Opinião

Silêncio é necessário

Júlio Nasser

Publicado em 9 de abril de 2017 às 23:05 | Atualizado há 8 anos

-Em um mundo que não para de falar, o silêncio realmente vale ouro.

Estamos vivendo um momento que por mais estranho que pareça, o silêncio se tornou um assunto importante e nada muito simples de ser tratado nos dias atuais. Tem sido cada vez mais difícil buscar momentos de tranquilidade justamente em um mundo que não para de falar e que tem falado cada vez mais. Em um mundo onde falamos através das redes sociais, toda hora, todo instante, seja com a boca, seja com os dedos, estamos sempre falando.

“É curioso pensar que as novas gerações que já estão sendo criadas com seus smartphones nas mãos nunca tenham, de fato, vivenciado o silencio pleno”, diz Roger Bohn, diretor do Centro da Indústria de Informação Global.

Se pararmos para pensar, é difícil lembrar a última vez que nós mesmos vivenciamos essa plena quietude.

“O silêncio está em extinção”. Diz Gordon Hempton. Ele ainda fala mais dizendo: “a modernidade é necessariamente barulhenta”. Se percebermos as coisas hoje são mais barulhentas, trocamos a toalha pelo secador, a vassoura pelo aspirador, nada está se tornando mais silencioso.

Nos dias atuais expor-se sobre tudo se tornou uma virtude. Estamos na era que toda opinião é válida, logo todo mundo quer dar sua opinião: seja nas reuniões das empresas, nas mesas de bares e agora sem censura, nas redes sociais. O sujeito reflexivo e ponderado já não é mais bem visto, “todos” precisamos demonstrar que temos uma opinião.

É o momento histórico em que vivemos, enlouquecido com a tecnologia. Empregamos a maior parte de nossas horas acordados mandando mensagens de texto, enviando e-mails, “tuitanto” e digitando em todos os tipos de telas que nossos dedos encontrarem. Todo barulho que o celular faz é importante e temos que estar atentos para não deixar passar nada, assim nos sentimos sempre conectados a tudo e todos. Tudo isso gerou uma dependência que simplesmente não conseguimos silenciar.

Nem as crianças estão livres dessa sobrecarga da tecnologia digital e ainda são preparadas para passarem o resto da vida numa reeducação permanente, que lhes permita acompanhar as novidades. Muitas crianças tem uma agenda carregada, são as aulas do dia a dia, mais aula de dança, inglês, natação, mandarim e etc. As crianças têm tantos compromissos que lhes falta tempo para brincar. Essas crianças tem se tornado seres pragmáticos, muitas com agendas mais carregadas do que seus pais.

Como educar sem pressa? Podemos desacelerar a rotina das crianças, como menos compromissos e mais tempo para fazer nada e serem crianças?

Algumas grandes empresas já tem investido nos seus colaboradores de forma inusitada; a ficarem sentados sem fazer nada e até oferecem cursos para ensiná-los como fazer isso. Diz o empreendedor francês Loïc Le Meur.

Percebemos que surge a necessidade de voltar a ler os clássicos filósofos que tanto valorizavam o ócio. Esse mesmo ócio que nos ajuda a nos tornarmos mais produtivos.

Max Picard, filósofo suíço diz que “nada mudou tanto a natureza do homem quanto a perda do silêncio. O barulho se tornou um dos nossos piores males.” Ele ainda diz: “o ritmo acelerado e ruidoso causa muitas vibrações mentais, em que é difícil manter a coerência de pensamentos. Isso aumenta o nosso ruído interno.”

Isso é percebido numa conversa do dia a dia onde já não ouvimos mais o outro, sempre temos algo a dizer quando não estamos verbalizando, estamos numa conversa interna. Não refletimos mais sobre o que o outro diz.

A falta de reflexão tem gerado um descontrole total, seja na família, entre amigos, na política, nas discussões do dia a dia, todos sofrem com isso.

O silêncio não está ligado a solidão, pois mesmo sozinhos muitas vezes vivemos em um turbilhão de ideias em um barulho constante com os nossos pensamentos.

O silêncio é uma abertura para a escuta do outro e, principalmente, de si mesmo.

 


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