Política

“Não é hora para base aliada discutir nomes para eleições”

Redação DM

Publicado em 3 de março de 2017 às 01:54 | Atualizado há 8 anos

  •  Senadora e presidente estadual do PSB diz que seu partido integra a base do governo Marconi, mas sem “subserviência, com independência para concordar e para discordar de posições”

No exercício do segundo mandato ao Senado – fato inédito na história política de Goiás, Lúcia Vânia, presidente estadual do PSB diz que discutir lançamento de candidatos a governador e às duas vagas de senador, neste momento, “é um desserviço” à população. “Me nego a discutir formação de chapa majoritária da base aliada, de lançamento de candidatos, porque o momento do país é delicado, com doze milhões de trabalhadores desempregados”.

Lúcia Vânia reprova a proposta de recriação da secretaria de Habitação para ser oferecida ao PSB, especificamente à bancada do partido na Assembleia Legislativa. “Eu atuei pela aprovação da reforma administrativa do Estado. Recriar secretaria agora não tem cabimento, é um absurdo”.

A senadora revela ter conversado com o deputado estadual Lissaer Vieira – cotado para assumir a secretaria de Habitação – e apresentou a ele as razões do PSB para rejeitar a ocupação do cargo no governo Marconi. “Mostrei a ele a posição do partido, as razões pelas quais entendo não haver necessidade de se ampliar a estrutura administrativa do governo do estado”.

Ela lembra que, no auge da Operação Lava Jato, falar em distribuição de cargos para partidos é “algo muito ruim”. E acrescenta: “Acho que essa distribuição de cargos é prejudicial à vida partidária, à campanha política. O que se vê é a distribuição de cargos para pessoas, isso é muito ruim”.

Lúcia Vânia rechaça a especulação de que o PSB estaria atrás de cargo no governo Marconi para negociar uma possível presença dela na chapa majoritária de 2018, como candidata ao Senado Federal. “Quero deixar bem claro: só aceito disputar eleição para o Senado se a população e Goiás entender que o meu trabalho é útil lá no Senado da República. Caso contrário, eu não quero um lugar na chapa para ser ungida pela cúpula do partido. Eu não quero isso. Nunca fiz das minhas campanhas isso. Nunca fui ungida. Sempre busquei o meu espaço com trabalho, com dedicação.”

Questionada pelos jornalistas Rubens Salomão e Eduardo Horácio, em entrevista à rádio 730, Lúcia Vânia assegura que o PSB integra a base do governo Marconi. “Eu ajudei a construir esse governo. E não ajudei de ontem. Ajudei desde o início. Então, o PSB é base do governo, sim. Agora, ser base do governo não significa ser subserviente a tudo que o governo entende ser o melhor.”

 

 

 

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

Qual é a pespectiva do PSB para as eleições do ano que vem?

– Estamos uma fase de recadastramento dos filiados do PSB, numa fase de mostrar o perfil do partido no Congresso Nacional. Vou assumir a presidência da Comissão de Educação do Senado para definirmos o perfil que queremos para a educação no país. Estamos organizando seminários para os novos vereadores e prefeitos. Primeiro, seminário municipal, depois estadual e em seguida nacional para definir as linhas e as diretrizes do partido para as eleições de 2018.

 

A recriação da secretaria de Habitação em Goiás pelo governo de Goiás, como a senhor vê essa proposta? É um pedido do PSB, um pedido da senadora ou não?

– Eu não fui consultada sobre isso, primeiro, porque eu seria a última pessoa a querer uma nova secretaria. Eu participei ativamente do processo de recuperação da economia goiana. Acompanhei a secretária da Fazenda na ocasião, Ana Carla. Vi as noites indormidas que ela teve nas vésperas de pagar a folha dos funcionários públicos e eu jamais colaboraria para ampliar a reforma administrativa que foi feita no Estado. Eu seria a última pessoa a fazer isso. Não fui consultada. Usam o nome do PSB como se eu estivesse pleiteando uma secretaria. Mesmo porque meu trabalho não depende de nenhuma posição no governo estadual. Eu trabalho através de projeto, através de minha atuação no Senado da República. O meu objetivo é trazer, o que eu puder, de recursos, da área federal, para o estado, para os municípios e não para retirar o recurso daqui para dar respaldo partidário. Eu jamais aceitaria, em nome do PSB, uma nova secretaria de Estado para o partido. Isso não existe e, da minha parte, deixo muito claro: acho um absurdo a criação de uma nova secretaria neste momento. Apesar de termos superado as maiores dificuldades no passado, não podemos dizer que estamos em céu de brigadeiro. A situação do estado ainda é delicada. Temos ainda que trabalhar muito para acertar aquilo que foi comprometido, existem restos a pagar a terceiros, repasses a serem feitos a municípios. Temos que investir fortemente na saúde. A saúde em Goiânia é calamitosa. Esta semana estive no Ministério da Saúde para ver se conseguiríamos reativar 20 UTIs que estão paradas no Hugol e que precisam ser ativadas. Não justifica, neste momento, criar secretaria para atender partido nenhum. Acho também que essa distribuição de cargos é prejudicial à vida partidária, à campanha política. Estamos aí no pico da Lava Jato mostrando que essa distribuição de cargos a partidos é algo muito ruim. Eu não entendo que, num momento deste quando o país tem doze milhões de desempregados, ainda se falar em aumentar a estrutura administrativa.

