Irmãos e irmãs do Brasil e do mundo, leiam esta matéria atentamente
Redação DM
Publicado em 5 de abril de 2017 às 03:01 | Atualizado há 8 anos
“Os patriarcas, tendo inveja de José venderam-no como escravo para o Egito. Mas Deus estava com ele…”
Atos 7.9
As palavras registradas em Atos 7.9 parecem contraditórias e paradoxais. Se Deus estava com José, por que seus irmãos invejosos o venderam? Se Deus estava com José porque tornou-se uma mercadoria barata? Se Deus estava com José por que ele foi vítima da mais cruel injustiça? Por que uma coisa tão desastrosa lhe aconteceu? Por que uma tragédia tão avassaladora desabou sobre sua vida? Por que foi tão humilhado e sofreu de uma maneira tão atroz?
Que tipo de sofrimento José, esse moço de dezessete anos, está enfrentando no alvorecer de sua juventude?
Em primeiro lugar, o ódio crescente dos seus irmãos. O capítulo 37 de Gênesis registra essa crescente onda de ódio que invadiu o coração dos irmãos de José. Jacó, de forma insensata semeou a discórdia entre seus filhos, revelando preferência por José, em detrimento dos outros filhos. Um pai não deve ter predileção por um filho nem comparar um filho com outro. Jacó presenteou José com uma túnica talar de mangas compridas (Gn 37.3). Essa roupa era um símbolo, um emblema, um distintivo que distinguiu José e acendeu o ódio no coração de seus irmãos. Além do mais, a denúncia que José fazia ao pai dos pecados de seus irmãos, jogaram mais lenha na fogueira desse sentimento hostil que nutriam por ele. Se isso não bastasse os sonhos de José colocavam-no em posição de destaque e honra em relação à sua família. Esses fatores reunidos levaram os irmãos de José a odiarem-no (Gn 37.4), a odiarem-no ainda mais (Gn 37.5) e ainda tanto mais o odiavam (Gn 37.8). Por que os irmãos de José o odiaram? Por que ele fizera o que era mau?
Não, por que ele fez o bem. Por que o ódio de seus irmãos como fogo levantou labaredas mais altas? Por que José era um mau caráter? Não porque ele tinha um caráter ilibado. Por que praticva más obras? Não porque ele praticava boas obras. Estas eram as razões porque os irmãos o odiaram, o boicotaram, conspiraram contra ele, e o trataram com desdém.
Sofrer nas mãos de estranhos dói, mas sofrer nas mãos de irmãos dói profundamente. Sofrer nas mãos de deconhecidos machuca; mas sofrer nas mãos daqueles que são carne da nossa carne e sangue do nosso sangue fere profundamente o coração.
Em segundo lugar, a inveja irracional dos seus irmãos. Gênesis 37.11 fala que os irmãos de José tinham ciúmes dele. O ciúme é um percado grave. É como uma doença que se manifesta em três sintomas. O indivíduo ciumento vê o que não existe, aumenta o que existe e procura o que não quer achar. O ciúme é o desejo ilícito de ocupar o lugar do outro. Em vez dos irmãos de José imitarem suas virtudes resolveram afastá-lo de suas vidas. Em vez de seguir suas pegadas resolveram apagar as pegadas dele. Em vez de copiarem seu exemplo, resolveram matá-lo (Gn. 37.18).
Em terceiro lugar, o cruel abandono. José não foi só invejado pelos irmãos, mas também abandonado num poço, jogando-o numa cacimba. Gênesis 42.21 mostra que, José gritou, clamou por ajuda, pediu socorro para os irmãos enquanto estava no poço. Talvez tenha ficado rouco clamando por misericórdia. Enquanto seus irmãos comiam e bebiam, José clamava por socorro e chorava amargamente. Mas seus irmãos taparam os ouvidos ao clamor de José, e não o atenderam.
Em quarto lugar, o desumano tráfico humano. Seus irmãos o vendem como uma mercadoria barata, como um objeto descartável, e José aos dezessete anos, um adolescente com sonhos na alma, foi descartado pelos próprios irmãos e vendido para um país estrangeiro com coisa de pouco valor. Ele foi arrancado dos braços de seu pai, do seio de sua família, de sua casa, e passou a ter uma vida sem liberdade, sem dignidade e sem direitos. De filho predileto tornou-se escravo em terra estranha.
Em quinto lugar, um falso consolo. Gênesis 37.31 e 34 mostra que seus irmãos arquitetam uma mentira criminosa para impedir que Jacó pudesse procurar o filho. Os próprios irmãos planejam uma mentira usando a túnica (objeto da inveja) de José, embebedam-na em sangue de bode, e a enviam ao pai com um bilhete. Eles tratam da morte de José com desprezo, pois apenas madam avisar a Jacó acerca da tragédia; nem sequer param o trabalho para dar a notícia ao pai. Jacó recebe a túnica e se desespera, e sem consolo chega a conclusão de que uma fera havia matado o filho. Todos os irmãos de José dão mais um passo rumo ao colapso espiritual, quando se levantam para consolar a Jacó, encobrindo a verdade e induzindo o velho pai a desistir de procurar o filho querido.
José enfrenta lutas, adversidades e a partir daí, ele passa longos anos jogado de um lado para outro, ao sabor de fortes rajadas de ventos contrários. Chega ao Egito como escravo. Depois é revendido como um objeto descartável, que passa de mão em mão.
