Opinião

Greve Geral Internacional das Mulheres

Redação DM

Publicado em 9 de março de 2017 às 02:07 | Atualizado há 8 anos

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher me pego analisando três gerações de mulheres: a da minha mãe, a minha e a de minha filha. Quais as mudanças podem ser observadas entre avanços e desafios em aproximadamente oito décadas? Período que coincide com a conquista do direito ao voto feminino no Brasil.

As mudanças de uma geração para outra é algo inegável, refletindo na vida e na cultura de toda a sociedade. Da autonomia sobre o nosso corpo (o autoconhecimento, a liberdade de escolha, a vivência da sexualidade), às conquistas políticas e sociais como o direito ao trabalho, a educação, a participar da vida política, um grande percurso de lutas e vitórias foi percorrido.

A análise, no entanto, não consegue explicar, num olhar mais raso, o porquê da persistência de injustiças e desigualdades. O que leva o senso comum a mais uma vez culpabilizar as mulheres. É mais fácil acusar! Somos culpadas por sermos  violentadas e mortas. Somos incompetentes por não sermos remuneradas com o mesmo salário para exercermos as mesmas funções do sexo oposto. Somos responsáveis pelas famílias desestruturadas, já que não tivemos a competência de educar nossos filhos, ao mesmo tempo em que temos que nos desdobrar no trabalho da casa e da rua, para colaborar ou mesmo assumir a responsabilidade de prover a casa. Em busca de justificativas para as discrepâncias sociais, somos culpadas!

Em tempos como o que estamos vivendo, de retrocessos, de ondas conservadoras, de falso moralismo, as desigualdades evidenciam-se ainda mais e a luta por garantias de direitos que parecia desnecessária e ultrapassada, torna-se essencial e ela também se adequa e se reiventa. O oito de março deste ano veio com um chamado para uma greve geral internacional das mulheres. As feministas norte-americanas Angela Davis e Nancy Fraser assinaram um manifesto, onde defendem que as marchas das mulheres contra Trump, realizadas no último dia 21 de janeiro em diversas cidades, podem marcar o início de uma nova onda de luta feminista militante. Um feminismo anticapitalista, solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo. De acordo com o Blog Boitempo, a ideia foi  mobilizar mulheres, incluindo mulheres trans, e todos os que as apoiam num dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados; boicote e denúncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais.

Em Goiânia, mais de duas dezenas de grupos ligados aos movimentos de mulheres, feministas  e sindicais urbanos e rurais  organizaram atos que integram a ideia da greve geral internacional de mulheres, convocadas pelas feministas americanas. Junta-se a todos os protestos e reivindicações, o protesto contra a reforma da previdência que atinge drasticamente as mulheres trabalhadoras. A programação não se resumiu na paralisação do oito de março, estende-se durante o mês com oficinas, palestras, debates em escolas, empresas, sindicatos e nas ruas. A ideia é sensibilizar mulheres e homens denunciando as desigualdades e as perdas de direitos conquistados.

Oito décadas passadas e três gerações de mulheres, poderíamos nos ater ao exemplo do copo com água pela metade. Quase nada mudou? Muitas vitórias e conquistas? Eu prefiro ser otimista e pensar que as conquistas estão presentes, e que a luta faz parte da vida!

 

(Geralda Ferraz, educadora, comunicadora social e presidente da Associação Mulheres na Comunicação)

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