Opinião

O céu e o inferno de Sérgio Cabral

Redação DM

Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 01:00 | Atualizado há 8 anos

O Restaurante Louis XV, localizado dentro do Hotel Paris, em Monte Carlo, é dito como o mais caro do mundo. Os poucos felizardos que o conhecem bem sabem o que é muito bom nesta vida. Os frequentadores do Louis XV têm à sua disposição a mais sofisticada adega do mundo. São mais de 400 mil garrafas. Entre suas preciosidades, constam os famosos vinhos  Chateaus Pétrus e Lafite, que estão à disposição de quem possa gastar 8.000 reais a garrafa. O restaurante mais caro do mundo tem de ter um chef à altura. E o Louis XV tem. O mais renomado chef do planeta, Alain Ducasse, comanda a cozinha do restaurante. Só frequenta o Louis XV quem tem grana, muita grana.

Foi nesse ambiente que estava o então governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, alguns de seus secretários mais próximos e o dono da Delta, Fernando Cavendish. Todos acompanhados de suas respectivas esposas. Como era o aniversário da esposa de Sérgio Cabral, nada mais justo que ele presenteasse sua consorte com um valioso anel que custou a bagatela de 800 mil reais. Seria a coisa mais natural do mundo se Fernando Cavendish não tivesse sido chamado para pagar a conta. Não foi natural porque evidenciou a face oculta do Estado, que confunde o público com o privado e a família. E assim Sérgio Cabral e sua turma viviam o paraíso aqui mesmo na Terra até que, um dia, apareceu uma imensa pedra no caminho deles: a operação Calicute da Polícia Federal. Do céu para o inferno sem purgatório. Do Hotel Paris para as celas da prisão de Bangu; da sofisticada cozinha de Alain Ducasse para o cardápio basicão da cadeia.

Habitante, na infância, da zona norte carioca, o marido de Adriana Anselmo foi subindo na política até se eleger governador. Por falta de crença, sucumbiu às tentações do poder num Brasil que se nutria da impunidade desses personagens típicos do mundo da politicagem. De origem humilde, eles adquirem, no poder, hábitos típicos de novos ricos. É a forma que encontram de preencher o vazio cultural. O dinheiro fácil originado das licitações direcionadas que levam aos superfaturamentos vai fácil. Como sofisticação não se compra, vem daí as joias caras e as bolsas de grife, como bem evidenciado no caso do ex-governador do Rio. No caso dele, coisas típicas do surrealismo aconteceram. “Fez [Sérgio Cabral] 24 viagens de turismo durante o mandato correspondente a 126 dias fora do país” aponta a Folha de São Paulo, em sua edição de 6 de janeiro. De acordo com o mesmo jornal, entre as viagens originadas de compromissos oficiais e não oficiais, Cabral ficou 343 dias, quase um ano fora do país!

O surrealismo se intensifica mais ainda ante o considerável patrimônio em joias, lancha, casa em Mangaratiba e por aí vai. A luz no fim do túnel é a mesma luz no fim do túnel da esperança que move hoje o país na direção de uma nova ordem de valores. Pessoalmente, sempre tive uma pulga atrás da orelha com essas viagens internacionais de governos e comitivas para o exterior. O fetiche de novos ricos ante os luxuosos hotéis, restaurantes e as sofisticadas lojas da deslumbrante Avenida dos Campos Elísios, em Paris, torna-se um chamariz para mandarins novos ricos no poder. Se a moda de Sérgio Cabral pega… Bem se a moda pega, certamente, não será só o ex-governador do Rio que verá o sol nascer quadrado.

 

(Salatiel Soares Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de A Construção de Goiás)

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