Minicontos reflexivos
Diário da Manhã
Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 01:30 | Atualizado há 8 anos
Hoje o experimento desse texto é um misto de fabulário e miniconto. Sem a pretensão de tornar-se grandiosa forma literária, apresento mais uma tendência moderna de estilo.
O sapo e a flor
A flor era tão bela que era impossível não atrair os olhares de todos. Ao lado dela vivia um sapo enorme. Não se podia falar o mesmo do sapo. Ainda que os padrões de beleza se manifestem de forma subjetiva, ninguém admirava um sapo pela sua beleza. A flor, inclusive, deixou de ser admirada pela proximidade frequente do sapo. Certo dia, ela mandou o sapo ir embora. E ele assim o fez. A flor deixou de ser tão bela, atacada pelas formigas e insetos que o sapo comia.
O tapete da felicidade
Não havia nada de mágico no simples tapete, onde estava inscrito a palavra Bem-Vindo. Mas o trabalhador sempre tocava nele, antes de entrar em casa. E ali mentalizava despejar todos os problemas de sua vida, do trabalho, as complicações cotidianas, as frustrações e as dificuldades encontradas. Só resgatava tudo isso ao sair de casa. Ao entrar em casa, já se encontrava limpo das negatividades, sendo um dos segredos da felicidade de sua família.
Papel da confiança
O professor explicou em sala de aula que quando traímos alguém, rasgamos o papel da confiança. Quando ferimos e machucamos alguém, amassamos e sujamos o papel. Por mais que tentemos, o papel jamais voltará a ser como era. Ainda que a desculpa e o perdão atue como uma reciclagem, a formosura e o jeito intacto do papel inicial, tudo isso já não existe mais.
Vaga expansiva
Mariana não sabia estacionar seu veículo. Sempre que chegava nos lugares, acabava ocupando duas vagas. Simplesmente parava o carro e desligava o motor sem se importar de como ele havia ficado, se impedia alguma passagem, garagem ou se atrapalhasse a própria rua. A vida começou a tampar as vagas para Mariana. Não encontrava mais vagas, nem de estacionamento, nem de emprego. Os espaços já eram ocupados por outras pessoas que não se importavam com ela. Até que ele começou a aprender a estacionar. Saber parar pode ser mais importante do que dirigir!
O peso das cargas
O viajante sofria muito por carregar tanto peso desnecessário. Cada passo que dava era um sofrimento e uma dificuldade. De repente ele teve consciência de carregar o peso dos seus pensamentos negativos, da culpa e preocupação pela opinião alheia, das acusações de terceiros, da falta de otimismo. A esperança, por mais ilusória, acaba eliminando vários quilos de angústia.
Rio das almas
Caronte, o barqueiro do Hades, ao atravessar as almas no rio que divide o mundo dos mortos e dos vivos, na verdade não cobra uma moeda, ou um óbolo, ele quer saber qual o sentido, qual a diferença que aquela alma fez no mundo. Mas acabam pagando seu acúmulo material egoísta. Assim, Hades recebe mais almas do que deveria. Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, escritor)