Opinião

Uma análise sistemática sobre o amor na psicoterapia

Redação DM

Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 01:01 | Atualizado há 8 anos

È difícil para mim dizer agora a motivação e o entendimento com que entrei no campo da psicoterapia há trinta anos. Certamente queria “ajudar” as pessoas. O processo de auxiliar os outros em outros ramos da medicina envolvia tecnologia que me deixava desconfortável, e que parecia mecânico demais para o meu temperamento. Também achava conversar com pessoas mais divertido do que cutucá-las e furá-las, e os caprichos da mente humana me pareciam mais interessantes do que os caprichos do corpo ou os germes que o infestavam. Não tinha ideia de como os psicoterapeutas ajudavam as pessoas, exceto pela fantasia de que eles possuíam palavras e técnicas mágicas de interação com os pacientes que desenrolariam magicamente os nós da psique. Talvez eu desejasse ser um mágico. Tinha pouca noção de que o trabalho envolvido teria alguma coisa a ver com o crescimento espiritual dos pacientes, e certamente não tinha nenhuma idéia de que envolveria o meu próprio crescimento espiritual.

A psicoterapia não tem nenhuma razão de ser se esquivar de seu propósito maior: ensinar o ser humano a se amar para compreender o mundo e a si mesmo se fortalecer para enfrentar o mundo. O que isso quer dizer? Que todos os que desejam ter sucesso na psicoterapia devem dizer aos pacientes que os admiram? Dificilmente. Em primeiro lugar, é necessário ser sempre honesto na terapia. Em segundo lugar, a admiração e afeto devem ser verdadeiros para que surja um contato e profundidade das experiências que envolvem paciente e psicoterapeuta durante o processo terapêutico. Não podemos relacionar de maneira honesta e verdadeira sem que haja amor na relação. Portanto, não é “a consideração positiva incondicional”, nem suas palavras mágicas, técnicas ou posturas; é o envolvimento e a luta humana. É a disposição do psicoterapeuta de se esforçar ao máximo para alimentar o crescimento do paciente – disposição de se arriscar, de realmente se envolver emocionalmente no relacionamento, realmente lutar com o paciente e consigo mesmo. Resumindo, o ingrediente essencial da psicoterapia bem-sucedida, significativa e profunda é o amor.

É notável, quase incrível, que a volumosa literatura profissional do Ocidente sobre psicoterapia ignore a questão do amor. Os gurus hindus frequentemente deixam bem claro que o amor é a fonte do seu poder. Mas o mais perto desta questão a que a literatura ocidental chegou foi nos artigos que tentam analisar as diferenças entre os psicoterapeutas de sucesso e os fracassados (e são muitos), e que acabam mencionando características dos terapeutas bem-sucedidos, como “calor-humano” e “empatia”. Basicamente, parece que temos vergonha do amor. Existem diversas razões para esta situação. Uma delas é a confusão entre o amor genuíno e o amor romântico que permeia nossa cultura, assim como as outras confusões entre amor e sexo, dentre outras. Outra é a nossa inclinação a favor do racional, do tangível e mensurável na “medicina científica” que evoluiu a profissão da psicoterapia. Já que o amor é intangível, imensurável e supra-racional, ele não se presta à analise científica.

Outro motivo é a força da tradição psicanalítica na psicoterapia, do analista frio e distante, que parece derivar mais dos seguidores de Freud do que do próprio Freud. Nessa mesma tradição, qualquer sentimento de amor que o paciente possa ter pelo terapeuta são geralmente rotulados de “transferência”, e os sentimento de amor que o terapeuta tem pelo paciente são chamados de “contratransferência”, com a implicação de que esses sentimentos são anormais, uma parte do problema ao invés da solução, e devem ser evitados. Isso tudo é absurdo. Nada vejo de anormal pacientes amarem um terapeuta que realmente os escuta hora após hora sem julgá-lo, que realmente os aceita como provavelmente nunca foram aceitos, que se recusa a usá-los, e que ajuda a aliviar seus sofrimentos. De fato, a essência da transferência, em muitos casos, é que ela impede o paciente de desenvolver um relacionamento amoroso com o terapeuta, e a cura consiste em trabalhar através da transferência, de modo que o paciente possa experimentar um relacionamento amoroso bem-sucedido, muitas vezes pela primeira vez. Igualmente, não há nada de errado nos sentimentos de amor que um terapeuta desenvolve por seu paciente quando este se submete à disciplina da psicoterapia, coopera no tratamento, está disposto a aprender com o terapeuta e começa a crescer através do relacionamento. A psicoterapia intensiva é, de muitas maneiras, um processo de recuperação das figuras paternas. Não é mais inadequado para um psicoterapeuta ter sentimentos de amor por um paciente do que um bom pai ou mãe ter sentimentos de amor por uma criança. Ao contrário, é essencial que o terapeuta ame um paciente para que a terapia seja bem-sucedida e, se isso acontece, então o relacionamento terapêutico terá se tornado mutuamente amoroso. É inevitável que o terapeuta experimente sentimentos amorosos junto com o amor genuíno que demonstrou pelo paciente.

Na maior parte, a doença mental é causada por uma ausência ou defeito no amor que uma criança específica necessita receber de seus pais para um amadurecimento e crescimento espiritual bem-sucedidos. Portanto, é obvio que, para ser curado através da psicoterapia, o paciente deve receber do terapeuta pelo menos uma parte do genuíno amor de que foi privado. Se o terapeuta não amar verdadeiramente o paciente, a cura não acontece. Por mais treinado e credenciado que seja o psicoterapeuta, se ele não se estender através do amor até seus pacientes, a pratica não dará certo. Mas se um terapeuta leigo, com um mínimo de treinamento e sem nenhuma credencial, exercer uma grande capacidade para amar, ele alcançará resultados iguais aos dos melhores psicoterapeutas.

Finalmente, acredito que muito se tem ainda para compreender sobre a prática verdadeira dentro dos consultórios de psicoterapia e no meu último livro: Psicoterapia: O Despertar da Alma, busco desmistificar o verdadeiro desenvolvimento psicoterápico que se processa ao longo de meses ou anos dentro de um consultório em encontros semanais entre paciente e psicoterapeuta, pois acredito que ser psicoterapeuta é aprender a arriscar, amar muitas pessoas com honestidade, portanto o que se aprende na faculdade é quase sempre mecânico, irreal e fantasioso, pois o verdadeiro trabalho acontece ali no dia-a-dia, na relação sincera de cumplicidade entre psicoterapeuta e paciente. Qualquer relacionamento verdadeiramente amoroso é de psicoterapia mútua.

 

(Dr. José Geraldo Rabelo. Psicólogo holístico. Psicoterapeuta espiritualista. Parapsicólogo. Filósofo clínico. Artista Plástico. Prof. Educação Física. Especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo. Escritor e Palestrante. Watsapp – 984719412 – Cons. 30937133 Email: [email protected] e/ou [email protected])

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