, Randall do Espírito Santo, Emival Caiado. O parlamentar se contrapõe ainda a Mauro Borges, que rompera com Jango e jogara água benta na ruptura institucional no País. O tenente-coronel errou ao aprovar o golpe civil e militar, dispara. Uma noite que durou 21 anos, como definem o jornalista Flávio Tavares e o documentarista Camilo Tavares. A conquista do Estado, para René Armand Dreiffus, uruguaio.

A traição do comandante do I Exército, instalado no Rio de Janeiro, Raimundo Ferreira Sousa, foi fundamental para o êxito do golpe de Estado civil e militar de 1964, acredita. Ele caminhou com as suas tropas em direção a Juiz de Fora [MG] para impedir o avanço dos homens de Olímpio Mourão Filho, adianta. Para enfrentar a deflagração do golpe, afirma. As suas forças militares debelariam com tranquilidade o golpe, crê. Ele recebeu, porém, um telefonema do general Odílio Dennys. Uma traição por telefone, ironiza. O homem bandeou para o lado das forças reacionárias, relata. Raimundo Ferreira Sousa voltou com as suas tropas para o Rio de Janeiro e consolidou o golpe de Estado civil e militar contra João Goulart, sublinha o pesquisador de 1964 e escritor, autor de dez livros, Eurico Barbosa, emocionado.

O golpismo é histórico no Brasil, aponta. Veja o suicídio de Getúlio Vargas, às 8h30, do dia 24 de agosto do turbulento ano de 1954, observa. A tentativa contra a posse de Juscelino Kubistcheck, autor do Plano de Metas, de 50 anos em 5 e construtor de Brasília, no Planalto Central, diz. As movimentações dentro e fora da caserna para impedir a posse do vice-presidente da República João Goulart, em agosto e setembro de 1961, com a renúncia de Jânio da Silva Quadros, atira. Além do próprio golpe de Estado, em 1º de abril de 1964, pontua. “Assim como o golpe frio, civil, contra a presidente da República eleita no ano de 2014, com 54, 5 milhões de votos, Dilma Vana Rousseff, ex-presa política torturada durante a ditadura civil e militar”, frisa

– Restou apenas o III Exército, no Rio Grande do Sul, em defesa da legalidade. Com o comandante Ladário Teles.

Eleito no Congresso Nacional, em 1964, inclusive com o voto do senador por Goiás, Juscelino Kubistcheck, o marechal Humberto Castello Branco, paulatinamente, passou a adotar medidas para derrubar Mauro Borges, registra Eurico Barbosa. O Governo do Estado de Goiás protocolou pedido de Habeas Corpus para garantir o término do mandato de Mauro Borges, afirma. O autor do pedido era o advogado Sobral Pinto. Ele havia defendido Luiz Carlos Prestes depois da fracassada tentativa do putsch militar de novembro de 1935, contra Getúlio Vargas. O ‘Cavaleiro da Esperança’ amargou quase 10 anos de prisão. A sua mulher, Olga Benario, alemã judia e comunista, foi deportada grávida para a Alemanha de Adolf Hitler e morta em 1942.

– O STF deferiu o pedido de Habeas Corpus. Por oito votos a zero.

Apesar disso, o marechal Humberto Castello Branco, homem da turma da Sorbonne, decretou a intervenção federal em Goiás, recorda-se. Mauro Borges caiu do Palácio das Esmeraldas em 26 de novembro de 1964, frisa. O então coronel Meira Mattos acabou nomeado interventor no Estado. Logo depois, assumiu o cargo o marechal Ribas Júnior. Nas eleições de 1965, Otávio Lage de Siqueira, da UDN, derrota Peixoto da Silveira e é eleito governador de Goiás. Eurico Barbosa é reeleito, nas urnas, em 1966, deputado estadual. Pelo recém-criado Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, oposição consentida pelo Ato Institucional número 2. Oposicionista, é cassado em 13 de março de 1969. Com os direitos suspensos por 10 anos.

Em 1982, o advogado Eurico Barbosa foi, mais uma vez, agora sob a redemocratização do Brasil, eleito deputado estadual pelo PMDB. No ano de 1984 virou líder do governo estadual na Assembleia Legislativa. O governador de Goiás era Iris Rezende Machado, que havia sido cassado em 17 de outubro de 1969. No biênio 1985-1986, presidi a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, aponta. Reeleito em 1986, tornei-me conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, em 26 de março de 1990, informa ao Diário da Manhã. A minha aposentadoria no TCE ocorreu em 2002, destaca. Meses antes de completar 70 anos de idade, registra. Sebastião Tejota, ex-presidente da Assembleia Legislativa, assumiu a sua vaga.

Golpe civil

– Em 1964 tivemos um golpe de Estado civil e militar. Em 2016, um golpe civil, que derrubou Dilma Rousseff. Uma trama que envolveu o Legislativo, o aparato policial e jurídico do Estado e os grandes conglomerados de comunicação, como Veja, Época, Isto É, Globo, TV Record. Com a participação de Michel Temer, vice, golpista. A sua carta a Dilma Rousseff é uma confissão de traição.

 



A traição do comandante do I Exército, instalado no Rio de Janeiro, Raimundo Ferreira Sousa, foi fundamental para o êxito do golpe de Estado civil e militar de 1964

Eurico Barbosa, Ex-deputado em 1964

 

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