Coisas de criança
Diário da Manhã
Publicado em 3 de março de 2017 às 01:27 | Atualizado há 8 anos
Vou relatar para vocês alguns fatos pitorescos, todos eles acontecidos e ligados a crianças. Espero que desfrutem.
Primeiro caso: Nosso filho tinha três anos quando chegou a casa meio decepcionado com sua professora. E logo diz:
– Mãe, você acredita que Dona Simone disse que índio é gente?!
Minha esposa lhe deu as devidas explicações e ele ficou pensativo, sem nada dizer. Depois de um bom tempo reconsiderando suas dúvidas, ele apareceu com mais uma:
– Mas aquela peninha que o índio tem na cabeça… se a gente tirar aquela peninha vai doer muito, não vai?
Segundo caso. O enfeite de berço estava mesmo encostado, mas eu e minha esposa ficamos preocupados: dos dez cachorrinhos de pano que o compunham, só restavam quatro.
– Fui eu, mamãe!, confessou nossa filha, de seis anos. Dei de presente para as coleguinhas que eu mais adoro!
Diante de tanta generosidade, nós até diminuímos o xingatório que tínhamos preparado. Mas aconteceu que, passado um tempo, eu me encontrei com uma conhecida, na rua. Ela estava acompanhada de duas sobrinhas menores. Ao me ver, a mais velha segredou ao ouvido da tia a seguinte informação:
– Tia, olha! Aquele é o pai da minha colega que vende cachorro no colégio!
Terceiro caso: Em nossa casa, nós nunca apressamos a alfabetização de nossos três filhos. Achávamos mesmo que era melhor ela ocorrer depois da hora do que antes. Aconteceu, porém, que a professora de nosso filho menor, de cinco anos, ao lhe perguntar qual era o som da primeira letra de uma longa frase, recebeu a seguinte resposta:
– Rápido, Camila, depressa, sem parar…
Ele simplesmente leu a frase inteirinha. Ao cabo de algumas investigações, descobrimos a causa: ele era o aluno mais aplicado nas aulas que nossa filha, de sete anos, dava para suas bonecas. Essa filha nos informou que a turma inteira tinha aprendido a ler, ouvindo umas músicas e fazendo uns deveres. E completou:
– A Lena agora quis entrar para a turma. Ela já está sabendo juntar as letras.
Lena era a nossa empregada doméstica.
Quarto caso: Nosso filho mais velho sempre teve uma franqueza cáustica. Suas respostas costumavam ser de arrepiar. Isso muito nos preocupava. Aos oito anos, num supermercado, ele se afastou da mãe e parou diante da lanchonete. Um senhor, que lanchava com o filho menor, vendo o olhar comprido daquele menino, ofereceu:
– Quer um pouco de refrigerante, garoto?
– Não, obrigado!
– Mas por quê?
– Meu pai não gosta que eu tome refrigerante antes do almoço.
Ali, diante de seu filho, aquele homem disse o seguinte:
– Aproveite, então! Seu pai não está vendo!
– Mas eu estou!, respondeu nosso filho.
Último caso: Levando meus filhos para a escola, dei carona para a Aninha, de cinco anos, nossa vizinha. Ela me perguntou toda entusiasmada o que tinha cara de porco e não era porco, tinha pé de porco e não era porco… Fingi que não sabia, e ela ficou satisfeitíssima ao me contar:
– É a porca!
Para testar sua capacidade de inferir, perguntei-lhe o que tinha cara de homem e não era homem, tinha pé de homem e não era homem. Se ela não soubesse, eu lhe diria que era mulher. Ela pensou, pensou e… com o rosto iluminado pela luz da sabedoria, me disse:
Anão!
(Dalmy Gama, escritor, educador e cultor de Logosofia)