 

O deputado estadual Lissauer Vieira confirmou o convite do governo para a criação da secretaria de Habitação. A senhora conversou com ele?

– Conversei com o deputado Lissauer Vieira e transmiti a ele a mesma posição que estou falando aqui. Ele foi realmente sondado. Eu disse a ele da minha posição e ele entendeu. Ele sabe perfeitamente que este não é o caminho para resolver o problema de falta de participação do partido na Assembleia Legislativa. A distribuição dos cargos na Assembleia Legislativa e é bom deixar muito claro para a sociedade, o parlamentar precisa realmente de uma posição dentro do Parlamento para que ele possa desempenhar bem o seu trabalho. Então, existem várias comissões em que ele pode se especializar em um assunto, ele tem um instrumento de trabalho. Então, alí é preciso que aja a distribuição proporcional para cada um dos partidos para que o deputado possa atuar no Parlamento. Agora, essa distribuição de cargos para acomodar partidos? Acho que é uma coisa muito ruim.

 

Então, o PSB não vai aceitar a secretaria de Habitação?

– O PSB estadual não aceita secretaria, não aceita recriação de secretaria. Isso é definitivo.

 

E se algum deputado, algum integrante do PSB assumir essa secretaria…

– Eu não posso de forma alguma ser autoritária nesse sentido, mas já transmiti aos deputados o meu pensamento em relação a isso. Agora, se eles acham que podem assumir, aí eu não posso interferir. Eu posso é tomar uma decisão pelo partido, sem interferir na vontade de cada um. Cada um é senhor de sua responsabilidade.

 

O certo então é manter a Agehab?

– A estrutura do governo está montada. Não há necessidade de se fazer nenhuma remodelação. O que se está fazendo é acomodação de pessoas. E essa acomodação é muito ruim. Eu não vejo necessidade de se criar secretaria para acomodar suplente da Assembleia Legislativa. Não é para melhorar a situação do estado ou tratar da habitação. A habitação (Agehab) está funcionando perfeitamente bem e isso está demonstrado ao longo do tempo. Se querem trocar as pessoas que estão lá? Os cargos pertencem ao governo, que tem toda a autonomia para colocar ou retirar as pessoas. Se acham que as pessoas que estão lá não estão correspondendo, têm todo o direito de retirar, se assim entenderem que seja melhor.

 

O deputado Lissauer Vieira disse que a base do governo na Assembleia Legislativa não irá fazer o “que quer” com o PSB e que o partido será “independente”. O PSB integra ou não a base do governo Marconi?

– O PSB é base do governo Marconi. Eu ajudei a construir esse governo. E não ajudei de ontem. Ajudei desde o início. Então, o PSB é base do governo, sim. Agora, ser base do governo não significa ser subserviente a tudo que o governo entende ser o melhor. O governo tem uma visão mais ampla, precisa de aliança com vários partidos. Então, o governo sabe o que está fazendo. Agora, compete a cada partido aceitar determinadas situações ou não. Essa é uma liberdade que o partido tem. Não é porque sou da base do governo que tenha que aceitar aquilo que acho que não está certo.

 

Com a senhora acha que o Palácio das Esmeraldas vai tratar a composição para a chapa majoritária às eleições de 2018 – governador, vice e dois senadores?

– Aí eu tenho uma diferença e as pessoas acham que sou encrenqueira, que crio muito caso. Eu fui eleita e dediquei a minha vida a esse mandato, a esses mandatos que tive. Não tenho outra atividade. Trabalho 24 horas. Não tenho férias, não vou para o exterior. Estou sempre focada no trabalho. Na minha visão, antecipar o período eleitoral, neste momento, é uma agressão aos trabalhadores que estão desempregados. A nossa função hoje é estar no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras de Vereadores ajudando a consertar essa grave situação econômica e social que estamos vivendo. O país tem doze milhões de desempregados. Enquanto não reverter essa situação, não podemos pensar em eleição. Eleição é para o próximo ano. Eu não entendo como se forma uma chapa majoritária estando no governo dois anos antes. Isso é um absurdo. A imprensa diz que existe essa movimentação do PSB por uma secretaria, sem me ouvir, porque eu quero estar na chapa majoritária. Quero deixar bem claro: só aceito disputar eleição para o Senado se a população e Goiás entender que o meu trabalho é útil lá no Senado da República. Caso contrário, eu não quero um lugar na chapa para ser ungida pela cúpula do partido. Eu não quero isso. Nunca fiz das minhas campanhas isso. Nunca fui ungida. Sempre busquei o meu espaço com trabalho, com dedicação. E é assim que eu quero. Se, porventura, o povo de Goiás, através das bases, das pesquisas, entender que o meu trabalho é importante no Senado da República, eu volto. Se não entender, eu não volto. Repito: eu não quero ser ungida, não vou ser carregada.

