Cotidiano

Dignidade negada

Redação DM

Publicado em 9 de abril de 2017 às 02:01 | Atualizado há 5 meses

Em julho de 2014, dezenas de famílias que pagavam aluguel ou não tinham lugar para morar fizeram uma ocupação em várias áreas no Jardim Novo Mundo. Desde então, o número de pessoas, que era pequeno, foi aumentando exponencialmente e hoje existem cerca de 500 famílias na região.

A área é da União e os moradores entraram na Justiça com um pedido de regularização fundiária. A Justiça Federal, que tem direito a uma parte da área, entrou com um pedido de reintegração de posse que está correndo em processo na Justiça.

No começa da ocupação, as casas eram feitas de lonas de forma precária, com o tempo, as famílias conseguiram juntar dinheiro para construir suas casas com cimento e tijolo. Mutirões são realizados pelos próprios moradores para a construção das casas. Quase cem por cento de toda área já está habitada e ‘‘consolidada’’.

ENERGIA

O morador da ocupação Ederson Almeida, de 24 anos, afirma que mora na região há dois anos e a forma que encontraram para ter energia em casa foi com a criação de ‘‘gatos’’, que, segundo ele, nunca deram problemas ou causaram qualquer tipo de acidente. Ele ressalta que mesmo com o ‘‘quebra galho’’, a regularização da energia seria de grande ajuda para todos os moradores. A falta de energia é consequência do corte que foi realizado em novembro do ano passado pela Celg.

O Diário da Manhã procurou a Celg, que declarou: ‘‘A Celg informa que por se tratar de invasão de área pública, as ligações são consideradas clandestinas, motivo pelo qual foram desativadas. Informa ainda que, parte das ligações foram feitas em edificações construídas sob uma linha de transmissão de alta tensão, o que não é permitido em função do alto risco que os moradores estão submetidos”.

Giovania do Nascimento Silva, de 32 anos, afirma que os moradores queriam pagar suas contas de energia da forma correta, mas que, devido ao corte e a falta de regularização, isso não é possível. Ela afirma que o local abriga famílias que não teriam condições de morar em outros locais se a desocupação ocorresse, já que ela e vários moradores pagavam aluguel antes da ocupação e com a construção das casas os custos mensais diminuíram.

Jeronias de Abreu Santos, que faz parte da associação dos moradores desde o início, afirma que, antes de morar na invasão, pagava aluguel. Em relação à escola para sua filha, ele diz que não tem problemas e que existem duas escolas próximas à região. ‘‘Caso a desocupação acontecesse, só Deus na causa, eu não tenho para onde ir’’, afirma Jeronias.

Em entrevista ao DM, o superintendente substituto do Patrimônio da União, Uzias Ferreira Adorno Junior, afirmou que um estudo de solo será realizado no local, já que existe um córrego ao lado, e um limite de distância deve ser respeitado, caso contrário o córrego pode oferecer risco de morte aos moradores.

A reportagem do DM foi até a ocupação para conhecer a realidade dos moradores e ver de perto o que eles passam. A situação é exatamente como os moradores falam: precária. As ‘‘ruas’’ que foram feitas pelos próprios habitantes são desniveladas e algumas formam ‘‘descidas’’, oferecendo grande dificuldades para cadeirantes.

O lixo é outro grande problema para os moradores da região, a coleta de lixo passa pelo local em apenas uma rua, fazendo com que as pessoas saiam de suas casas e andem grandes distâncias para deixar seus resíduos em uma das lixeiras que estão dispostas na rua.

As pessoas que estão na ocupação também nunca tiveram água encanada regularizada em suas residências. A alternativa que eles encontraram foi a construção de cisternas e fossas para evasão de dejetos.

As pessoas que moram perto do córrego do Buriti sofrem com o medo todos os dias, pois as chances das casas desmoronarem próximo ao córrego são enormes. Algumas partes já desmoronaram e muito entulho e lixo estão atualmente no local.

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