Ataques à onda conservadora
Diário da Manhã
Publicado em 1 de março de 2017 às 00:46 | Atualizado há 4 meses
- Doutor em Ciências Sociais da UFG, orientando por Michael Löwy, diz que Iris Rezende não começou a governar
- Pesquisador escreve prefácio de obra e vê comparações entre 1964 e 2016, e casos de Honduras, Paraguai e Brasil
- Flávio Sofiati anuncia a ruptura da Insurgência, a criação da Comuna, que possui laços com o SU da 4ª Internacional
– Denunciar o golpe de 2016 e impedir a aprovação das reformas liberais da Previdência e Trabalhista!
É o que propõe o doutor em Ciências Sociais e professor da Universidade Federal de Goiás [UFG], Flávio Sofiati. O pesquisador, que analisa, hoje, as semelhanças e identidades entre os processos históricos nacionais de 1964 e 2016, diz que Congresso Nacional, aparato jurídico e policial do Estado, conglomerados de comunicação e classes médias conservadoras classificaram as suas intervenções e rupturas institucionais como legítimas e não como golpes.
– Os episódios em Honduras, no ano de 2009, com a queda do nacionalista que aproximava-se da ALBA, Manuel Zelaya, a deposição relâmpago de Fernando Lugo, em 2012, no Paraguai, e o impeachment de Dilma Vana Rousseff, em 2016, no Brasil, assemelham-se.
Hegemonia dos EUA
Apesar de apontar o que chama de problemas dos três governos, o sociólogo afirmam que eles resistiam à hegemonia absoluta dos Estados Unidos na América Latina. Mais: autor do prefácio de ‘Igreja e Poder’, livro a ser publicado pelo escritor Wellington Teodoro da Silva, ele cita fra¬se do médico marxista eleito em 1970, em eleições diretas e democráticas, no Chile, e que foi de-posto em um golpe civil e militar, com a participação dos EUA, liderado por Augusto Pinochet, 11 de setembro de 1973:
– O golpe de Estado civil e militar de 1964 no Brasil foi contra a América Latina…
A hegemonia do capital nos aparelhos ideológicos no Brasil, como a mídia, diz. Em tempo: o avan-ço do neopente¬costalismo, a universalização do que Marilena Chauí aponta como a cultura rea¬-cionária do espí¬ri¬to do empreendedorismo e o apelo frenético ao consumo, a adoração ao Deus Mercado e ao hedonismo seriam os motivos que explicaram a frágil resistência da socie¬dade civil à onda con¬servadora no País, à retirada de direitos e à desnacionalização da economia, vocifera.
– A formação de uma Frente Ampla de Esquerda é necessária!
Marxista insubordinado
Mesmo assim, o cientista social conceituado, orientando de Michael Löwy, um marxista insubordinado, não sabe se isso será possível. É que o Partido dos Trabalhadores [PT] e o Partido Comunista do Brasil [PCdoB], que ascenderam ao Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2013 e saíram do governo federal em 2016, teriam que realizar uma séria autocrítica. O que não se vê sinais, observa. Erros e capitulações, desabafa. Tempos sombrios esses, atira.
– O cenário em Goiás aponta para a adoção de um duro ajuste fiscal e a implantação equivocada das OSs.
Cáustico, o intelectual de esquerda ataca o prefeito de Goiânia, Iris Rezende Machado [PMDB]. Ele não começou a governar, provoca. Não disse ainda a que veio, fuzila. Não executa nem o básico de uma administração pública municipal, reclama. É preciso investigar as suspeitas de irregularidades apontadas na SMT, metralha. Flávio Sofiatti acredita que a construção de uma outra Goiânia é possível: uma cidade sem desigualdades sociais e ecologicamente sustentável.
Dissidência explosiva
– A Insurgência, fração do PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade e Socialismo criado em 2004 como alternativa à esquerda do PT e para aglutinar a esquerda independente, rachou em três.
Marxista em sua variante trotskista, seguidor, portanto, das ideias do revolucionário nascido em 7 de novembro de 1879, em Yanovka, Ucrânia, como Liev Davidoch Bronstein, ‘nom de guerre’ Leon Trotsky, e que liderou ao lado de Vladimir Ilich Ulianov, codinome Lênin, advogado de indefectível cavanhaque, a revolução socialista de outubro de 1917, na atrasada Rússia, e que atinge o seu centenário em 2017, ele anuncia a ruptura da sua tendência, uma integrante do multifacetado bloco de esquerda do PSOL.
– Ao lado de João Machado, criamos a Comuna. A facção Insurgência se manteve com o mesmo nome. Um grupo de militantes oriundos do Ceará e Rio de Janeiro não criou nome próprio ainda. Os três agrupamentos revolucionários continuam vinculados ao Secretariado Unificado da Quarta Internacional, central mundial da revolução impulsionada por anos e anos por Ernest Mandel, Daniel Bensaid, Michael Löwy e o carteiro revolucionário Olivier Besancenot
O racha é precedido por um acordo de separação, registra. A tentativa de unificação, ocorrida entre Enlace, C-Sol e grupos regionais, após as jornadas de junho de 2013, produziu convergências políticas e divergências de organização, pontua. A Comuna é liderada por João Machado [SP]. A Insurgência tem à frente José Correia Leite e Fernando ‘Tostão’. O grupo do Rio de Janeiro e do Ceará é composto, por exemplo, por Renato Roseno e Flávio Serafim.
É preciso impedir aprovação das reformas liberais da Previdência e Trabalhista!”Honduras, Paraguai e Brasilresistiam à hegemonia absoluta dos Estados Unidos na América Latina”
A Insurgência, fração do PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade e Socialismo criado em 2004 como alternativa à esquerda do PT e para aglutinar a esquerda independente, rachou em três”
Flávio Sofiati, Doutor em Ciências Sociais da UFG