 

A senhora admite um projeto ao Senado fora da base aliada?

– Como eu disse, acho o período extemporâneo para se falar o que vai acontecer em relação às eleições de 2018. Temos um rio aí na frente para atravessar, para saber o que se irá articular. É preciso que os políticos entendam que estamos detectando, através da Operação Lava Jato, todos os defeitos de uma campanha antecipada, de uma campanha cara, de uma campanha em que os órgãos públicos são loteados para os partidos. Então, todos esses defeitos que estão sendo levantados têm que servidor de reflexão para aproxima eleição. É preciso lembrar que as pessoas que assistiram o que aconteceu com o mundo político estão atentas. As próximas eleições serão muito difíceis, porque a população está inquieta, desesperada, não confia mais em ninguém da classe política. O que temos que fazer, neste momento, é resgatar essa confiança da população e ir para as eleições com os mesmos vícios do passado.

 

O governador Marconi Perillo antecipou, em novembro do ano passado, que José Eliton é o candidato natural do PSDB ao governo de Goiás em 2018. Para o PSB, José Eliton está consolidado?

– Eu me nego a falar que a base aliada já tem um candidato a governador. Eu não reconheço isso. O governador Marconi Perillo tem todo o direito de ter uma visão diferente da minha. Isso é democrático. O governador acha quem não está afinado com esse posicionamento está esperneando. Eu prefiro ficar esperneando do que aceitar uma coisa pré-definida em um momento que eu considero extemporâneo.

 

A senhora poderá ser candidata a governadora?

– Eu não coloquei meu nome exatamente porque acho o momento político complicado. É preciso, em primeiro lugar, mudar a forma de se fazer campanha. Isso nós vemos resolver este ano no Congresso Nacional. É preciso avançar na reforma política. É preciso acabar com a reeleição, que é um desserviço ao país. Temos que rever as coligações proporcionais, financiamento de campanha. Tudo isso tem que ficar mais claro, para se saber se vale a pena ser candidato dentro de um processo como esse. Se for com as mesmas regras de hoje, eu não serei candidata. Se as regras eleitorais mudarem e a população entender que meu nome seria viável, não me negaria a disputar. O PSB de Goiás tem quadros, gente mais nova, que seguramente poderia ocupar esse lugar.

 

O que incomoda a senhora hoje sobre as regras eleitorais?

– Principalmente financiamento de campanha. Tem um projeto interesse que diz que a empresa que doa para um candidato de determinado partido não pode doar para o candidato adversário. O financiamento público de campanha a população já manifestou que não quer. A reeleição, sem se desincompatibilizar do governo, é um crime. O candidato, que está com a máquina do governo na mão, concorrer, é um desserviço e coloca em risco o processo democrático. É totalmente desigual se concorrer com um candidato a governador que está com a máquina do estado na mão.

 

Qual a expectativa para esses dois anos de governo Temer?

– Tenho uma boa expectativa em relação ao governo Temer, pois o ministro Henrique Meirelles está no rumo certo, está conseguindo fazer com que a economia volte a crescer. Temos um grande desafio no Congresso Nacional, que é a aprovação das reformas da Previdência, Trabalhista. Para a retomada efetiva do desenvolvimento econômico, o país precisa da aprovação desses reformas. E precisamos também aprovar algumas microrreformas que vão ajudar na redução dos juros. Enquanto não houver uma redução dos juros, não teremos a retomada do crescimento econômico. Talvez seja por termos essa carga no Congresso Nacional que eu me nego a falar em campanha agora. Temos que atravessar esse período de muitas dificuldades no país. A hora é de muito diálogo com a sociedade para que possamos promover as mudanças.

 

 


”Não fui consultada sobre recriação de secretaria da Habitação. Usam o nome do PSB como se eu estivesse pleiteando uma secretaria para assegurar candidatura ao Senado. Eu seria a última pessoa a fazer isso, porque atuei pela reforma administrativa do Estado.”

 

”Eu me nego a falar que a base aliada já tem um candidato a governador. Eu não reconheço isso. O governador Marconi Perillo tem todo o direito de ter uma visão diferente da minha. Isso é democrático”

 

 


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