Queda do investimento industrial bateu recorde
Diário da Manhã
Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 00:57 | Atualizado há 8 anos
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicou, ontem, em seu site, um alentado relatório sobre o investimento industrial no ano passado e as perspectivas para este ano. Os pesquisadores da CNU ouviram mais de 500 empresas industriais em todo o país e, com base nesta amostragem bastante ampla, inferiu que 2016 foi 2016 foi o terceiro ano consecutivo de grandes dificuldades para a indústria, o que comprometeu os planos de investimento das companhias.
Segundo o relatório, a demanda permaneceu baixa, o acesso ao crédito continuou dificultado e a ociosidade terminou o ano passado em nível recorde. A propósito disso, em sua última edição, a revista Indústria Brasileira, órgão oficial da CNI, publicou uma suculenta matéria sobre a ociosidade do setor industrial. Em termos gerais, a indústria nacional esteve operando em mais ou menos 40% de ociosidade, um índice recorde. E parece que o quadro não mudou muito.
Com efeito, se ocorre um elevado índice de ociosidade na indústria, não faz sentido investir. Investimento industrial tem por finalidade, em primeiro lugar, aumentar a produção, ampliar a oferta de bens, além, é claro, de melhorar o preço do que é oferecido.
Uma das razões para a queda do volume de produção, levando à ociosidade da capacidade instalada, é a retração violenta da demanda. O consumidor brasileiro, face à escalada inflacionária de 2015, o aumento do desemprego e o achatamento salarial, optou por simplesmente não comprar. Ou comprar apenas o básico. Quando isso ocorre, o primeiro item a ser riscado da lista de compras é o produto industrializado. O feijão não pode faltar, mas aquela calça descolada ou aquele telefone celular cheio de bossas pode esperar melhor ocasião. E o carro velho que ia ser trocado por um possante novinho, zero bala, vai levar uma boa guaribada e continuar rodando com o mesmo dono. Enfim, o momento é de incerteza de lado a lado.
A incerteza econômica foi apontada como principal razão para a frustração dos planos de investimento de 80% das empresas em 2016 e como a principal razão para a decisão de não investir em 2017 de 89% das empresas, diz a CNI. Apenas 67% das empresas investiram em 2016, 7% a menos que o registrado em 2015 e o menor desde o início da pesquisa.
Dessas empresas, apenas 40% realizaram seus planos de investimento como planejado – também o menor percentual desde 2010. A CNI não espera reversão deste quadro de crise em 2017. O percentual de empresas que pretendem investir em 2017 é 67%. A proporção é pouco maior que a registrada no final de 2015, quando 64% das empresas pretendiam investir no ano seguinte. O investimento planejado é focado principalmente em inovação de produtos e processos, visto que, em um cenário de grande ociosidade, a busca por maior competitividade aumenta. O investimento em ampliação da capacidade produtiva permanece muito baixo.
Dos que investiram, em que investiram? Segundo a CNI, 90% das empresas que investiram compraram máquinas e equipamentos (nacionais ou importados) em 2016. Em 2015, esse percentual era de 86%. Entre as empresas que realizaram esse tipo de compras em 2016, 32% afirmam que compraram somente máquinas e equipamentos nacionais, 27% compraram principalmente máquinas e equipamentos nacionais e 21% compraram igualmente máquinas e equipamentos nacionais e importados.
A CNI pesquisou ainda a inexecução dos planos de investimentos. No ano de 2016, apenas 40% das empresas que planejavam investir realizaram investimentos conforme o planejado. Esse percentual é o menor desde o início da série, em 2010, quando a realização de investimentos como o planejado ocorreu em 65% das empresas. Planos de investimentos continuam frustrados. Entre as empresas que tinham planos de investimento, 41% os realizaram apenas parcialmente; 9% adiaram para o próximo ano e 10% tiveram que cancelar ou adiar seus investimentos por tempo indeterminado.
A pesquisa da CNI joga um balde de água fria no otimismo ingênuo de parte do jornalismo econômico que vinha anunciando luzes no final do túmulo. São projeções baseadas mais numa ardora torcida para que tudo dê certo, e para que o arrocho fiscal do governo Temer funcione, do que em fatos reais.
A própria ideia de que a “confiança do investidor” voltaria a galope após o afastamento de Dilma se mostra infundada. Com efeito, o clima de instabilidade política gerado pelo processo de impeachment e a desinformação sobre qual seria a política econômica de Temer, levaram a uma queda brutal do Índice de Confiança do Empresário Industrial, medido pela CNI. Chegou a 36,5% por volta de maio, muito abaixo da média histórica de 54,1%. Nos primeiros meses pós-impeachment, o índice subiu, a confiança voltou. Chegou a 53,7%, muito próximo da média histórica, mas a partir de julho começou a cair, batendo nos 48% em dezembro. Mas voltou a subir levemente em janeiro.
Durante entrevista coletiva para divulgação do relatório, na sede da CNI, em São Paulo, Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da entidade, após anunciar os resultados da pesquisa permitiu-se um discreto otimismo em relação a este ano. Ele acha que haverá uma “ligeira melhoria”. Não fundamenta este seu otimismo parcimonioso. Mas pode-se supor que ele vem do fato de os estoques da indústria terem caído bastante.
Para a CNI é uma boa notícia o fato de os estoques da indústria terem terminado o ano abaixo do planejado, o que sugere que poderá ter aumento da produção para recompô-los. Aumento esse que poderá ser ainda mais intenso, caso sejam confirmadas as expectativas dos empresários: crescimento da demanda e da quantidade exportada nos próximos seis meses.
As empresas continuam apontando a falta de demanda como um dos principais problemas enfrentados pela indústria, assim como a elevada carga tributária, as taxas de juros e a inadimplência dos clientes. A ociosidade do parque produtivo permanece muito alta e a situação financeira das empresas continua debilitada. O acesso ao crédito segue muito difícil e a intenção de investir é muito baixa. Mas, na medida em que os estoque vão diminuindo e os preços continuam estáveis em razão da desinflação, espera-se que o consumidor retorne às lojas, desta vez para comprar. O eventual aquecimento da demanda num quadro de estoques baixos forçaria um aumento da produção.
Segundo a CNI, a produção industrial manteve-se em queda em dezembro, registrando redução pelo quarto mês consecutivo. O índice ficou em 40,7 pontos, abaixo da linha divisória de 50 pontos. Em dezembro, a manutenção do índice abaixo da linha divisória é usual: a produção industrial costuma ser menor no mês, devido tanto ao fim das encomendas para as vendas de final de ano, como a ocorrência de recessos e férias em parte da indústria.
Ressalte-se que, na comparação com outros meses de dezembro, o índice de produção de 2016 é o maior dos últimos quatro anos. O que significa dizer que a redução da atividade industrial em dezembro foi a menos intensa desde 2013. O emprego industrial também continua em queda. O índice de evolução do número de empregados, 44,7 pontos, é o menor desde julho, o que mostra queda mais intensa do emprego.
Tudo isto, é claro, será refletido no PIB de 2017. Só os escandalosamente otimistas da Fiesp acreditam que teremos um crescimento vigoroso neste ano: 0,8%. A CNI, mais modesta, estima um PIB de 0,5%. O FMI chuta 0,2%. Ninguém ousa apostar 1%. As vacas continuarão magras.