Política

Reduzido número de mulheres no poder

Redação DM

Publicado em 9 de março de 2017 às 02:31 | Atualizado há 8 anos

Dos 41 deputados estaduais que representam a população de Goiás, apenas três são mulheres, apesar do eleitorado feminino ser maior do que o masculino no Estado. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), o eleitorado goiano é composto de 2,3 milhões de mulheres e de 2,1 milhões de homens. A discrepância de representação entre os gêneros não é exclusiva da Assembleia Legislativa de Goiás. Ela está presente em todo o Legislativo, no Executivo, na política como um todo, nos altos cargos das empresas; em muitos lares, muitas vezes, não têm voz.

Para marcar a presença da mulher na sociedade, muitas vezes esquecida e subjugada, as deputadas Delegada Adriana Accorsi (PT), Isaura Lemos (PCdB) e Eliane Pinheiro (PMN) requereram, ontem, uma sessão solene em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Na solenidade, realizada no Plenário Getulino Artiaga, os deputados puderam prestar suas homenagens a mulheres goianas que realizam relevantes serviços. Cada uma delas foi condecorada com a Comenda Berenice Teixeira Artiaga. A honraria leva o nome da primeira mulher eleita deputada estadual em Goiás, no ano de 1951. Berenice Artiaga faleceu aos 96 anos de idade, em 2012, vítima de insuficiência múltipla dos órgãos.

Ao abrir a sessão especial, o presidente da Mesa Diretiva, deputado José Vitti (PSDB), deu boas-vindas aos presentes e logo passou a palavra às três parlamentares. Nesta ordem, Isaura Lemos, Adriana Accorsi e Eliane Pinheiro subiram à tribuna para discursar sobre a data e sobre a luta que as mulheres enfrentam até os dias atuais por direitos iguais.

Discursos

Durante sua fala, Isaura Lemos apresentou vários números para dar força às suas palavras. Ela destacou a pequena representação feminina na política (menor que 10%), apesar das mulheres corresponderem à maioria do eleitorado, e criticou a cultura machista conivente com a violência contra as mulheres, que faz com que o Brasil tenha a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo.

“Na política somos preteridas, apesar de representarmos a maioria do eleitorado. Entre 181 países no mundo, ocupamos a 157ª posição no que tange a participação política feminina. Perdemos até mesmo para países em que a mulher usa burca!”, exclamou Isaura, que em outro momento disse que “reclamo da participação política, mas destaco ainda que o Brasil mata mais mulheres que a Guerra da Síria. Hoje, no fim do dia, iremos contabilizar, em nível nacional, 13 mulheres assassinadas. Só hoje! Temos a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo. E mais: Goiás é o segundo estado mais violento contra as mulheres”.

Eliane Pinheiro, a segunda a subir à tribuna, destacou a origem do Dia Internacional da Mulher, que foi criado para homenagear as mulheres que morreram queimadas em uma fábrica têxtil nos Estados Unidos, em 1857. Elas trabalhavam em condições sub-humanas e não tiveram condições de fugir das chamas que se alastravam pelo local. A parlamentar ainda citou nomes de mulheres que admira, como a ex-primeira dama Ruth Cardoso, a poetisa Cora Coralina e Carolina de Jesus, que de ex-catadora de lixo se tornou uma escritora consagrada.

Por fim, Eliane Pinheiro afirmou que, apesar dos avanços, a luta feminista ainda tem um longo caminho a trilhar. “Ainda hoje a mulher recebe 30% no mercado de trabalho e uma em cada cinco mulheres brasileiras já declarou que sofreu algum tipo de violência”, afirmou ao dizer que a igualdade de gêneros deveria ser debatida todos os dias, e não somente nesta data.

Apesar de reconhecer a importância dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo da História, a deputada Delegada Adriana Accorsi, terceira a discursar, enfatizou que o gênero feminino ainda é vítima de preconceito e discriminação na sociedade brasileira.

Assim como sua colega de oposição, a deputada demonstrou indignação para com a desigualdade entre mulheres e homens no que diz respeito à participação política. “Ela é assustadora! Mesmo depois de 85 anos de voto feminino no Brasil e de 22 anos da lei que institui cotas mínimas de participação das mulheres na política, nós ainda não conseguimos quebrar esta barreira”, disse.

Adriana Accorsi ainda mencionou a luta feminista iniciada na Revolução Industrial, a discrepância salarial e de jornada de trabalho e a violência doméstica, à qual ela classificou como “o principal desafio, que a cada dia violenta, tortura, fere e devasta mulheres e meninas”.

Homenageadas

Homenageada pela deputada Isaura Lemos, a desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, Elza Cândida da Silveira, discursou em nome das mulheres que receberam a Comenda Berenice Artiaga nesta tarde. Ela destacou o importante trabalho prestado pelas mulheres notáveis da sociedade goiana, mas não se esqueceu das que chamou de mulheres anônimas. “Essas, da periferia, que servem aos homens, aos filhos e ainda apanham”, alegou.

Em sua fala Elza Cândida ainda realçou a importância da educação no lar para a quebra de preconceitos e para a formação de meninos que respeitem as mulheres, e homenageou Maria de Nazaré, mãe de Jesus, que ela disse ter sido “uma mulher completa e exemplo de mãe”. Findo o discurso, o presidente deu início à entrega das Comendas às homenageadas. Cada deputado indicou até quatro mulheres, que foram chamas à Mesa Diretora para receberem a honraria.

A cantora Mayra Lemos se apresentou, em voz e violão. Filha da deputada Isaura Lemos, Mayra entoou três canções: “Começar de novo”, de autoria de Ivan Lins, “Sangrando”, de Gonzaguinha e “Maria Maria”, escrita por Milton Nascimento.

 


Ainda hoje a mulher recebe 30% no mercado de trabalho e uma em cada cinco mulheres brasileiras já declarou que sofreu algum tipo de violência”

Eliane Pinheiro

 

 

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