Cotidiano

Precisamos falar sobre suicídio

Redação DM

Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 00:59 | Atualizado há 5 meses

Enquanto o suicídio segue sendo um assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente. Mais de 800 mil pessoas cometem suicídio a cada ano no mundo. No Brasil, o último dado do Ministério da Saúde mostra que em 2014 foram mais de 10.600 casos no país.

Na tarde de ontem, uma mulher tentou se jogar de uma ponte da Marginal Botafogo, na Avenida Anhanguera. Policiais militares e bombeiros conseguiram evitar a ação. Contudo, outros três casos, deste começo de ano, registrados pela mídia goiana não tiveram o mesmo fim.

Na última terça-feira, dia 7, em Goiânia, uma mulher de 38 anos e a filha, de 2, foram encontradas mortas. A Polícia Civil investiga se a mulher matou a criança e cometeu suicídio ou se houve um duplo homicídio. No dia 23 de janeiro, um homem de 47 anos matou o enteado, de 22, a tiros, baleou a ex-mulher, de 42, e depois cometeu suicídio, em Goiatuba. Um dia antes, no dia 22 de janeiro, em Itaberaí, um casal discutia quando a mulher sofreu um desmaio, deixando o marido desesperado. O homem pensou que a esposa tinha falecido e cometeu suicídio.

Segundo a coordenadora da Comissão de Combate ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, Alexandrina Meleiro, em entrevista à Agência Brasil, 98% dos indivíduos que cometeram suicídio tinham transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e dependência de drogas.

No mundo todo, o suicídio é predominante no sexo masculino, com exceção da Índia e China. No Brasil, não é diferente. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) concluiu que os homens têm 3,7 vezes mais chances de se matar que as mulheres.  De acordo com o Mapa da Violência de 2014 (mais recente), tem sido registrado um aumento no número de suicídios em todas as faixas etárias: crianças, jovens, adultos e idosos. “Os suicídios no país vêm aumentando de forma progressiva e constante: a década de 1980 praticamente não teve crescimento (2,7%); na década de 1990 o crescimento foi de 18,8%, e daí até 2012, de 33,3%”, relatou o mapa.

Dificuldades como as que vêm com a velhice, crises financeiras, solidão, fim de relacionamentos amorosos são considerados fatores de risco para o suicídio, já que funcionam como gatilho para desencadear crises dos transtornos. “Mas isso não quer dizer que quem tem transtorno vai se matar. Essa é uma condição necessária para o suicídio, mas não suficiente”, ressaltou Alexandrina.

Para a especialista, de cada dez suicídios, nove poderiam ter sido evitados com diagnóstico e tratamento corretos dos transtornos. “A maioria das pessoas, cerca de 70% delas, dá algum tipo de sinal [de que pensa em tirar a própria vida], mas muitas vezes os sinais são banalizados. Frases como: a vida não vale mais a pena; melhor morrer; queria desaparecer são sinais de alerta. Esse alerta é um pedido de ajuda comum, pois todo suicida tem uma ambivalência: ele quer morrer porque quer fugir dos problemas, mas também quer ajuda”, explicou a psiquiatra em entrevista à Agência Brasil.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, a maior parte das pessoas que pensa em cometer suicídio enfrenta uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio. O tratamento da doença é a melhor forma de prevenir.


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