Ele é colocado na casa de Potifar, seu comprador. Deus o abençoa, ele se torna o mordomo da casa de seu senhor. Deus lhe dá sabedoria, inteligência e tino administrativo. Por providêncua divina José faz a casa do seu senhor prosperar, a ponto de Potifar confiar a ele toda a sua riqueza, sua fazenda, seus empregados, ou seja, toda a sua casa. Em Gênesis 39 diz que a esposa de Potifar, não tendo os mesmos princípios e valores absolutos que José tinha, começa a seduzi-lo.
Em sexto lugar, uma sedução sexual. Com um pouco mais de dezessete anos, José enfrenta uma das mais perigosas artimanhas da vida. Ele era um rapaz formoso e de boa aparência (Gn 39.6). Era um jovem inteligente e tinha espírito de liderança. Por esta causa, a mulher de Potifar, seu patrão, pôs os olhos em José e disse-lhe: “Venha, deite-se comigo!” (Gn 37.7). Talvez nos dias de hoje os psicólogos dissessem que nessa idade um jovem precisa se auto-afirmar. É o tempo da explosão dos hormônios. Outros poderiam pensar que por orgulho masculino José quisesse atender as fantasias de sua patroa. Mas José resistiu. Ele poderia racionalizar e achar até que tinha boas razões para não resistir: ele estava longe de casa; não havia ninguém que o conhecesse para cobrar-lhe algo; ele era escravo, e nem dono de si mesmo ele era. Ele sofreu uma pressão diária: “Assim, embora ela insistisse com José dia após dia, ele se recusava a deitar-se com ela e evitava ficar perto dela”. (Gn 39.10). Havia uma constância na insistência da mulher de Potifar sobre José. Foi o pecado que Sansão não conseguiu resistir, a constância diária da tentação. Mas José resistiu sem enfraquecer.
Vendo que José não cederia, a esposa de Potifar o agarra. Nessa hora José poderia ter caído, ter desistido da sua resistência, se deixado dominar. Mas ao contrário disso, ele larga a túnica na mão da mulher e foge (Gn 39.12). Ele prefere a prisão, a ter a consciência livre. Ele prefere perder a liberdade a perder a dignidade. José está disposto a enfrentar o pecado até a morte.
Porque José não cede à sedução e a pressão? Primeiro, porque ele vê que Deus tinha sido generoso com ele, que o tinha abençoado. Como ele pecaria contra esse Deus tão generoso? Leiamos as palavras de José: “…Como poderia eu,…pecar contra Deus?” (Gn 39.9). Segundo, porque Potifar havia confiado tudo a ele menos a sua mulher. Como ele trairia a confiança de seu senhor? Leiamos novamente o argumento de José: “…Ele nada me negou, a não ser a senhora dele, por que é mulher dele. Como poderia eu, então cometer algo tão perverso…?” (Gn 39.9).
Em sétimo lugar, a demora de Deus. José enfrenta uma das situações mais difíceis de administrar: a demora de Deus. Enfrentar uma pressão hoje é uma coisa, uma tentação amanhã é outra coisa. Mas quando entramos num processo de sofrimento, de prova, de vale, de deserto, de dor, e esse processo se arrasta por um longo período, de semanas, meses e até anos é bem diferente. José foi vendido por seus irmãos, arrancado da casa do seu pai, injustiçado na casa de Potifar, esquecido na prisão e este processo demorou longos treze anos.
Talvez você pudesse pensar que tenha perdido os melhores anos de sua vida, que sua juventude tenha ido embora. Não é simples quando temos que lidar com o sofrimento e, sobretudo, quando temos que lidar com a demora de Deus. Onde está Deus? Porque Ele não age? Porque Ele não responde? Porque não reverte a situação que nos aflige? Por que não nos tira do poço escuro em que nos encontramos? Por que Ele não nos liberta do cipoal em que nos encontramos? Aqui está o grande mistério da providência divina no sofrimento.
Deus não está longe, apático, nem indiferente à nossa dor. Ele vê, ouve e intervém. Ele sabe o que está acontecendo. Nenhuma circustância o apanha de surpresa. Ele não dorme nem mesmo cochila. Seus olhos estão atentos à sua vida. Ele trabalha para aqueles que Nele esperam. Ele cavalga nas alturas para a nossa ajuda. Ele luta as nossas batalhas. Ele defende a nossa causa. Ele adestra os nossos braços para a luta. Ele apruma os nossos joelhos trôpegos. Ele nos carrega nos seus braços onipotentes. Quando cruzamos os rios caudalosos e enfrentamos as fornalhas acesas, Ele caminha conosco para nos livrar. O fogo das provas queima apenas as amarras que nos prendem, mas nenhum fio de cabelo da nossa cabeça pode ser tostado sem que Ele permita.
Deus é realmente o nosso Rei dos Reis. Se nós estivermos firmes com Ele. Ele jamais nos desamparará. E, aguardem a 2ª parte deste artugi, até lá, ilustres leitores…
Essa é a verdade. A mais cristalina de todas as verdades.
(Hamilton Alves Machado, pastor, professor, advogado, teólogo, com mestrado em Teologia e articulista do Diário da Manhã)