A busca por maior protagonismo internacional no governo Lula
Redação DM
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 01:05 | Atualizado há 8 anos
Em 2003, o governo Lula iniciou uma fase distinta na política externa do Brasil. Em busca de maior protagonismo internacional e por meio de uma abordagem “agressiva”, termo usado pelo próprio ex-presidente, a atuação brasileira tomou outros rumos para moldar um novo posicionamento do País no cenário internacional.
Embora com outra ênfase conceitual, algumas das iniciativas do governo, sobretudo nos primeiros dois anos, eram desdobramentos das ações já em curso na administração anterior. Apesar disso, estudiosos da política externa brasileira apontam muitas diferenças práticas com a troca de chanceler. O ex-presidente Lula afirmava que, em busca de novas parcerias, um dos focos principais consistiu em proporcionar maior autonomia e agilidade ao Itamaraty, abrir mais postos diplomáticos e fortalecer os já existentes.
Ao longo dos oito anos de governo Lula, a diplomacia tomou lugar central na política de governo e o Itamaraty ganhou destaque e prioridade na pauta da presidência da República. Enquanto alguns países, de patamar econômico similar ao do Brasil, abriam mão de apostar na projeção internacional, o Brasil esforçou-se em intensificar o diálogo por via dos fóruns multilaterais e das negociações bilaterais.
Diferentemente do governo de seu antecessor, durante o governo Lula, a diplomacia conseguiu posicionar o Brasil de maneira mais assertiva e proativa em relação às questões internacionais, mostrando um novo jeito de fazer política externa ao agregar diversos outros parceiros econômicos e políticos. Desse modo, expandiu-se o potencial econômico e diplomático do Brasil.
Um exemplo da intensificação e da mudança de abordagem na política externa é citado por Celso Amorim, um dos poucos chanceleres, na história do Brasil, a ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores por dois mandatos consecutivos. Ele denominou a política externa do governo Lula de “ativa e altiva”. Ativa, dada a presença e o engajamento do Brasil em dezenas de fóruns, encontros bilaterais e rodadas de negociação, entre outros compromissos internacionais. E, altiva, dada a postura de diálogo efetivada pela incansável ação política, a qual buscou colocar o Brasil em patamar igualitário com todas as outras nações do mundo.
O ativismo diplomático do Governo contou fortemente com o esforço pessoal do ex-presidente da República, a chamada “diplomacia presidencial”, prática tímida na gestão de muitos presidentes brasileiros, mas que foi característica marcante do governo Lula, evidenciada em centenas de viagens e visitas bilaterais do chefe de governo e de seu chanceler. Tais ações compuseram o quadro de atuação do Itamaraty no período, juntamente com a bagagem da diplomacia brasileira, que é conhecida por seu preparo substantivo.
Diferenciando-se da abordagem do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, a política externa desse período buscava dialogar e formar parcerias com países fora do Eixo Norte-Sul, articulando-se com países em desenvolvimento, porém sem abrir mão do diálogo com os Estados Unidos e a Europa. A assertiva principal de tal política externa consiste no diálogo igualitário entre todas as nações.
As parcerias com os países em desenvolvimento também ganharam caráter de coordenação política por intermédio do forte ativismo acerca do multilateralismo. O Brasil não só foi membro ativo de vários fóruns multilaterais, como também participou destacadamente da articulação de novos mecanismos de diálogo, como a Unasul, o G20, o Ibas (que posteriormente tornou-se o Brics), entre outros.
A aproximação do Brasil com a África foi marco significativo no período. Entre 2003 e 2010, foram abertos 19 postos diplomáticos brasileiros no continente, criando espaço para que empresas brasileiras investissem no setor de mineração, infraestrutura e comércio exterior, que no ano de 2008 alcançou a cifra de US$ 26 bilhões.
A forte presença do Brasil nas negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio, além do uso contínuo do sistema de resolução de controvérsias da organização, trouxe grande impacto no fluxo comercial do Brasil. Em 2003, o fluxo comercial era de quase US$107 bi e, em 2010, o resultado aproximava-se dos US$ 500 bi.
Em suma, tal abordagem na política externa, além de trazer resultados econômicos ao Brasil, ao abrir novos mercados para as commodities brasileiras, notadamente carne, soja e minério de ferro, proporcionou uma atuação abrangente e amigável em relação aos parceiros de todos os níveis econômicos.
Essa atuação diplomática resultou em um cenário internacional propenso a reconhecer o potencial do Brasil e, de certa forma, mais aberto ao diálogo e aos negócios com o País. Evidentemente que tal reconhecimento resulta de esforços acumulados por um vasto período de ação eficiente da diplomacia brasileira, mas que o ministro Celso Amorim e o presidente Lula conduziram com singular maestria.
(Najla Souza, estudante de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília)