Política

“Prefeitura vai recadastrar usuários do SUS”

Redação DM

Publicado em 10 de fevereiro de 2017 às 00:38 | Atualizado há 4 meses

  • Em entrevista, Iris revela ainda estar atento para a concessão à Saneago e que o município não vai descuidar desse serviço básico
  • Peemedebista diz que a sociedade precisa respaldar o governo de transição de Michel Temer para a economia voltar a crescer, com geração de emprego e renda. Ele afirma que a Operação Lava Jato precisa chegar aos Estados e municípios e é cedo para discutir eleições

O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, disse que o mote principal de mais essa sua administração será a continuidade de trabalhos que já desenvolveu em gestões passadas. Reeleito para o cargo pela terceira vez, ele revela a profunda interação sua com a Prefeitura de Goiânia e lembra dos desafios que já enfrentou em outras atividades, mas que todas mantinham estreita consideração com a gestão da capital.

Em entrevista ao Diário da Manhã, o prefeito comentou sobre o que realizou ao longo de sua trajetória política de mais de meio século e asseverou que será mais um pouco de tudo o que já fez. Para Iris, os problemas de uma cidade como Goiânia não podem ser vistos de forma isolada para não deixar que outros se acumulem. Ele falou do déficit habitacional que o persegue desde a primeira gestão no final dos anos 1960, do mandato interrompido pelo arbítrio dos militares que lhe cassaram o mandato, dos programas habitacionais que lhe renderam a fama de construtor de casas, como as vilas União, Canaã, Redenção e a mais famosa de todas, a Vila Mutirão, em que 1.000 casas foram erguidas em um só dia durante seu primeiro mandato no governo de Goiás.

Sobre medidas mais impactantes que poderá adotar nessa sua gestão, Iris deu ênfase para o cuidado com os serviços de saneamento básico e para a monumental desigualdade entre o que Goiânia atende de pacientes inscritos no Sistema Único de Saúde (SUS) e o real censo de habitantes. A capital tem uma população estimada em 1,5 milhão de habitantes e 6 milhões de inscritos no SUS e atende pacientes de 600 outros municípios, sendo que Goiás tem apenas 246. “Vamos apenas fazer cumprir a lei e fazer um recadastramento de todos os verdadeiros habitantes de Goiânia. Todos os que necessitam de tratamento médico em nossa capital terão garantidos seus direitos, mas com a inscrição no sistema único em sua cidade”, asseverou o prefeito.

 

 

A entrevista

Diário da Manhã – O que o senhor pretende realizar nessa sua gestão que ainda não tenha feito?

Iris Rezende – Eu me considero o político mais comprometido com essa cidade. Eu cheguei a Goiânia vindo de um lugar que não era uma grande cidade. Era um povoado à época chamado Gameleira, que depois se tornaria a cidade de Cristianópolis. Eu tinha 15 anos saído da zona rural. Nove anos depois, lavrador legítimo e de mãos calejadas de tudo quanto era serviço grosseiro de roça, eu sabia fazer e bem, eu fui eleito vereador mais votado até aquela época. Quatro anos depois Goiânia me elege deputado mais votado em Goiás até aquela época e três anos depois Goiânia novamente me elegeu seu prefeito, depois de ter disputado a eleição contra uma das maiores expressões políticas de Goiás daquela época que era Juca Ludovico. Se não fosse Goiânia na minha vida, Goiás não teria me conhecido politicamente. As eleições na capital me proporcionaram ser governador em Goiás. Disso decorre meu amor, minha relação íntima e meu débito com Goiânia. Então eu sempre amei essa cidade e procurei ser correto com ela em todos os meus atos públicos e privados. Procurei sempre trabalhar por Goiânia mirando longe e pensando no futuro. Hoje Goiânia é uma cidade que não convive com favelas, que é um dos grandes males que os grandes centros sofrem. Mas, deixo a modéstia de lado e digo que sempre entendi a casa própria é o primeiro item pra dar dignidade a uma família. Nesse sentido promovi programas habitacionais importantes como é do conhecimento de todos. Eu me elegi governador em 1982 conhecendo os problemas de Goiânia com profundidade. Meu primeiro gesto foi passar para um projeto gigantesco que era a construção do sistema de captação de água do [Rio] Meia Ponte, porque apenas 30% da população de Goiânia usufruía do benefício de água tratada que era do Sistema João Leite.

