Opinião

Falta pão e o PT briga

Diário da Manhã

Publicado em 6 de abril de 2017 às 01:28 | Atualizado há 8 anos

Se o surrado adágio “em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão” pertence ao acervo dos portugueses, é uma teoria que ninguém contesta. Quem já chegou perto do cume da montanha na escala da vida, certamente se lembra do ditado fruto da sabedoria dos avós. Depois que a saída precoce do poder tirou boa parte dos generosos dividendos do lulopetismo, o PT amarga um salseiro imprevisível.

O misere da atualidade tirou até o imenso poder que Lula sempre exerceu sobre os destinos da sigla. Recentemente, o sofrível Senador Lindbergh Farias fingiu acatar instruções do guru mor, que sugeriu a ele abandonar a campanha pelo comando do PT em favor de sua colega Gleisi Hoffmann, para logo depois dar uma rasteira afirmando que apenas ouviu calado.

A iniciativa de Luiz Inácio tinha como finalidade aplacar o ânimo de correntes antagônicas, principalmente quem desejava que o cargo fosse ocupado pelo ex-ministro Alexandre Padilha, preservando uma necessária unidade do partido.

O problema é que as vacas hoje comem, quando isso é possível, em pasto ralo e Lula não pode mais garantir doações milionárias. O Instituto Lula, em cujas tetas muitos sugaram, se arrasta procurando sobreviver. Os empresários, antes dispostos a investir fabulosas quantias para ouvir as tiradas de efeito, piadinhas e conselhos de Lula, travestidos de palestras, se tornaram arredios aos perigos da troca favores.

Resumo da ópera: falta goma para dar liga aos conchavos tradicionais. Na babel das incertezas, os componentes da opera pós-impeachment bufam, se digladiam e ninguém é dono de razão alguma. Fato hilariante, se não fosse trágico aos destinos do partido, é que nenhum dos postulantes tem a moral que PT precisa. Farias ainda é uma espécie de Peter Pan da politiquice e, embora com os cabelos brancos, age como eterno militante estudantil à procura de uma guerra sem causa. Melhor dizendo, ele é do amálgama da causa própria. A senadora com sobrenome europeu pomposo se enrasca no rol dos bandidos mexicanos de filmes classe B. Está enrolada até um último cachecol em denúncias cabeludas de corrupção.

É uma turma, Lula incluído, em que todo mundo é japonês. Falar de moral típica dos primórdios do Partido dos Trabalhadores só é possível recorrendo a saudosos documentários. Lula manda cada vez menos, o partido se engalfinha cada vez mais e poucos vislumbram a desejada paz, em forma de consenso obedecendo ao mestre, que seria proveitosa.

Uma pergunta: por que o partido, outrora acostumado às agruras de ser oposição, está se ajeitando tão mal no conhecido figurino? A resposta que me parece óbvia é que o melado do poder foi tão doce, e de tal forma lambuzado, que deixou saudades e feridas difíceis de serem cicatrizadas. A rebeldia está apenas no início.  A síndrome do membro amputado, que faz sentir um formigamento imaginário, ainda persegue quem teve muito poder. A ilusão, que ainda lota teatros em Portugal, impede de enxergar a realidade, corrigir erros e evitar uma derrocada irreparável.

 

Rosenwal Ferreira, jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal

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