Isso tudo é uma mostra do quanto estive sempre integrado à vida e aos problemas de Goiânia. Pedro Ludovico planejou a cidade para 50 mil habitantes em 50 anos e com apenas 30 anos a cidade estava com 200 mil habitantes, em 2007 fizemos o terceiro Plano Diretor de Goiânia, que revelou o quanto a cidade se desenvolve de forma assustadora e supera as expectativas de todos os técnicos, o que nos leva a firmar um compromisso de fazer aquilo que a cidade precisa, entende ser necessário. Um detalhe que sobressai é o seguinte: não construíram casas nos últimos quatro anos e no dia da minha posse aqui no Paço tive notícia de que duas ou três áreas públicas estavam sendo invadidas porque ficou um vácuo na construção de casas para os pobres que chegam de fora e não têm nem como voltar para suas cidades ou seus Estados. Então, eu estou preocupado com a área da habitação, com a questão do saneamento básico, porque eu soube que estariam terceirizando o sistema de água e esgoto da Saneago em Goiânia eu reagi porque não podemos descuidar disso.

 



Se não fosse Goiânia na minha vida, Goiás não teria me conhecido politicamente. As eleições na capital me proporcionaram ser governador em Goiás. Disso decorre meu amor, minha relação íntima e meu débito com Goiânia”

 

Diário da Manhã – O senhor vê possibilidade da prefeitura reassumir os serviços de água e esgoto em Goiânia?

Iris Rezende – A prefeitura não pode ficar indiferente às questões que dizem respeito à população goianiense. Entendendo isso foi que eu reagi quando me falaram em terceirização dos serviços de saneamento de Goiânia. Eu manifestei minha insatisfação e o governador foi atencioso comigo. Eu fiz uma visita, reafirmei a ele a minha preocupação. Ele suspendeu as providências que estavam sendo tomadas e eu estou certo de que juntos nós vamos encontrar uma saída, uma solução satisfatória para essas questões. Porque a Saneago é uma concessionária da prefeitura, como as empresas do transporte coletivo. Então a prefeitura não pode ficar indiferente às ações das concessionárias naquilo que diz respeito aos interesses da população naquilo que a prefeitura tem responsabilidade direta.

Diário da Manhã – Ao final desse seu mandato atual, qual será o legado que o senhor vai deixar para a população goianiense?

Iris Rezende – Vou dar continuidade ao desenvolvimento de todos os projetos que falem diretamente aos interesses da comunidade. Na educação, por exemplo, nós não podemos descuidar. Saúde e habitação também. Já cuidados das vagas para crianças nos CMEIs e as escolas de tempo integral, porque Goiânia não para de crescer, além da grave questão da saúde. Tem um problema sério aí que eu ainda não falei e que muito nos angustia sobre a saúde. Muitos não sabem, mas o Sistema Único de Saúde é o conjunto de contribuições do governo federal, dos governos estaduais e das prefeituras. Constitucionalmente todos são obrigados a investir uma parte de seus orçamentos na saúde. Agora tem acontecido em Goiânia e vocês desconhecem totalmente isso, por ser uma cidade dotada de infraestrutura razoável em saúde pública, em particular, as pessoas vão se inscrevendo no SUS como se morassem aqui, aproveitando endereços de parentes, conterrâneos e amigos e se passando como se fossem de Goiânia. O SUS em Goiânia tem 6 milhões de inscritos para uma população de 1,5 milhão. Goiânia atende pacientes de 600 outros municípios de Goiás e de outros estados. Aqui tem até centros de hospedagem para abrigar essas pessoas que vêm para cá se tratar.

 

A refeitura não pode ficar indiferente às ações das concessionárias naquilo que diz respeito aos interesses da população, naquilo que a prefeitura tem responsabilidade direta. É o caso, por exemplo, da água tratada, do esgoto e do transporte coletivo”

 

 

Diário da Manhã – O que a prefeitura vai fazer para regulamentar isto?

Iris Rezende – Nós não vamos deixar de atender essas pessoas, de atender ninguém, mas vamos exigir que se debite para cada município aquilo que se gasta no sistema de saúde pública do SUS em benefício daquele munícipe. Vem um cidadão do interior, recebe o tratamento com exames e até medicamento, aquilo se debitou para quem se foi usado um cartão do município de Goiânia, para a Prefeitura de Goiânia. Vamos apenas exigir que se debite ao município respectivo de onde veio aquele doente, porque nós não podemos concordar com isto. É preciso tomar atitude e determinar e eu sou homem de tomar atitude. Ainda não discuti isso nem com a secretária de Saúde, mas exigir que se cumpra a lei, mais nada. No momento em que se fizer o recadastramento dos pacientes inscritos no SUS em Goiânia e aqueles que não tiverem documento para comprovar que é habitante de Goiânia, nessa hora ele próprio vai ter que chegar e dizer que é do município tal ou do estado tal e o Sistema automaticamente debita para aquele município.

Diário da Manhã – O senhor tem dito que encontrou a prefeitura em dificuldades. Qual é a realidade da administração?

Iris Rezende – O levantamento não foi feito pela minha assessoria, mas por um grupo de técnicos da administração anterior. Eu pedi ao governador a continuidade dos técnicos que estão elaborando projetos para terminar o que está sendo feito. São eles que têm esses números, mas sabemos que no final do ano passado o débito era de R$ 600 milhões e o déficit mensal é de pouco mais de R$ 30 milhões. Esse é o quadro que recebi. Mas, eu vim sabendo que a situação é de dificuldades.

Diário da Manhã – O Brasil ficou melhor após o impeachment da presidenta Dilma?

Iris Rezende – Eu sou um político amadurecido, que vou completar 60 anos de vivência política. Eu vivi eleições, mandatos, fui cassado, enfrentei ditadura, levantei a bandeira da democracia e não posso, em hipótese alguma em relação a uma pergunta tão profunda como essa, ser afoito. Não se muda um País que chegou ao ponto que estamos simplesmente com a mudança de um presidente. Nós ainda vamos ter de tomar muitas atitudes e ter paciência para instalar um processo que leve o País ao que todos nós sonhamos, porque o grande mal do Brasil foi o sentimento de aproveitamento por parte dos detentores do poder de se apropriar dos bens públicos. Isso não se criou somente com a presidenta Dilma e ela não é a única culpada, nem o Lula, mas ao longo dos tempos foi-se criando a cultura de que se erra para tirar proveito. Isso não se corta de um momento para outro. Depois que se desnudou a administração pela ação da Polícia Federal, do Ministério Público e de um juiz é que vamos acabar com isso.

Diário da Manhã – O senhor defende a manutenção da Operação Lava Jato?

Iris Rezende – Sim, e acho mais. Acho que ela tem de se estender para os Estados e municípios, em toda parte, porque a corrupção não era apenas lá, nós sabemos disso. Eu entendo que estamos vivendo um dos momentos mais importantes para encaminhar o País ao caminho que todos sonhamos. É um momento para conscientizar a população brasileira de que tudo o que aconteceu não é só dos políticos, é também da população que precisa escolher direito seus representantes.

Não só defendo a Operação Lava Jato como acho que ela tem de se estender para os Estados e municípios, em toda parte, porque a corrupção não era apenas lá, nós sabemos disso. Eu entendo que estamos vivendo um dos momentos mais importantes para encaminhar o País ao caminho que todos sonhamos”

 

Diário da Manhã – A população de Goiás acompanha com interesse esse diálogo que o senhor tem travado com o governador Marconi Perillo. Esse diálogo pode evoluir para uma parceria em 2018?

Iris Rezende – Eu sempre entendi a política institucionalmente que não se pode usar o poder para fazer oposição, precisa ser usado para servir à população. O entendimento administrativo entre poderes pode facilitar discussões políticas para épocas eleitorais, ninguém nega isso. Isso só não acontece quando a política é feita pelo ódio. O que eu nunca faria era utilizar a consciência de um povo para um projeto político pessoal.

Diário Manhã – Se o [governador] Marconi Perillo for candidato à Presidência da República ou a vice é possível um apoio do PMDB de Goiás e do prefeito de Goiânia?

Iris Rezende – Eu não gostaria de falar sobre hipóteses, isso é um mundo sem fim. Mas, eu sou goiano e tenho sentimento de goianidade, e não me colocaria contra nada que num determinado momento da minha vida fosse interessante para nosso Estado.

 

 Sou goiano e tenho sentimento de goianidade, e não me colocaria contra nada que num determinado momento da minha vida fosse interessante para nosso Estado”, referindo-se a uma possível candidatura de Marconi Perillo à presidência ou vice-presidência da República

 

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